Depois da terceira derrota consecutiva em Alvalade no quinto jogo sem vitórias, de mais uma troca de treinador (neste caso, o fim da passagem como interino de Leonel Pontes, que deu lugar a Silas) e em vésperas de uma AG da SAD que promete ser mais agitada do que é normal nas reuniões magnas da sociedade verde e branca, Frederico Varandas, presidente do Sporting, esteve na SIC para uma entrevista de fundo onde iria comentar vários pontos da atualidade leonina. Ainda assim, antes desse momento, houve outros pontos que foram marcando a “vida” dos lisboetas, que atravessam uma crise de resultados desportivos com tendência a alargar-se a mais áreas.
Por um lado, o aparecimento público de dois áudios de WhatsApp feitos por Bruno Fernandes (um com pouco mais de um minuto, outro com menos de 30 segundos) que começaram a circular nas redes sociais na noite de quinta-feira e que levaram o agente do capitão leonino a condenar a divulgação descontextualizada de conversas onde o médio deixa críticas à falta de empenho de alguns jogadores. Por outro, um apelo publicado por várias figuras do clube, entre as quais Miguel Poiares Maduro, a apelar à paz mas deixando alguns recados como “Varandas terá de perceber que este não é o tempo para se comportar como um soldado numa guerra”. E houve quem dissesse que, depois do que se passou na AG do Benfica, o líder leonino deveria… cancelar a entrevista.
“Silas é o treinador escolhido para liderar este projeto. Procurámos Keizer depois de despedirmos Keizer… Até lhe vou fazer uma confidência: um treinador disse-me que gabava a paciência mas não queria aturar um clube como o Sporting, um clube de malucos. Olhe, José Mourinho elogiou o trabalho feito e ficou perplexo que, conhecendo a realidade deste clube, também ele já vítima do ruído que se instala e que não foi por causa disso. Responsabilidade minha? Sim e das duas décadas que estão para trás…”, começou por revelar o líder verde e branco.
“Tenho mão e tenho solução, não tenho é milagres. Hoje entendo bem o descontentamento genuíno, de quem vai a Alvalade e quer ver o Sporting a ganhar. Os órgãos sociais, antes de o serem, são sportinguistas. Nós sentimos o clube, estou triste e partilho isso. Uma direção se não percebe… O Sporting hoje não está onde deveria estar, não corresponde à valia do grupo. Percebo o descontentamento genuíno mas há outro premeditado e o Sporting tem de combater isso. Na partida, o Sporting tropeçou e caiu, levantou-se e tem mais 30 quilómetros pela frente porque isto é uma maratona. Este grupo é mais valioso do que o do ano passado. O Sporting estava em guerra civil, tivemos um fluxo de pagamento de 225 milhões, pagámos impostos em atraso e ao mesmo tempo fizemos duas operações financeiras decisivas para o clube, contra o tempo. Mais quatro dias e não cumpríamos o fair play financeiro, não íamos às competições europeias. Se calhar devia ter dito isso antes”, prosseguiu.
“Keizer tinha um perfil que queríamos. Em novembro de 2018 a realidade não era muito atrativa… Ganhou dois títulos mas teve dificuldades em adaptar-se ao futebol português”, justificou depois Frederico Varandas sobre a troca do holandês no comando técnico. “A máquina está a ser montada como a dos nossos rivais, montada desde o dia 1. Não é numa época que se apaga duas décadas. A grande vitória desta Direção foi evitar a falência no clube e investir na formação, não foi a Taça da Liga e a Taça de Portugal”, acrescentou depois o líder verde e branco, reconhecendo erros e garantindo que “a estrutura do futebol está montada e a funcionar bem”.
“Acha que Leonel Pontes e os jogadores têm paz para trabalhar? Para jogarem em Alvalade? Merecem não ter paz, merecem preferir jogar fora de Alvalade? Os sportinguistas sabem distinguir o protesto genuíno do premeditado, os que preferem o caos, que preferem que as coisas corram mal… O meu dever é apenas proteger o Sporting. À sexta jornada falam em contestação a Varandas mas no ano passado já havia insultos. E para mim vale zero aquelas pessoas insultarem-me ou dizerem que sou o maior, vale zero, zero. Existem minorias no Sporting que preferem o caos para gerarem a sua oportunidade, outras preferem dividir para reinar mas até são burros porque quando lá chegarem vão perceber que o clube está dez vezes pior. Nós ouvimos a bancada mas não dirigimos para a bancada”, falou sobre as guerras internas. “Bruno de Carvalho? Não é justo ser só a partir daí, são duas décadas de esqueletos, de pessoas que só aparecem nos insucessos, se calhar infelizmente é o nosso código genético…”.
“Estamos melhores financeiramente do que há um ano, estamos. Mas ainda estamos longe do que queremos. Além da formação, a própria máquina Sporting estava parada no tempo, sabemos tudo o que é necessário. Há muitas coisas que não se veem, que demoram meses… Não tenho uma varinha mágica para um miúdo de 16 anos passar a ter 21, não tenho. Vou dar tempo a toda a estrutura porque estamos a crescer”, concluiu Varandas, antes de admitir que Jovane Cabral “não tinha carta de condução mas que é uma questão interna para ser resolvida”.