Os genes para o desporto estavam lá, do pai Charles que jogou futebol na Nigéria à mãe Veronica que fazia salto em altura. Faltava escolher a modalidade. E a escolha foi fácil, o caminho para chegar onde queria é que nem por isso. Quase com 18 anos, Giannis Antetokounmpo, nascido em Atenas e criado em Sepolia, vendia com um dos irmãos relógios, óculos escuros e jogos de vídeos entre outras bagatelas junto das ruas da Acrópole para ajudar nas economias de casa numa família que residia ainda de forma ilegal na Grécia depois de ter vindo de Lagos e que corria o risco de ser deportada a qualquer momento. Sete anos depois, aparecia no Natal como uma das principais figuras da NBA, após ter sido considerado o MVP em 2019. Mas até essa viagem teve que contar.

A hora de Antetokounmpo, o grego que vendia relógios nas ruas de Atenas há cinco anos

Depois de ter feito a estreia no terceiro escalão do basquetebol grego em 2011, Giannis representou os seniores do Filathlitikos na segunda divisão em 2012/13 e não demorou a ter inúmeros pretendentes europeus, incluindo os mais conceituados Efes Pilsen e Barcelona. Como contava o ESPN, o Zaragoza ganhou a corrida depois de uma viagem do diretor desportivo da equipa espanhola, Willy Villar, para ver ao vivo aquele jogador de quem tinha recebido imagens como se fosse mais um malabarista do que outra coisa. “Quando o vi a jogar percebi que sabia fazer tudo”, assume. Assinou a 7 de dezembro de 2012, foi oficializado dez dias depois, saiu a 30 de julho de 2013… sem nunca ter vestido a camisola do clube que pagara 200 mil euros pela sua contratação.

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225 dias depois, o chamamento da NBA foi mais forte e os Milwaukee Bucks pagaram os 300 mil euros previstos na cláusula para assegurarem o jogador que entretanto conseguira nacionalidade grega. Mérito (e risco, muito risco) de John Hammond, o general manager da equipa da Conferência Este que percebeu todos os contras que havia entre draft e jogadores sem contrato e apostou fora da caixa, num jogador que não passou pelo Nike Hoop Summit e era desconhecido entre a maioria das equipas. Uns anos depois, tornou-se MVP. Um dos melhores jogadores da NBA. Um All-Star quase cativo. Um candidato ao título coletivo. Há uns anos, quando era vendedor ambulante às escondidas nas ruas perto da Acrópole, era impossível pensar num cenário assim; hoje teve o outro lado.

Se Giannis foi o melhor de 2018/19 e tem sido um dos melhores de 2019/20, teve neste Natal aquele que foi em termos estatísticos o pior jogo de sempre desde que chegou à NBA. Cumpriu o habitual “duplo duplo” com 18 pontos e 14 ressaltos, ficou a três assistências do “triplo duplo” mas teve o encontro com mais lançamentos falhados (oito em 29, numa percentagem abaixo dos 30%), desperdiçando também os sete triplos tentados – de tal forma que, no terceiro período, a defesa contrária chegou a deixá-lo com muitos metros para atirar ao cesto. Khris Middleton, com 31 pontos, ainda tentou disfarçar mas os Philadelphia Sixers foram sempre melhores.

Com uma percentagem de quase 50% de triplos, com 21 conversões em 44 tentativas, os Sixers estiveram por cima desde início contando com a melhor versão de Joel Embiid, o gigante camaronês que não só se destacou no plano ofensivo (31 pontos e 11 ressaltos) como provou mais uma vez ser um dos melhores defensores da NBA, travando em muitas ocasiões o próprio Giannis. No final, o triunfo por 121-109 frente à melhor equipa até ao momento (que passa a ter 27 vitórias e cinco derrotas) acabou por ser um reflexo curto do domínio, naquele que fica também como um aviso para o que se poderá passar nos playoffs, nas meias ou na final de Conferência.