O Relator das Nações Unidas sobre tortura afirmou esta sexta-feira estar preocupado com a possível extradição de Julian Assange para os Estados Unidos por recear que o fundador do portal WikiLeaks não beneficie de um “processo justo”.
Durante uma entrevista à agência AFP, Nils Melzer admitiu a preocupação das Nações Unidas sobre os “direitos fundamentais de Assange”, acrescentando: “Estamos muito preocupados com a maneira como eles [os direitos fundamentais] serão respeitados quando ele [Julian Assange] for eventualmente extraditado para os Estados Unidos”.
O especialista suíço adiantou que a sua principal preocupação é que Assenge “possa ser extraditado para os EUA, onde este é um caso muito politizado“, e defendeu que “devem ser exigidos padrões muito elevados para (…) que ele possa beneficiar de um processo justo”.
Melzer, que é igualmente professor de Direito Internacional, referiu também que o Equador não respeitou os “direitos processuais” do fundador da WikiLeaks, após a sua expulsão na quinta-feira da embaixada equatoriana em Londres, onde Assange se refugiou durante cerca de sete anos.
O que fizeram sete anos de prisão à saúde de Julian Assange?
Mehlzer explicou que se o fundador da WikiLeaks for extraditado será “exposto a práticas de detenção dos Estados Unidos”, e que algumas são “muito problemáticas”.
“Este é, obviamente, um caso que implica segurança nacional e os Estados Unidos, na última década, infelizmente não provaram ser um Estado seguro na interdição da tortura em casos que implicam a segurança nacional”, sublinhou.
O fundador da WikiLeaks, Julian Assange, foi na quinta-feira considerado culpado pela justiça britânica de infringir as condições da liberdade condicional, horas após ter sido detido na embaixada do Equador em Londres, onde estava refugiado há quase sete anos.
Há cerca de nove anos, o portal WikiLeaks, criado em 2006, divulgou na Internet documentos secretos do Governo dos Estados Unidos.
Julian Assange. Suécia examina reabertura do caso de suspeita de violação
Em agosto de 2012, Assange pediu asilo político naquela embaixada para não ser extraditado para a Suécia, onde era acusado de violação, num caso entretanto arquivado.
Entre julho e novembro de 2015, a organização revelou uma série de correios eletrónicos do Partido Democrata norte-americano e do então diretor de campanha da candidata Hillary Clinton, John Podesta, que indicavam que o partido estaria a beneficiar Clinton em detrimento do candidato Bernie Sanders.
Os serviços secretos afirmaram, na mesma altura, que o portal tinha recebido aqueles e outros documentos através de agentes russos.
Com 47 anos, Julie Assange foi detido devido a um mandado de extradição norte-americano por “pirataria informática”, que será analisado numa audiência judicial em 02 de maio, e a um mandado emitido em junho de 2012 pela justiça britânica por não-comparência em tribunal, um crime passível de ser punido com um ano de prisão.