Três amigos, 17 meses e 8.850 quilómetros. Esta é a história de Dong Yao-hui, Wu De-yu e Zhang Yuan-hua, que numa manhã de 1984 puseram uma mochila às costas e decidiram percorrer parte da Muralha da China – a pé.

Os “exploradores” focaram-se no percurso de oito mil quilómetros construído há 600 anos durante a Dinastia Ming. E fizeram História. A viagem não só mudou a vida dos três amigos, como também contribuiu para uma maior consideração e preservação da histórica muralha, noticia a CNN.

Dong Yao-hui tinha 25 anos quando se propôs a fazer a viagem. A ideia surgiu quando o então técnico de eletricidade trabalhava em torres perto da muralha e contemplava o monumento. “Fui desenvolvendo um interesse pela Grande Muralha. Pensava quem a teria construído, quando e porquê. Tinha todas estas questões mas na altura não haviam muitos livros sobre isto”, explicou.

O interesse de Dong Yao-hui em conhecer mais sobre o monumento passou a realidade. Depois de dois anos de preparação, iniciou com os dois amigos a travessia. Na altura, calcularam que levariam três anos a completar o percurso – mas fizeram-no em “apenas” 508 dias.

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Foi a primeira vez que os humanos caminharam toda a Grande Muralha, deixando as primeiras pegadas. Limitámo-nos a andar e a andar, tomando notas do que íamos vendo”, lembra Dong, hoje com 62 anos.

Dong Yao-hui tem hoje 62 anos e sempre lutou pela preservação da muralha

Os três “exploradores” não seguiram nenhuma mapa. Em vez disso, limitaram-se a percorrer a muralha e foram registando o percurso em papel, assim como observações do estado do monumento. As noites eram passadas nos fortes da muralha.

Depois da travessia, a equipa passou dois anos a escrever um livro chamado “A Expedição da Grande Muralha da China da Dinastia Ming”, onde relataram a experiência. E a “simples” viagem tornou-se em algo muito maior.

“Mal sabíamos nós que a viagem se tornaria no projeto de uma vida”, conta Dong. Os três começaram a alertar para o mau estado da Muralha da China. Cedo perceberam que o seu esforço não tinha sido em vão: as pessoas começaram a atribuir importância à recuperação do monumento.

Pensem só no quão cansativo foi para nós percorrer a Grande Muralha, quanto mais construí-la. Mas continuamos a destruir o monumento. Por isso, a sociedade é hoje mais civilizada? Ou mais idiota?”, lançou Dong Yao-hui.

Em 2014, o chinês fundou então a Sociedade da Grande Muralha. A entidade fez um estudo e mostrou que apenas 8.2% de todo o monumento de cerca de 20 mil quilómetros está em boas condições.

“Nestes 35 anos, o esforço para proteger a Grande Muralha aumentou de forma significativa. Antes, todas as aldeias chinesas estavam a destruir a muralha e isso nem era novidade. Hoje, os media lutam para relatar estes estragos e as pessoas condenam o mau estado de preservação. A consciencialização melhorou muito”, aponta.

O monumento começou a ser construído no século VII a.C

Devido aos seus feitos, Dong é hoje conhecido como “Filho da Grande Muralha” e é visto como uma autoridade. Quando os presidentes norte-americanos George W. Bush e Bill Clinton visitaram o local, o chinês foi designado como guia turístico oficial.

Os trabalhos de preservação e restauro da muralha começaram em 1987 – três anos depois de a expedição dos três amigos ter terminado. Nessa altura, a UNESCO definiu o monumento como Património Mundial. Desde então, a China tem aplicado várias medidas para proteger o local – que todos os anos atrai milhões de turistas.

A Grande Muralha da China começou a ser construída no século VII a.C pelo Estado de Chu, da Dinastia Zhou. Foram precisos mais de 2.500 anos para terminar a construção, que combinou esforços de vários Estados e Dinastias chinesas ao longo da História. A construção terminaria apenas em 1878, com a Dinastia Qing.

O monumento tem uma extensão total de 21,196 quilómetros. Seria preciso caminhar sem parar durante 177.016 dias para percorrer toda a sua extensão.