“Passei por uma altura em que pensei mesmo que teria de deixar um dos amores da minha vida. Para estar em paz, tinha de ultrapassar esse obstáculo mentalmente e emocionalmente. E isso aconteceu há 72 horas, com a chamada”. Foi assim, com três frases simples mas que carregam em si uma quantidade pouco mensurável de emoção, que Carmelo Anthony explicou o que significou o facto de os Portland Trail Blazers terem decidido contratá-lo. Foi assim, com três frases simples, que Carmelo Anthony explicou uma das maiores surpresas da atual temporada da NBA.

Desde que deixou os New York Knicks, em 2017, o jogador de 35 anos passou com pouco sucesso pelos Oklahoma City Thunder e pelos Houston Rockets. Na temporada passada, ao serviço da equipa de James Harden, Anthony acabou por cumprir apenas dez jogos até ser dispensado logo em novembro. “Ele aceitou todos os papéis que lhe foram pedidos mas o encaixe que tínhamos imaginado quando o Carmelo decidiu assinar pelos Rockets não se materializou. Por isso, achamos que é melhor as duas partes seguirem em frente porque qualquer outro desfecho seria injusto para ele”, justificou Daryl Morey, o diretor-geral da equipa.

O jogador esteve nos New York Knicks de 2011 a 2017

Desde novembro do ano passado, Carmelo Anthony ficou numa espécie de limbo da NBA. Não estava com nenhuma equipa, não podia estar com nenhuma equipa, tinha de treinar por conta própria e saiu das manchetes dos jornais, das notícias da televisão, do dia-a-dia de uma temporada que terminou com a conquista inédita dos Toronto Raptors. De repente, as dez equipas All-Star de que fez parte entre 2007 e 2017 pareciam um passado distante. De repente, era Anthony era apenas Carmelo e não Melo, como lhe chamavam carinhosamente os adeptos dos Knicks.

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Até que, neste mês de novembro e passado um ano desde que foi dispensado dos Rockets, “a chamada” que mudou toda a perspetiva chegou de Portland. O jogador assinou um contrato válido por um ano e assegurou o regresso à NBA através de uma equipa que na época passada falhou as Finals ao perder com os Golden State Warriors na derradeira eliminatória da Conferência Oeste. Estreou-se contra os Pelicans, um ano e 11 dias depois da última vez que tinha participado numa partida da NBA: marcou dez pontos e fez quatro ressaltos mas o New York Times, de uma forma que ia ao encontro com aquilo que os adeptos norte-americanos de basquetebol estavam a pensar, continuava a perguntar “o quão pacientes é que os Portland Trail Blazers” conseguiriam ser. Esta semana, Carmelo Anthony explicou que o Melo estava apenas ao virar da esquina.

Na segunda-feira, apontou 25 pontos contra os Chicago Bulls. Na quarta-feira, para que não se abrisse a porta a opiniões que apontassem para o facto de ter sido uma exibição isolada e irrepetível, marcou 19 contra os City Thunder na estreia em casa dos Trail Blazers e registou a noite mais eficaz da carreira. Em 11 tentativas, Carmelo Anthony encestou nove, superando os 80% de acerto, e recordou o Melo de outros tempos. Os Portland ganharam e no fim, na hora das entrevistas, o jogador limitou-se a recordar que já tinha dito que está a levar “um dia de cada vez” e que parece estar a sentir “o feel e o flow” — algo como a sensação e o ritmo — de antigamente.

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Longe de ser perfeito — continua com muitas fragilidades defensivas e não marcou um único triplo –, Carmelo Anthony está a provar que nunca se tratou de uma questão de perda de qualidade, de perda de vontade ou de perda de vontade. Faltava o encaixe perfeito. Um encaixe perfeito que parece ter aparecido com os Trail Blazers mas que também tem muito de novo capítulo. Ao contrário daquilo que fez durante toda a carreira, Anthony não pediu a camisola número 7 quando chegou à nova equipa e ficou com o 00. E explicou porquê nas redes sociais, com uma imagem onde apresentava vários motivos para agora usar o duplo zero nas costas, incluindo o facto de parecer o símbolo do infinito que é “um número maior do que qualquer outra quantidade mensurável”. Mas entre os 11 motivos, um em especial saltava à vista: “A chance de ter novos e grandes começos com o passado deixado para trás, onde pertence”. E Melo está a levar a frase de ordem à risca.