A antiga cidade romana de Balsa, no concelho de Tavira, voltou esta segunda-feira a ser alvo de uma campanha de escavações arqueológicas, com trabalhos de investigação programados durante os próximos três anos, foi anunciado.
O responsável científico do projeto e docente na Universidade do Algarve, João Pedro Bernardes, afirmou à Lusa que muito pouco se sabe sobre Balsa, pelo que se estabeleceu como principais intenções do projeto “perceber qual a real extensão e os limites de Balsa”, e descobrir mais sobre esta antiga cidade romana, já que muito do que foi publicado “é especulação e inventado”.
A iniciativa, denominada “Balsa, em busca das origens do Algarve”, foi apresentado na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, em Tavira, distrito de Faro.
Balsa seria um ponto de ligação à, agora, Tunísia e Andaluzia (Espanha), havendo vestígios que demonstram que terá recebido os navios que faziam a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo.
“Esta era uma zona pacífica no século I e poderá ser possível encontrar os primeiros passos da globalização no comércio existente nessa altura”, referiu João Pedro Bernardes.
No primeiro dia de trabalhos foram feitas escavações na necrópole norte, confirmando o limite norte da cidade, seguindo-se, ainda esta semana, as escavações para delimitar a zona oeste, que se pensa ser perto da ribeira da Luz — junto a Luz de Tavira — e “onde poderão existir antigas estruturas portuárias” e, possivelmente, o fórum da cidade.
Nos próximos três anos serão feitas prospeções geofísicas que permitem fazer “como que uma radiografia” dos terrenos que, depois, dará as indicações de onde deverão ser feitas as escavações.
Segue-se a compilação da informação em base de dados, a valorização do património e disseminação do conhecimento e, no futuro, atividades de educação nas escolas e com o público em geral. A criação de um polo museológico é outra das possibilidades.
As escavações decorrem em terrenos de domínio público e privados, a oeste de Tavira, numa zona especial de proteção, inicialmente estabelecida em 2011 e alargada em 2017, essencialmente “na Quinta de Torre D’Aires e noutras quintas vizinhas, ao longo da costa, onde foram encontrados vestígios”, revelou, na apresentação do projeto, Cristina Téte Garcia, da Direção Regional de Cultura do Algarve.
Balsa foi descoberta em 1876 pelo arqueólogo tavirense Estácio da Veiga, na zona da freguesia da Luz, tendo efetuado as primeiras pesquisas após relatos de achados por parte de populares.
O papel dos cidadãos na defesa desta antiga cidade portuária, que se encontrava entre Ossónoba (Faro)e Baesuris (Castro Marim), foi essencial para a sua preservação, realçou João Pedro Bernardes.
Foram as movimentações de populares, em 2016, que impediram a realização de trabalhos para a construção de estufas na zona protegida, levando a novas pesquisas com tecnologias de georradar e prospeção magnética com magnetómetro, que revelaram que, ao longo dos anos, “nem tudo tinha sido destruído”, afirmou o professor. São esses estudos que servem de base ao novo projeto de pesquisa e escavações já que se detetou “a existência de um bairro”.
Desde as primeiras escavações em 1877 pouco foi feito na pesquisa de Balsa, até que, em 1977, com os trabalhos do investigador Manuel Maia, foi possível verificar que “muito já tinha sido destruído”, salientou João Pedro Bernardes.
Com os trabalhos que se iniciaram esta segunda-feira pretende-se conhecer quais os vestígios ainda existentes e delimitar a sua área, de forma a “permitir a coexistência de outras atividades, nomeadamente a agricultura”, sustentou João Pedro Rodrigues, vereador da Câmara de Tavira.
O projeto é promovido pela Universidade do Algarve, através do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património, mas junta também a Direção Regional de Cultura e a Câmara de Tavira, na investigação, musealização e na logística, e o Centro de Ciência Viva de Tavira, responsável pela disseminação e comunicação para a comunidade científica e público em geral e escolar.