O nome de Pedro Gouveia Alves deixou de ser hipótese para presidente do Banco Montepio. Foi indicado por representantes do Banco de Portugal à Associação Mutualista Montepio Geral, numa reunião na última segunda-feira, que chegou ao Banco de Portugal muito recentemente informação nova e comprometedora, cuja gravidade não abona a que Pedro Alves possa ser aprovado num processo de reavaliação de idoneidade que será aberto caso o Montepio insista na nomeação. Essa informação “nova e comprometedora” é precisamente o relatório que foi noticiado em exclusivo pelo Observador na última quinta-feira, como “o relatório que trama Pedro Alves, nomeado presidente do Montepio“.
O Observador apurou junto de duas fontes conhecedoras do processo que foi transmitido aos representantes da mutualista aquilo que pode ser transmitido nesta fase, que é que a informação nova e comprometedora é suficientemente grave para que Pedro Alves não tenha autorização do supervisor para ser presidente-executivo do banco, caso seja aberto um processo de reavaliação de idoneidade. Na sequência da notícia do Observador, fontes oficiais da Associação Mutualista Montepio Geral Montepio e do Banco Montepio garantem que o nome se mantém.
Na passada quinta-feira, o Observador noticiou que Pedro Gouveia Alves, nome escolhido por Tomás Correia e Carlos Tavares para próximo presidente do Banco Montepio, liderou em 2009 uma task force que criou uma estratégia cujo efeito prático foi mascarar rácios de crédito vencido e escondeu, de forma considerada ilícita pela auditora Deloitte, as dificuldades que o banco atravessou no início da crise económica, especificamente nos rácios de incumprimento no crédito à habitação concedido a particulares.
A auditoria da Deloitte, de 2015, que responsabilizou os administradores (Pedro Alves não era administrador), já estava no Banco de Portugal desde 2015. Mas só nos últimos dias chegou ao supervisor a apresentação powerpoint que serviu de base à estratégia comercial executada em 2009 e que comprova o envolvimento de Pedro Alves nessa iniciativa que a Deloitte criticou duramente.
Ora, o Banco de Portugal não estava na posse dessa informação (embora em 2015 pudesse ter explorado mais esse filão porque, como leu o Observador, a auditoria refere que os quadros da Deloitte que analisaram este caso tiveram acesso a uma cópia da apresentação). Mas o Banco de Portugal, até agora, só tinha a auditoria. A “informação nova e comprometedora” é a apresentação powerpoint que liga uma coisa à outra.
Aliás, fosse essa ligação conhecida há mais tempo pelo regulador — pela gravidade dos factos — e Pedro Alves poderia não ter tido a autorização para ser administrador não-executivo do banco, como é hoje, além de presidente da Montepio Crédito. Recorde-se que Pedro Alves já esteve no passado recente a tentar a nomeação para administrador executivo para estar na equipa de Carlos Tavares (presidente do conselho de administração) e Dulce Mota (presidente-executiva interina), mas acabou por apenas receber autorização para ser não-executivo.
O Observador contactou fonte oficial do Banco de Portugal, que não fez quaisquer comentários.
A reunião no Banco de Portugal — onde o banco Montepio não terá estado presente mas apenas a Associação Mutualista — aconteceu poucas horas antes da assembleia-geral da associação mutualista, onde Pedro Alves não esteve presente, sendo habitualmente uma pessoa interventiva em outras assembleias-gerais do passado.
No domingo à noite, no seu habitual espaço de comentário na SIC, Luís Marques Mendes considerou Pedro Gouveia Alves “o pior da semana”. Marques Mendes disse que “era uma provocação” que o nome de Pedro Alves estivesse a ser proposto para presidente do Banco Montepio, quando o Banco de Portugal já não o teria aceitado para administrador-executivo, por falta de idoneidade.
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Questionada esta manhã sobre se, do ponto de vista da associação mutualista, se mantinha a intenção de propor Pedro Alves como CEO, fonte oficial disse apenas que “o dr. Pedro Gouveia Alves é quadro do Banco Montepio, onde responde por um percurso profissional pautado pelo rigor, zelo e grande competência técnica e humana. Será sempre candidato natural a qualquer desafio que o grupo entenda colocar-lhe. No caso em concreto, o acionista apoiou desde a primeira hora em que foi proposto pelo PCA do Banco Montepio”.
(Notícia atualizada às 20h55 de 6 de novembro com mais dados e referência à “informação nova e comprometedora” que chegou ao Banco de Portugal e foi noticiada pelo Observador na quinta-feira, 31 de outubro)
(A primeira versão deste artigo dizia que, além de o Banco de Portugal não ter aprovado o nome de Pedro Alves, o nome teria sido retirado pela administração do Montepio como consequência da reunião de segunda-feira. A notícia foi corrigida com a informação de que o Montepio garante que mantém o nome em cima da mesa, além de complementada com resposta da Associação Mutualista sobre se mantém intenção de propôr o nome de Pedro Alves, uma resposta dada antes da notícia do Observador.)