Seja pelo passado de sucesso em conjunto no FC Porto, seja pelo facto de terem há muitos anos o mesmo agente, há uma ligação estreita entre José Mourinho e Nuno Espírito Santo. Aliás, e no limite, se o antigo jogador quisesse ter seguido a carreira de treinador de guarda-redes, é provável que os caminhos de ambos se voltassem a cruzar. E foi com naturalidade que a antecâmara do encontro entre Wolverhampton e Tottenham, o segundo entre ambos na Premier League depois do empate na última temporada em Old Trafford, serviu para trocar elogios.

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“É muito melhor treinador do que como jogador. Não estou com isto a dizer que era mau jogador, estou só a dizer que é muito melhor treinador do que era jogador. Recebe alguns elogios pelo trabalho que está a fazer mas penso que não é suficiente, merecia muitos mais elogios. Está a fazer um trabalho verdadeiramente fantástico”, referiu Mourinho sobre Nuno. “É um dos melhores treinadores de sempre e vai ser um prazer defrontá-lo. Vamos ter a oportunidade de meter a conversa em dia, depois conta é no relvado”, disse Nuno sobre Mourinho, depois de no ano passado ter mesmo destacado um ponto que lhe ficou da convivência com o ex-técnico: “Ganhámos tudo o que havia para ganhar. Aquele desejo de vencer é algo que recordarei sempre. É um vencedor nato”.

É como aquele chavão do “amigos amigos, negócios à parte”. Com a curiosidade de se perceber que Mourinho, em fase de adaptação ainda a uma nova realidade, não se importaria de ter alguns elementos do Wolverhampton do seu lado pelas características de jogo, casos de João Moutinho (pela inteligência e capacidade tática), de Rúben Neves (pela capacidade de criar perigo de meia distância sendo um médio) ou de Diogo Jota (pela profundidade e largura que consegue dar ao ataque). “Só quero trabalhar. Vou ter tempo para isso mas até agora não tive. Em janeiro vamos ter algum tempo e em fevereiro há uma semana sem Premier League, é só isso que eu quero”, tinha confessado Mourinho antes do jogo. E aquilo que se percebeu é que, mais do que reforços que gostasse de ter no seu atual plantel, é na qualidade de tirar o máximo dos que tem que entroncam as hipóteses de sucesso.

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Dele Alli, que parece outro desde que o português assumiu o comando dos spurs, é o exemplo paradigmático disso mesmo mas está longe de ser o único. O sul-coreano Son está a assumir outro protagonismo na equipa e sente-se confortável com isso. Esta tarde, foi Lucas Moura a chegar-se também à frente e a acrescentar mais umas linhas nos pedidos para que lhe fizessem uma estátua em maio, quando marcou os golos que permitiram ao Tottenham superar o Ajax e marcar presença na final da Liga dos Campeões frente ao Liverpool. E, mais curioso ainda, apenas poucos dias depois de ter confessado numa entrevista à ESPN que Mourinho esteve perto de levá-lo para o Real Madrid quando estava no São Paulo e antes da jogada de antecipação do PSG.

Lucas Moura. O “Marcelinho” que tinha Zidane como ídolo fez história na Champions e já pedem uma estátua sua

O brasileiro começou por ter um lance de perigo na área dos Wolves sem remate, antes da boa reação dos visitados com cantos ganhos à mistura. Num minuto antes, o Tottenham ameaçou e marcou: Son obrigou Rui Patrício a uma defesa apertada (7′), Lucas Moura concluiu com um míssil indefensável na área uma jogada individual pela direita (8′). Os spurs estavam em vantagem mas nem por isso a formação de Nuno Espírito Santo baixou a guarda, com Jiménez a ter a melhor oportunidade na primeira meia hora que passou perto do poste (26′). Mais do que a capacidade de ter posse ou explorar a profundidade, o Wolverhampton prendia a saída em transições e foi num pontapé mal medido de Patrício que Dier ficou perto do 2-0, acertando no poste após jogada com Dele Alli (36′).

A segunda parte manteve as mesmas características, com os visitados a terem mais iniciativa quase sempre pelo corredor direito a explorar a velocidade e a explosão de Adama Traoré e os visitantes a procurarem as transições rápidas em igualdade ou superioridade numérica. Jiménez, com um remate na área para defesa de Gazzaniga, voltou a ameaçar o empate (48′), Dele Alli teve também uma remate perigoso ao lado da baliza de Rui Patrício ainda antes do primeiro quarto de hora e seria mesmo Traoré, uma espécie de velocista com bola nos pés que diz que nunca chega a correr o máximo, a equilibrar os pratos da balança a meio da segunda parte, com uma “bomba” de fora da área sem hipóteses para o guarda-redes contrário (67′).

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Se é verdade que José Mourinho consegue “ganhar” jogadores, também Nuno Espírito Santo fez do espanhol formado no Barcelona um jogador de seleção e foi daí que nasceu o empate num duelo entre técnicos portugueses que teria um final de loucos com o Tottenham a chegar ao triunfo aos 90+1′ num canto marcado por Eriksen e finalizado por Vertonghen, que entretanto deixou de ter a dor de cabeça de levar com Traoré no seu raio de ação, subiu até à área contrária e conseguiu decidir de cabeça, numa vitória muito parecida com algumas arrancadas por José Mourinho no FC Porto que fizeram dele o Special One quando tinha Nuno Espírito Santo na sua equipa.