Duas pessoas estão a ser tratadas por peste pneumónica na China, noticiou esta quarta-feira a CNN citando as autoridades do país. É a segunda vez que a doença é detetada em território chinês este ano, depois de um casal ter morrido de peste bubónica após ter consumido o rim cru de uma marmota. Em 2014, uma população chinesa foi posta em quarentena depois de uma pessoa ter morrido de peste. Os dois casos mais recentes estão a ser acompanhados em Chaoyang, um distrito de Pequim.
A peste, causadora de uma das pandemias mais devastadoras da História — a Peste Negra —, é provocada por uma bactéria chamada Yersina pestis. Quando essa bactéria entra no organismo humano, normalmente através da picada de uma pulga, instala-se num gânglio linfático. Começa aí a peste bubónica, que é a fase mais leve da doença, em que os gânglios incham e formam bubões porque a bactéria começa a reproduzir-se.
Quando deixa de ter espaço, a bactéria passa da corrente linfática para a corrente sanguínea e começa a circular pelo organismo inteiro. É a peste septicémica, a segunda fase da doença. A terceira fase, que também é a mais grave, ocorre quando a bactéria se instala nos pulmões. É a fase mais perigosa porque os antibióticos podem não ser suficientes para a combater. Além disso, torna-se mais facilmente transmissível através do espirro e da tosse.
É nesta última fase que estão os dois doentes relatados esta terça-feira na China. Nesta condição, 30% a 40% dos doentes sucumbem à doença, mesmo com tratamento. É, ainda assim, um avanço tremendo em relação ao que aconteceu nos tempos da Peste Negra. Nessa altura, quem desenvolvesse uma peste pneumónica estava praticamente condenado à morte, já que a única forma de combater esta fase é através dos antibióticos — que não existiam naqueles tempos. De qualquer modo, hoje em dia há uma agravante: é que a bactéria da peste está a tornar-se resistente aos antibióticos.
O caso chinês não é único. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, há perto de 3.250 casos de peste reportados em todo o mundo, 584 dos quais resultaram em morte. A República Democrática do Congo, Madagáscar e Peru são os países em situação mais preocupante. Os Estados Unidos também têm reportados alguns casos, inclusivamente duas mortes em 2015. A doença parecia, ainda assim, controlada. Até que a OMS lançou o alerta: afinal, só nos últimos 20 anos, 50 mil pessoas ficaram contaminadas com esta bactéria. E a peste é, afinal, uma doença reemergente.
Em Portugal, o último surto registado em Portugal foi em 1899 no Porto, quando a bactéria chegou através de uma comunidade de ratos e pulgas vindos de Macau. Luís da Câmara Pestana, um dos pioneiros da bacteriologia, era médico do Hospital de São José quando foi chamado a integrar comissão de serviço público para estudar o surto de peste no Porto. Enquanto fazia trabalho de laboratório, Câmara Pestana conseguiu isolar a bactéria mas acabou infetado por ela, tendo regressado já doente para Lisboa. Foi isolado no Hospital de Arroios, onde veio a morrer. Entretanto, Ricardo Jorge conseguiu controlar a doença. E o surto desvaneceu.