Nos últimos meses, Zinedine Zidane continuou a morar em Madrid. Por uma questão de rotina, por conveniência familiar, por não ter propriamente nenhum desafio até então que fosse de tal forma tentador que o levasse a assumir o comando técnico de uma equipa. Pelo meio, passava os dias em caminhadas, no ginásio e com os filhos (também eles jogadores); quando saía do país, era por ações publicitárias ou por compromissos de agenda ligados ao futebol. Nunca terá pensado em voltar ao Real mas uma tempestade como há muito não se via no clube transformou-se numa conjugação cósmica para o regresso no papel de um Dom Sebastião. E depois de muita insistência, o francês foi oficialmente apresentado no Santiago Bernabéu, com um contrato de longa duração até 2022. A conferência de imprensa será feita às 20 horas locais, menos uma em Portugal.
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A informação começou por ser veiculada no programa “Jugones” da La Sexta e já foi entretanto confirmada por muitos outros órgãos espanhóis: o treinador francês, que conquistou três Ligas dos Campeões consecutivas antes de deixar os merengues no final da última temporada, deverá ser apresentado ainda esta segunda-feira como sucessor de Santiago Solari que, de acordo com o mesmo jornal, já se terá começado a despedir dos jogadores ao longo da manhã em Valdebebas. Segundo o Sport, o plantel recebeu a notícia com surpresa, por considerar que o período sabático seria maior, mas muita satisfação.
A Direção do Real, reunida a 11 de março, decidiu terminar o contrato com Solari como treinador da equipa principal e, ao mesmo tempo, ofereceu um lugar para que continue no clube. O Real agradece o trabalho realizado por Santiago Solari e o compromisso e lealdade que sempre mostrou a esta casa. A Direção acordou também a nomeação de Zinedine Zidane como novo treinador do Real Madrid, com incorporação imediata no que resta da temporada e as próximas três, até 30 de junho de 2022″, anunciaram os merengues através de um comunicado oficial divulgado nas suas plataformas.
Depois de, numa primeira instância, os contactos da troika que lidera o futebol do Real Madrid terem falhado, Florentino Pérez (presidente), José Ángel Sánchez (diretor geral) e Emilio Butrageño (ex-glória e atual responsável pelas Relações Institucionais) conseguiram finalmente convencer o gaulês a voltar ao Santiago Bernabéu – apesar de ainda não serem conhecidos os contornos do acordo e sobretudo a solução para o principal bloqueio que estava a existir, e que passava pela reforma de um plantel que chegou ao final de um ciclo (como se percebeu ao longo da primeira época sem Cristiano Ronaldo… e Zidane). O ABC, que chama ao francês o “encantador de serpentes”, garante que será a estrutura diretiva a tratar de todas as dispensas e vendas na próxima janela de mercado, por forma a que o técnico se mantenha resguardado na relação com o balneário. O El Confidencial fala num acordo in extremis (até porque se falava com cada vez maior insistência em Zidane como sucessor de Allegri na Juve de Cristiano Ronaldo) e destaca que a outra opção em cima da mesa era José Mourinho.
Recorde-se que, depois da saída de Zidane, Florentino Pérez fez uma aposta forte no selecionador espanhol, Julen Lopetegui (o que valeu mesmo a saída do técnico em vésperas do primeiro jogo do Campeonato do Mundo, frente a Portugal), mas sem o mínimo de sucesso: a equipa foi batendo registos negativos, perdeu a Supertaça Europeia frente ao rival Atl. Madrid e começou a afastar-se do primeiro lugar no Campeonato. No final de outubro, Solari, que estava no comando da equipa B, surgiu como opção interina no Real mas conseguiu alguns triunfos que o confirmaram até ao final da época, tendo entretanto conquistado o Mundial de Clubes. No entanto, os problemas com alguns pesos pesados do balneário, que se foram arrastando durante algumas semanas, e três derrotas seguidas em casa num lapso de dez dias levaram à sua dispensa, numa fase em que os merengues estão sem qualquer objetivo desportivo a não ser a luta pelo segundo lugar da Liga.
De acrescentar que, antes de Zidane, o Real Madrid teve oito treinadores na sua história que saíram e voltaram mais tarde ao comando técnico dos blancos. O italiano Fabio Capello, que foi campeão na temporada de 1996/97, regressou uma década depois para voltar a ganhar o Campeonato e foi o último caso, depois de nomes como Jose António Camacho (que teve duas passagens curtas de menos de um mês, em 1998 e em 2004) ou Leo Beenhakker (tricampeão nacional entre 1986 e 1989, que voltou sem sucesso na época de 1991/92). Jacinto Quincoces, Baltasar Albéniz, Miguel Muñoz, Luis Molowny e Di Stéfano foram os outros exemplos, tendo maior ou menor sucesso na segunda fase, como elenca o El Español.
Campeão mundial e europeu de seleções (1998 e 2000), Zinedine Zidane chegou a Madrid em 2001, após cinco anos ao serviço da Juventus, naquela que foi a segunda grande cara do projeto dos Galácticos projetado por Florentino Pérez na primeira passagem pela presidência do clube, que começou em 2000 com a contratação de Luís Figo ao Barcelona. Nesse período, e até terminar a carreira de jogador em 2006, o francês ganhou um Campeonato, duas Supertaças, uma Liga dos Campeões (com um golo ainda hoje considerado um dos melhores de sempre em finais, diante do Bayer Leverkusen), uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental. Antes, jogara nos franceses do Cannes (onde acabou a formação) e do Bordéus.
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Regressaria quatro anos depois ao clube espanhol, então a pedido de José Mourinho, que gostava de ter o antigo camisola 10 a trabalhar no Real Madrid e com alguma proximidade com o plantel. Um ano depois, Zidane tornou-se o diretor desportivo, em 2013, quando o português deixou o comando dos merengues, passou para a equipa técnica de Carlo Ancelotti, numa altura em que o conjunto da capital espanhola conquistou mais uma Liga dos Campeões, batendo na final, em Lisboa, o Atl. Madrid após prolongamento (4-1). Quando o italiano saiu, Zizou passou para a formação do Castilla (equipa B), surgindo como treinador principal em janeiro de 2016, no seguimento da rescisão de Florentino Pérez com Rafa Benítez. E bastaram dois anos e meio para alcançar uma trajetória de sonho, com três vitórias consecutivas na Champions, além de um Campeonato, uma Supertaça, dois Mundiais de Clubes e duas Supertaças Europeias.
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Como recorda o El País, o anúncio da saída acabou por cair como uma “bomba” entre os responsáveis do Real, sobretudo por ter surgido pouco depois do triunfo na final da Liga milionária diante do Liverpool, em Kiev (3-1). Na altura, o francês justificou da seguinte forma esse abandono: “É o melhor momento porque a equipa tem de continuar a ganhar e para isso necessita de uma mudança. Sou um ganhador, não gosto de perder. Se não vejo claramente que vamos continuar a ganhar, e se não vejo as coisas claras, é melhor não continuar para não cometer erros”. “Hoje, com o Real Madrid fora de todas as competições de uma forma muito prematura, terá de explicar o que o fez mudar de opinião em relação ao final da última época”, acrescenta o jornal.
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