A Corticeira Amorim propôs-se esta quinta-feira a mobilizar os produtores florestais a plantarem um total de 50 mil hectares de sobro nos próximos 10 anos, apontando este como “um dos principais objetivos” do Projeto de Intervenção Florestal que lidera.
“O objetivo é mobilizar esses produtores para que, entre diversas plantações, no prazo aproximado de 10 anos possam ser plantados 50 mil hectares de sobreiros com uma densidade significativamente superior à atual. Acredita-se que com um aumento de 7% da área atual dos sobreiros em Portugal será possível incrementar a produção de matéria-prima em 35%”, afirmou o presidente executivo da Corticeira Amorim, António Rios de Amorim, durante um evento no âmbito dos 150 anos do grupo Amorim, que se assinalam em 2020.
Lançado em 2013, o Projeto de Intervenção Florestal (PIF) é uma iniciativa promovida pela Corticeira Amorim para “assegurar a manutenção, preservação e valorização das florestas de sobro e, consequentemente, a produção contínua de cortiça de qualidade”.
Apostando na “sustentabilidade, aliada à inovação, como grande trunfo para enfrentar os desafios da próxima década”, o projeto é apontado como “um dos pilares de desenvolvimento do grupo” e será implementado em parceria com produtores florestais, instituições de investigação e entidades públicas locais, potenciando também o reforço do conhecimento sobre a espécie que está na base da cortiça: o sobreiro.
Cada vez mais percebemos que as espécies nativas são um elemento fundamental na defesa contra as alterações climáticas. Com este projeto, que também representa o primeiro investimento da Corticeira Amorim em propriedade florestal, esperamos maximizar o montado como um investimento sustentável e rentável, não apenas para as gerações vindouras mas também para a geração que decide investir nesta espécie verdadeiramente única a nível ambiental, social e económico”, afirma o presidente executivo da corticeira, António Rios de Amorim.
Desenvolvido em três etapas — investigação científica e biotecnologia, aplicação do conhecimento nas plantações da Corticeira Amorim e partilha do “know how” com outros produtores florestais — o PIF propõe-se a “melhorar quer a quantidade quer a qualidade do sobreiro e da cortiça, tornando a produção mais rapidamente atrativa para quem nela investe”.
“Numa primeira fase o [explica a empresa] projeto centrou-se na investigação científica e na biotecnologia, em especial na antecipação do primeiro ciclo de extração de cortiça, através de um sistema de rega de instalação melhorada (gota a gota)”, visando “expandir o conhecimento da espécie e de toda a matéria ligada ao montado e à subericultura”.
A segunda fase consistiu na aplicação do “know how” e de novas tecnologias no terreno, tendo sido apurado, durante testes efetuados em plantações ao processo de irrigação de sobreiros, que “a irrigação gota a gota (num período inicial e limitado) permitirá aumentar a taxa de sobrevivência dos sobreiros e antecipar o período inicial de extração de cortiça de 25 para cerca de 10 anos”. Após este suporte inicial, concluiu-se que “a plantação de sobreiros não necessita de mais água”.
Segundo a Corticeira Amorim, na Herdade da Baliza, adquirida pela empresa em 2018, naquele que foi o primeiro investimento do grupo em propriedade florestal, “irão ser testados o aumento da densidade de sobreiros por hectare e o crescimento mais rápido dos mesmos, esperando-se uma redução significativa do tempo necessário para o início de exploração das árvores”.
A terceira fase do PIF centra-se na “partilha de conhecimento, incentivando o apoio a produtores florestais em Portugal e em Espanha, com o objetivo de melhorar o rendimento e a densidade dos montados de sobro nesta região onde se concentra uma importante percentagem da área total de floresta de sobreiro mundial”.
Através do Projeto de Intervenção Florestal, a Corticeira Amorim diz estar “a apostar nas designadas “externalidades positivas” ao ecossistema montado”, nomeadamente a retenção de dióxido de carbono (cada tonelada de cortiça retém 73 toneladas de CO2), a biodiversidade associada aos montados de cortiça e o combate à desertificação, já que o sobreiro e o montado pressupõem presença humana.
Por outro lado, refere a Amorim, o facto de as áreas de sobreiro não serem mobilizáveis significa que aquele subsolo vai acumular reservas em biomassa e em água.
“Num cenário de alterações climáticas e numa altura em que Portugal tem de redefinir a sua política de reordenação de território é crucial que o sobreiro seja destacado como espécie privilegiada, aquela que se encontra em melhor posição para responder aos desafios futuros”, sustenta a empresa.
Segundo salienta, “como espécie nativa o sobreiro está perfeitamente adaptado às condições de clima e solo árido, vive cerca de 200 anos e tem um conjunto de externalidades muito positivas, sendo também uma espécie com uma capacidade singular de resistência ao fogo”.