Entre os fornecedores da indústria automóvel, a Takata sempre esteve num lugar de destaque, entre os maiores. Porém, também figurou entre os maiores no que respeita ao crime, fornecendo conscientemente equipamento defeituoso aos construtores de automóveis – nada menos do que 19 –, que acabaria por matar e estropiar centenas de condutores e passageiros. Na lista dos seus “feitos” consta ter realizado o maior recall da indústria automóvel e ter causado o maior número de vítimas.

A falência da Takata, empresa japonesa gerida por japoneses, orçou em mais de 1,5 mil milhões de euros, depois de 100 milhões de veículos terem de ser chamados às oficinas para substituir airbags defeituosos, com propensão para explodir em vez de encher, o que provocou 11 mortos e 180 feridos, entre os que formalizaram queixa, só nos EUA. No total, terão sido mais de 24 o número de mortos. Tudo isto aconteceu sem que o Governo japonês tenha tomado uma posição em relação à administração que, apesar de conhecer o problema, continuou a fornecer durante anos equipamento perigoso a construtores de automóveis nos quatro cantos do mundo.

A acção dos responsáveis governamentais e da justiça no caso Takata, comparada com o que aconteceu com Carlos Ghosn, o chairman da Nissan, preso por alegadamente não ter declarado os seus rendimentos no Japão, dá suporte a quem acuse o país de ter dualidade de critérios.

Não faltaram oportunidades para agir contra a Takata. A primeira vez que esta empresa colocou em risco a saúde pública foi entre 1986 e 1995, quando equipou 8,9 milhões de veículos com cintos de segurança defeituosos, uma vez que o botão para abrir e fechar o mecanismo era construído em plástico que não resistia aos raios ultravioletas, passando a funcionar incorrectamente. Também nesse caso, os organismos japoneses ‘assobiaram para o lado’, valendo aos utilizadores o trabalho da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), o equivalente à nossa Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, que detectou o problema, identificou a origem e obrigou ao recall. Mas os restantes países não foram tão céleres nem eficazes. Na altura, a NHTSA multou a Takata e a Honda por terem conhecimento da situação cinco anos antes e nada terem feito para proteger os utilizadores.

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A crise devida aos airbags terá começado com sistemas fornecidos em 1998, com a Honda a reconhecer que alguns dos seus modelos desse período tiveram problemas, que desde então só nos carros da marca provocaram mais de 100 feridos e 13 mortos, uma vez que às seis fatalidades registadas na Malásia se juntaram as sete nos EUA.

O módulo central do airbag, em vez de muito rapidamente (25 milissegundos) gerar o gás destinado a encher a almofada, explodia, atirando pequenos pedaços de metal a uma velocidade brutal, desfazendo tudo o que apanhava à sua frente. Para se ter uma ideia da dimensão da violência da explosão deste equipamento, quando defeituoso, é bom recordar o acidente envolvendo um camião transportando airbags novos, que se despistou no Texas, em 2016. Uma parte dos airbags explodiu, destruindo uma casa e matando uma mulher que estava no seu interior.

A Takata avançou para a falência em meados de 2017, uma vez que os custos que tinha pela frente, em chamadas à oficina e compensações, superavam o valor dos bens e da própria empresa nipónica, tendo sido vendida a um concorrente chinês por 1,6 mil milhões de dólares. Nenhum dos responsáveis pela empresa foi ‘incomodado’ pela justiça do seu país, tendo a administração se limitado a um pedido de desculpa em conferência de imprensa.

De acordo com o The Detroit News, um tribunal do Michigan anunciou o início das compensações às vítimas da Takata. A distribuição das verbas congeladas pela justiça americana à empresa japonesa vai permitir a criação de um sistema de pontos, a 64,34 dólares cada, a atribuir a cada uma das 102 vítimas que apresentaram queixa, consoante a gravidade. No total, vão ser pagos 9,8 milhões de dólares.

13% dos veículos registados nos EUA já foram alvo do recall, o que equivale a cerca de 70 milhões. Parte do acordo de falência assinado com as autoridades americanas previu o pagamento de mil milhões de dólares, em que 850 milhões se destinavam aos fabricantes, para cobrir a substituição dos airbags defeituosos, 125 milhões para as vítimas que não chegaram a acordo em separado e 25 milhões de multa.

Sabe-se hoje que ainda há mais de 20 milhões de veículos a circular equipados com airbags defeituosos da Takata, que se tornam mais perigosos à medida que o tempo passa, pois a humidade que se vai acumulando é o seu pior inimigo. Conheça aqui todos os pormenores do escândalo, num trabalho da Consumer Reports.