O galardão atribuído pela Anti-Defamation League premeia “indivíduos excecionais que combinam sucesso profissional com um profundo envolvimento pessoal na vida da comunidade”, para não falar das “mensagens de diversidade e igualdade que atravessem barreiras”. E se há palavras que dificilmente ficarão circunscritas às fronteiras da entrega do prémio são as do seu recipiente, Sacha Baron Cohen, que esta quinta-feira atacou duramente as redes sociais.

“Se lhe pagarem, o Facebook vai permitir qualquer anúncio político que queiram, mesmo que seja mentira. E vai ainda ajudar-vos a refinar o alvo para maximizar o mais possível o efeito das mentiras”, acusou o ator britânico durante o seu discurso de agradecimento. “Com esta lógica distorcida, se existisse Facebook nos anos 30, teria deixado o Hitler partilhar anúncios sobre a  sua ‘solução’ para o ‘problema dos judeus'”, acrescentou.

A sua crítica intervenção, a partir de Nova Iorque, surge cerca de um mês depois de Mark Zuckerberg ter defendido a posição da empresa por si fundada, a de não banir os anúncios de conteúdo político mesmo que contenham falsidades.

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O eterno Borat, ou Ali G, duas das inúmeras personagens a que deu vida, defendeu ainda ser tempo de “uma reflexão fundamental sobre o papel das redes sociais e como estas ajudam a disseminar o ódio, as teorias da conspiração e a mentira. Para mais uma farpa, Cohen questionou ainda o responsável pelo Facebook sobre a sua caracterização do mesmo enquanto um bastião da “liberdade de expressão”.

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Com as empresas tecnológicas debaixo de fogo no que se toca ao seu papel nas campanhas políticas, o dedo de Sacha esticou-se também na direção da Google, do Twitter (que anunciou em outubro a intenção de banir este tipo de conteúdo globalmente a partir de 22 de novembro) e do YouTube por veicularem  “absurdos a milhões de pessoas”.

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“Através dos seus alter egos, muitos dos quais representando figuras anti-semitas, racistas e neo nazis, Baron Cohen conseguiu iluminar zonas ocupadas pela ignorância e pelo preconceito”, definiu a Anti-Defamation League, organização não governamental judaica, fundada em 1913, nos EUA, de combate ao ódio e anti-semitismo, justificando assim a escolha do nome para este troféu na área da liderança.

Sobre as afirmações de Sacha Baron Cohen, um porta-voz do Facebook fez chegar entretanto ao Observador um comentário da parte da rede social: “Sacha Baron Cohen interpretou e descreveu de forma errada as políticas do Facebook. O discurso de ódio encontrado na nossa plataforma é, na verdade, banido. Expulsamos pessoas que defendam a violência e fazemos o mesmo com quem quer que a apoie. Ninguém — incluindo políticos — pode fazer a apologia do ódio, da violência ou de assassínio em massa no Facebook”, defende a empresa.

Este artigo foi atualizado a 25 de novembro com o comentário oficial do Facebook