O antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho pediu ao tribunal a reconstituição da invasão à Academia do clube, em Alcochete, e arrolou 22 testemunhas, incluindo Pinto da Costa, Sousa Cintra, atletas das modalidades do clube e familiares.
A informação está na contestação enviada pelo advogado Miguel Fonseca, a que a agência Lusa teve esta quarta-feira acesso, ao coletivo de juízes, que, na segunda-feira, começa a julgar no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, os 44 arguidos, entre eles Bruno de Carvalho, acusados e pronunciados no processo do ataque à Academia, em 15 de maio de 2018.
Entre as 22 testemunhas arroladas constavam o Presidente da República e o presidente da Assembleia da República, mas o coletivo de juízes, presidido por Sílvia Pires, recusou enviar as perguntas colocadas pela defesa de Bruno de Carvalho a Marcelo Rebelo de Sousa e a Ferro Rodrigues.
“As questões formuladas pelo ora arguido não têm qualquer relevância para o apuramento dos factos constantes da pronúncia, sobre os quais, segundo o teor das próprias questões, as referidas testemunhas não têm conhecimento direto, versando sim sobre aspetos alheios ao presente processo, razão pela qual (…) não se admite que as mesmas sejam formuladas às referidas testemunhas”, justificou o coletivo de juízes.
Contactado pela Lusa, o advogado Miguel Fonseca disse que já interpôs recurso desta decisão, acrescentando que o seu constituinte vai falar em julgamento, mas, “em princípio”, só no fim do mesmo, quando a produção de prova estiver concluída.
O coletivo de juízes admitiu as outras 20 testemunhas arroladas pelo ex-líder do clube ‘leonino’, entre elas estão o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, o antigo presidente do Sporting Sousa Cintra e atletas ou ex-atletas das modalidades do clube, casos de Ângelo Girão e João Pinto (hóquei em patins), Miguel Maia (voleibol), Carlos Carneiro (andebol) e Jorge Fonseca (judo).
A defesa de Bruno de Carvalho arrolou ainda como testemunhas Carlos Vieira e Alexandre Godinho, elementos do conselho de administração por si presidido, e Nuno Saraiva, à data dos factos diretor de comunicação do Sporting.
O médico Eduardo Barroso, o pai e a irmã de Bruno de Carvalho são outras das testemunhas arroladas, além do perito José Manuel Anes.
Sobre a reconstituição do ataque à Academia, o advogado Miguel Fonseca diz tratar-se de um elemento essencial de prova. “Analisada a prova junta aos autos referente ao sistema CCTV [circuito de videovigilância] da Academia do Sporting, torna-se por de mais evidente que não existem quaisquer imagens do seu interior da zona dos balneários/vestiários – área profissional. Ou seja, ninguém sabe o que se passou após a passagem das portas de vidro que se veem na câmara com endereço 22. E é aí que alegadamente se terão praticado 98 crimes”, refere a contestação.
Nesse sentido, o advogado requer que o coletivo de juízes “determine a mais que pertinente reconstituição, para se apurar quem terá feito exatamente o quê”, lê-se no documento, de 72 páginas.
A contestação reitera que Bruno de Carvalho é inocente e que deve ser absolvido, pedindo que o tribunal considere nulas “todas as perícias juntas aos autos”.
O julgamento pertence ao Tribunal de Almada, mas por “questões de logística e de segurança” realiza-se em Monsanto.
Bruno de Carvalho, Nuno Mendes (Mustafá), líder da claque Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos, estão acusados e pronunciados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e Mustafá também por um crime de tráfico de estupefacientes.
Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à Academia, o MP imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.