O Governo pediu esta sexta-feira desculpa aos utentes afetados pelas supressões nos transportes públicos urbanos e suburbanos, avançando que está a trabalhar num plano para recuperar a CP — Comboios de Portugal para níveis que o povo “legitimamente exige”.

O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, anunciou que o “plano pretende, antes de mais, atuar sobre o curto prazo, isto é, travar a degradação de material circulante através do aumento da capacidade de resposta oficinal da empresa e do recrutamento de trabalhadores para o efeito”.

Falando no parlamento, no âmbito de um debate de urgência sobre as supressões nos transportes públicos urbanos e suburbanos, requerido pelo BE, o governante endereçou um “pedido de desculpas às pessoas cujo dia-a-dia é afetado pelas supressões nos transportes” e centrou o seu discurso na CP, admitindo falhas nas linhas ferroviárias.

Pedro Nuno Santos afirmou que em algumas linhas as “reservas são insuficientes”, pelo que há “poucos comboios de substituição prontos a entrar quando há falhas”, assim como existe “material circulante envelhecido”, que “precisa de paragens maiores de manutenção e de reparação”.

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“Os portugueses confiam nos transportes públicos no dia-a-dia para irem trabalhar, para levarem os seus filhos à escola, ou simplesmente para passear (…). Sabemos bem que é nossa obrigação servi-los com regularidade, pontualidade, qualidade e conforto. Sabemos bem que em alguns casos estamos em falta”, admitiu o ministro.

O governante avançou ainda que está a trabalhar “com o Ministério da Economia para planear novos investimentos que permitam recuperar capacidades industriais, tecnológicas e empresariais que o setor ferroviário já teve no passado” e que o Governo quer que volte “a ter no futuro”.

O ministro das Infraestruturas acrescentou que será dada “uma resposta de curto prazo”, que consiste no reforço da “contratação de trabalhadores para a EMEF [Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário] e para a CP”.

Respondendo às críticas das bancadas de direita, Pedro Nuno Santos referiu que tem “havido uma dificuldade séria na elaboração de projeto” e “também na fase de obra”, defendendo que “há razões externas, que se fossem” o PSD e o CDS-PP “a governar, também enfrentariam”.

O debate ficou também marcado pelos constrangimentos na Transtejo e na Soflusa, tendo o BE lamentado as supressões que têm ocorrido diariamente, e o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, respondido que “85% das supressões da Soflusa, ao longo deste ano, foram pela existência de greves”.

No encerramento do debate, o deputado do BE Pedro Filipe Soares defendeu que o discurso “zen” do PS “não ajuda a melhorar a relação difícil que as populações estão a ter no acesso aos serviços públicos”, sublinhando que “é preciso políticas concretas para rapidamente dar às pessoas (…) transportes públicos de qualidade a tempo e horas”.

“Se os transportes públicos (…) fossem bancos isso já estava salvo há muito tempo”, acrescentou o parlamentar.

Intervindo na sessão, Carlos Silva, pelo PSD, destacou que “o Governo acabou o ano de 2018 com o caos na ferrovia, com [comboios] alfa sem ar condicionado e comboios a deixar cair o motor na linha”, recordando que não foi o seu partido “que aprovou os orçamentos que impediram a realização das obras”.

Também o CDS-PP advogou que “o governo anterior herdou empresas de transportes fortemente endividadas” e que deixou ao atual governo “uma CP mais forte”.

Por seu turno, o deputado do PS Ricardo Bexiga acusou a anterior governação de desinvestimento em material circulante e considerou que o Governo está “a criar condições para que o transporte público seja a primeira opção”.

Por outro lado, o eleito do PCP Bruno Dias rejeitou que os constrangimentos sejam culpa dos trabalhadores e das greves, acusando o executivo de “impedir a contratação de trabalhadores”, enquanto Heloísa Apolónia, do PEV, notou que o Governo tem de dar “respostas mais céleres”, caso contrário “mais envelhecido fica o material” e “menos se consegue dar respostas às necessidades da população”.

Desde o dia 10 de maio que as ligações fluviais entre Barreiro e Lisboa têm registado várias perturbações devido à falta de mestres, situação que se mantém no dia de hoje, com várias carreiras a serem suprimidas.

O cenário piorou com a paralisação parcial de dois dias, que ocorreu no final da semana passada, e com a greve às horas extraordinárias, que se iniciou no dia 23 de maio e se deve prolongar até ao final do ano.

Está já prevista uma nova paralisação parcial, de três horas por turno, entre 03 e 07 de junho, que deve afetar as horas de ponta da manhã e tarde.