A Academia de Belas Artes, integrante do Instituto de França, atribuiu esta tarde de quarta-feira o Grande Prémio de Arquitetura a Álvaro Siza, numa cerimónia em que o arquiteto português esteve ausente, mas a sua obra e o seu “humanismo” foram celebrados.

Debaixo da cúpula onde há cerca de um mês Álvaro Siza falou aos membros da Academia de Belas Artes do Instituto de França, foi-lhe oficialmente atribuído esta tarde o Grande Prémio de Arquitetura Charles Abella, no valor de 35 mil euros. Apesar de não ter marcado presença, o arquiteto português foi relembrado através das imagens dos seus edifícios, entre os quais o do Pavilhão de Portugal.

“Mudámos a organização e agora o prémio de arquitetura é dado em alternância, um ano é dirigido a jovens arquitetos e, no outro, é um grande prémio de consagração, com consequência. E quisemos começar este sistema com um grande mestre, alguém incontestável. Álvaro Siza é incrível e tinha de ser ele. E, em comparação com outros, há uma dimensão humanista que nos fez querer premiá-lo”, explicou Laurent Petitgirard, compositor e secretário perpétuo da Academia, em declarações à agência Lusa.

Este novo formato que premeia as figuras que se distinguem no âmbito da arquitetura inclui também uma palestra em Paris, razão pela qual Álvaro Siza esteve na capital francesa no início de outubro.

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“Ele foi formidável. Tem uma visão muito lúcida do que é a arquitetura e muito vincada no que diz respeito ao que a arquitetura conseguiu, mas ainda pode vir a fazer. Ele não tem qualquer fantasia em relação à sua glória e, pelo contrário, tem ainda muito por fazer”, relatou Laurent Petitgirard.

Além do prémio de arquitetura, atribuído a Álvaro Siza, foram ainda entregues, nesta cerimónia anual, entre outros, o Grande Prémio Artístico de Composição Musical a Steve Reich, o Prémio de Fotografia da Academia – William Klein a Raghu Rai e ainda o Prémio Liliane Bettencourt para canto coral à Ópera de Lyon.

Reunindo as principais formas de Belas Artes, quer seja música, pintura ou escultura, Laurent Petitgirard – que fechou a cerimónia prestando homenagem a Paul Andreu e ao seu projeto da Ópera de Pequim – considera que a arquitetura tem um lugar importante na instituição.

“A arquitetura tem um lugar muito importante no seio da Academia, temos como membros arquitetos de alto nível. Mas uma coisa é a teoria ligada à arquitetura, outra coisa são algumas práticas que nos inquietam, com a mercantilização dos espaços públicos, algo que nos assusta e que temos vindo a alertar”, afirmou.

E, por isso, a atribuição deste prémio a Álvaro Siza.

“Foi muito importante dar o prémio a alguém que na sua vida não fez concessões”, concluiu.

Álvaro Siza Vieira nasceu em Matosinhos, em 1933, e estudou Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes do Porto, entre 1949 e 1955.

É autor de centenas projetos, entre os quais se destacam em Portugal as vivendas no Bairro da Malagueira, em Évora, a Faculdade de Arquitetura do Porto, o Centro Paroquial de Marco de Canavezes, o Pavilhão de Portugal da Expo’98 em Lisboa, o Pavilhão de Portugal da Expo’2000 em Hannover (com Souto de Moura) e o Museu de Arte Contemporânea de Nápoles.

Da sua lista de distinções destaca-se o Prémio de Arquitetura da Associação Internacional de Críticos de Arte (1982), o Prémio de Arquitetura da Associação dos Arquitetos Portugueses (1987), a Medalha de Ouro de Arquitetura do Conselho Superior dos Colégios de Arquitetos de Espanha (1988), o Prémio Mies van der Rohe (1988) e o Prémio Pritzker, da Fundação Hyatt, pelo projeto de renovação na zona do Chiado, em Lisboa (1992).