Portugal vai assinalar simbolicamente os 50 anos da missão Apollo 11, que colocou o primeiro Homem na Lua, com a inauguração em julho, em Loures, de um equipamento que simula a reentrada de naves espaciais na atmosfera terrestre.

O equipamento, um tubo de 16 metros de comprimento instalado no Laboratório de Plasmas Hipersónicos do Instituto Superior Técnico (IST), será inaugurado em 24 de julho e estará a funcionar em pleno em setembro ou outubro, disse à Lusa o investigador Mário Lino da Silva, coordenador científico do projeto. Em 24 de julho perfazem 50 anos sobre a reentrada na atmosfera terrestre da nave que levou a tripulação da Apollo 11 à Lua.

O tubo de choque, onde se gera uma onda de choque com energia equiparável à das estrelas cadentes, servirá as campanhas experimentais das missões da Agência Espacial Europeia (ESA), que financiou a infraestrutura, ao reproduzir as condições de reentrada de uma nave na atmosfera terrestre ou a sua entrada na atmosfera de outros planetas do Sistema Solar, com exceção de Júpiter.

As experiências que serão feitas servirão de balão de ensaio para a ESA otimizar o funcionamento dos veículos espaciais em futuras missões, com escudos térmicos mais eficientes, para evitar que ardam quando entram ou reentram na atmosfera planetária.

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No tubo de choque, feito em aço ultrarresistente e com um diâmetro equivalente a uma mão, gera-se uma onda de choque a partir da combustão de uma mistura de gases a uma pressão extremamente elevada, tendo como fonte de ignição impulsos laser.

Numa câmara de alta pressão, a combustão de oxigénio, hidrogénio e hélio é feita a uma temperatura de 2.500 graus Celsius e a uma pressão de 600 atmosferas. A mistura explosiva inicia uma onda de choque quando se rompe a membrana que separa a câmara de alta pressão da câmara de baixa pressão.

A onda de choque percorre o tubo a uma velocidade superior a 10 quilómetros por segundo (mais de 30 vezes a velocidade do som) e, a jusante, o gás aquecido, que atinge uma temperatura acima dos 10.000 graus Celsius (quase o dobro da temperatura à superfície do Sol), leva à formação de plasma de reentrada atmosférica (plasma hipersónico), que emite uma grande luminosidade.

A nave da Apollo 11 reentrou, em 24 de julho de 1969, na atmosfera terrestre a uma velocidade de 12 quilómetros por segundo. Uma nave entra na atmosfera de Marte entre cinco a seis quilómetros por segundo, enquanto na de Saturno, Neptuno e Urano, que são gigantes gasosos, a 20 quilómetros por segundo, precisou Mário Lino da Silva, acrescentando que todas estas velocidades podem ser reproduzidas no tubo de choque.

Júpiter é o único planeta do Sistema Solar, o maior, cuja entrada na atmosfera não é possível de simular no equipamento, porque exige uma velocidade acima das potencialidades do tubo, na ordem dos 47 quilómetros por segundo, adiantou o investigador do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, ao qual pertence o Laboratório de Plasmas Hipersónicos, assinalando que tal velocidade apenas é testada nos Estados Unidos, num tubo de choque da agência espacial norte-americana NASA, mas onde os resultados são obtidos com “mais impurezas”.

O tubo de choque do IST, único na Europa, está numa espécie de ‘bunker’, num edifício semienterrado feito com “betão reforçado para resistir a explosões”. O edifício, construído de raiz, funciona desde 2015 no Campus Tecnológico e Nuclear do IST, em Bobadela, Loures, distrito de Lisboa.

Durante dois anos foram realizados testes num protótipo, um tubo de seis metros de comprimento, e desenvolvida “uma tecnologia inovadora a nível mundial de ignição por laser”, que permitiu à equipa do IST quebrar em 2017 “um recorde de pressão”, ao atingir numa experiência uma pressão de 610 atmosferas.

O tubo de choque foi financiado pela ESA, em três milhões de euros, e a construção do Laboratório de Plasmas Hipersónicos pelo IST, em 200 mil euros. Portugal é Estado-Membro da Agência Espacial Europeia desde 2000.