O Campeonato acabou há pouco mais de um mês e, fazendo o levantamento de todos os nomes que foram apontados neste período de defeso (que teve ainda a final da Taça de Portugal pelo meio), estamos perante dezenas e dezenas de nomes. Uns nunca foram hipótese, outros levaram mesmo a que fosse feita (e recusada) uma proposta, há ainda aqueles (muitos) que são sugeridos pelos próprios agentes e por fim há uma lista que naturalmente não é assim tão pequena de jogadores que estão nas bases de dados dos principais clubes e são seguidos ao longo dos anos tendo em vista uma possibilidade futura de negócio.

Javier Saviola, El Conejo formado no River Plate que chegou à Europa via Barcelona, é exemplo paradigmático disso mesmo: nos seis anos de ligação aos catalães, entre os quais foi cedido por empréstimo a Mónaco e Sevilha, e no final do vínculo com a equipa blaugrana, chegou a ser sondado por mais do que uma vez por Benfica e Sporting – assumido pelo próprio em fevereiro de 2007, ao jornal Record, ainda longe de pensar que, duas épocas depois, chegaria mesmo à Luz numa oportunidade de negócio que os encarnados não enjeitaram no primeiro ano de Jorge Jesus, juntando-se ao amigo e compatriota Pablo Aimar. Raúl de Tomás, o sucessor de João Félix nas opções atacantes de Bruno Lage, segue também esse caminho.

O avançado espanhol de 24 anos chegou nas últimas semanas a ser apontado ao FC Porto, informação que os próprios dirigentes azuis e brancos fizeram questão de negar. Antes, no verão, tinha estado na órbita do Sporting e foi por pouco que não assinou mesmo pelos leões: gorada a hipótese de garantir Lucas Pérez, avançado que estava fora das contas de Unai Emery no Arsenal (acabou por assinar pelo West Ham, estando agora garantido no Alavés), e com Slimani a exigir uma disponibilidade financeira que a SAD verde e branca não conseguia aguentar, o interesse de José Peseiro virou-se para Raúl de Tomás, há muito conhecido do técnico. No final, por ter feito a digressão pelos Estados Unidos do Real Madrid e por ter preferido ficar pela Liga espanhola, a hipótese gorou-se; agora, está a caminho do Benfica, que também antes o seu percurso identificado.

Filho de um antigo futebolista (com o mesmo nome mas conhecido por Beni, que passou por equipas modestas dos escalões inferiores) e com mãe dominicana, que se conheceram quando trabalhavam na mesma escola de condução em Espanha, o dianteiro, nascido em Madrid, começou a jogar no San Roque e mudou-se para o Real com apenas dez anos (tendo também entrado num colégio interno), percorrendo todos os escalões de formação do clube incluindo a equipa C e o Castilla com o título de juvenis pelo meio – onde foi decisivo ao marcar um dos golos na final. Em outubro de 2014, depois da primeira época completa na formação secundária e de ter feito a pré-temporada, Raúl de Tomás teve a estreia no conjunto principal liderado por Ancelotti, substituindo Benzema num encontro dos 16 avos da Taça do Rei frente ao Cornellá.

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Internacional pelas camadas jovens espanholas, o avançado foi depois emprestado nas últimas quatro temporadas, renovando pelo meio o contrato com o Real Madrid até 2023 e fazendo parte de algumas pré-temporadas da equipa merengue. A primeira experiência na Segunda Liga, pelo Córdoba, não correu da melhor forma com apenas seis golos em 27 jogos entre Campeonato e Taça do Rei, subindo a pique na época seguinte pelo Valladolid, onde marcou 15 golos em 37 partidas da Segunda Liga. Em 2017/18, Raúl de Tomás chegou ao Rayo Vallecano e foi o melhor marcador da campanha que terminou com a subida ao escalão principal do país, marcando 24 golos em 32 jogos. Também por isso, permaneceu no clube agora na Primeira Liga.

Na última temporada, o avançado estreou-se na Liga com 14 golos em 33 jogos, destacando-se as exibições com o Celta de Vigo (onde apontou mesmo um hat-trick) e com o Barcelona, em Camp Nou, num golo que correu mundo onde começou a jogada no meio-campo até terminar com um remate certeiro de fora da área. Perante a mais do que provável saída de João Félix, Raúl de Tomás foi sempre a primeira opção dos encarnados e Luís Filipe Vieira deslocou-se na segunda-feira, dia 17, a Madrid, via Faro, para fechar uma contratação que será a segunda mais cara de sempre do Benfica (20 milhões) e que, em paralelo, sela as pazes entre as águias e o Real Madrid, que tinham entrado em diferendo na sequência da saída de Garay para o Zenit.

Apesar dos incentivos de Zinedine Zidane, a sua grande referência como jogador quando era mais novo e que começou por ser seu treinador quando subiu à equipa do Castilla (o conjunto secundário dos merengues), De Tomás acabou por não vingar em Madrid com o técnico francês mas prepara-se para chegar à Luz como grande esperança do ataque encarnado e com uma curiosidade estatística que sustenta o investimento feito pelo Benfica: teve uma média maior do que João Félix, Jonas e Seferovic na última edição da Liga espanhola, a nível de dribles, duelos ganhos e passes acertados. E se as maiores curiosidades do avançado que tem nas costas R.D.T. se prendem pelo gosto por ralis e pela prática do boxe, existe uma outra que foi sempre muito destacada em Espanha por ir um pouco contra a corrente – reconhecendo a possibilidade de corrigir erros, mostrou-se contra o VAR no futebol depois de um encontro onde viu um golo seu anulado após recurso ao vídeo-árbitro.