“Não nadar faz com que, necessariamente, o queira fazer. Mas quando volto a estar dentro de água, sinto exatamente o contrário e digo ‘nunca mais’. Existe muito sofrimento e sinto mesmo que já cumpri a minha parte. Quando alcançamos os nossos sonhos, é complicado voltar. Talvez acorde uma manhã a querer voltar, mas existe uma probabilidade de 0,5% de isso acontecer”. Em julho de 2018, há oito meses, Florent Manaudou garantia que estava a divertir-se com a “nova vida” e que isso “não tem preço”. Na altura, a entrevista ao Le Figaro servia para fazer um ponto de situação na vida do outrora campeão olímpico, que tinha colocado um ponto e vírgula na carreira dois anos antes. Agora, a pouco mais de um ano dos próximos Jogos Olímpicos, o atleta francês revelou que vai voltar à natação e confirmou que acordou mesmo, “uma manhã, a querer voltar”.
“Já tinha chegado à conclusão de que queria voltar em Paris 2024, tinha pensado em regressar aos treinos em 2021 ou 2022, Tóquio não estava nos meus planos. Com o passar do tempo, depois de falar com as pessoas à minha volta, acordei uma manhã e disse a mim mesmo: ‘Ok, estou bem. Como é que vou fazer?'”, revelou o francês de 28 anos ao L’Équipe. Florent Manaudou tinha 25 anos quando, em setembro de 2016, chocou o mundo do desporto no geral e o da natação em particular ao anunciar que ia deixar, pelo menos de forma temporária, a competição ao mais alto nível. Campeão olímpico nos 50 metros livres nos Jogos de Londres, em 2012, campeão do mundo em 2013 nas estafetas 4×100 livres e novamente campeão mundial em 2015, em 50 metros livres, estafetas 4×100 livres e ainda 50 metros mariposa, perdeu a medalha de ouro em 2016, no Rio de Janeiro, para o norte-americano Anthony Ervin e decidiu parar. Até agora.
Filho de um antigo jogador de andebol e de uma ex-campeã holandesa de badminton e irmão mais novo de um instrutor de natação e de uma nadadora olímpica — Laure, medalha de ouro nos 400 metros livres em Atenas 2004 –, dificilmente Florent escaparia à carreira no desporto. Seguiu as pisadas dos irmãos desde os quatro anos, mas aproveitou a paragem na natação para se dedicar à modalidade do pai. Durante os dois anos e meio que passou sem competir dentro de água, o atleta de quase dois metros jogou andebol no Pays d’Aix University Handball Club, um clube da quarta divisão francesa. Pelo meio, fez pequenas participações em filmes e ainda abriu um restaurante em Marselha, o La Piscine, em parceria com o vencedor da edição francesa do programa de televisão MasterChef.
“Adoraria representar o papel de alguém completamente oposto à ideia que as pessoas têm de mim. Olham para mim como o genro perfeito, um atleta que come de forma saudável, que não bebe… enquanto que eu bebo cervejas com os meus amigos! Adorava fazer de assassino em série. Não quero cingir-me ao papel de nadador, não sou só isso!”, dizia Florent Manaudou em julho do ano passado. A vontade de regressar às piscinas e à natação, além de ter aparecido numa simples manhã depois de acordar, surgiu com as saudades da adrenalina e da alegria que, segundo diz, já não tinha nos Jogos do Rio. “Diverti-me durante este tempo, mas quero voltar a competir, a ser competitivo. Quero voltar aos treinos. Sempre gostei da adrenalina. No andebol existe mais o aspeto do jogo, enquanto que, na natação, treino para ser o melhor do mundo, ganhar medalhas olímpicas, para ter o stress que me faz odiar a derrota. É por isso que quero recomeçar”, explica o francês.
Menos de três anos depois de ter decidido colocar em pausa a carreira na natação, Manaudou — que ainda é o recordista mundial dos 50 metros livres e costas — aponta agora aos Jogos Olímpicos de 2020 e 2024. Com pouco mais de um ano de treino pela frente e sem ritmo competitivo há muitos meses, será difícil para o atleta francês voltar a lutar pelas medalhas já em Tóquio. Ainda assim, os Jogos vão assistir ao regresso de um campeão olímpico que sempre foi muito mais do que o piercing na língua que o diferenciava, a enorme tatuagem tribal que o tornava único dentro de água e a aparência de estrela de cinema que lhe abriu as portas do mundo da representação.