Isabel dos Santos e o seu marido, Sindika Dokolo, desembolsaram 55 milhões de dólares (cerca de 50 milhões de euros) para comprar um luxuoso apartamento, em 2015, no edifício Petite Afrique, no Mónaco, revela o jornal Expresso. Quem o construiu foi a Fine Properties Monte-Carlo (FPMC), empresa que junta os irmãos Andrea e Pierre Casiraghi, filhos da princesa Carolina, ao grupo italiano Pizzarotti.
O edifício, com dez andares, foi um dos mais importantes projetos imobiliários da família Casiraghi. Custou cerca de 450 milhões de euros, tem piscina e vista sobre o Mediterrâneo. O sexto andar ficou para Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, que o adquiriram discretamente: não em nome pessoal, mas através da empresa maltesa Athol Limited, segundo consta nos documentos do Luanda Leaks, uma investigação a alegados esquemas de enriquecimento de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e o marido, o empresário congolês Sindika Dokolo.
À Radio France Internationale (que faz parte do consórcio internacional de jornalismo de investigação), um dos vigilantes do Petite Afrique confessa que ali “a palavra-chave é confidencialidade”, antes de recusar a entrada de curiosos no edifício. O moderno edifício, localizado na histórica Carré d’or, de Monte Carlo, impressiona acima de tudo com um imponente sistema de segurança 24 horas, câmaras de vigilância e janelas escurecidas para garantir o anonimato. Mas é nos andares superiores que o luxo atinge o seu auge: “piscina privativa na cobertura, spa com salas de massagem, enormes apartamentos duplex, um por andar, e janelas deslizantes com vista para o mar azul do Mediterrâneo”, descreve ainda a Radio France (RFI).
O contrato de venda do apartamento, noticiado pela RFI, descreve um amplo apartamento com hall, sala de jantar, com terraço virado a Sul, biblioteca, dois quartos principais e outros dois quartos de serviço para empregados, e direito a quatro lugares de estacionamento. O contrato faz parte do acervo de 715 mil documentos que integram o Luanda Leaks.
Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, segundo cita o Expresso, criaram a sociedade instrumental para o investimento no Mónaco a 8 de novembro de 2012, em Malta. A empresa que comprou o apartamento chama-se Athol Limited. Entre os responsáveis da empresa figuram o advogado português Jorge Brito Pereira e o advogado maltês Noel Scicluna, antigo embaixador de Malta na Dinamarca, país do qual Sindika Dokolo tem cidadania.
Foi Jorge Brito Pereira, advogado de máxima confiança de Isabel dos Santos, que assinou o contrato de compra do imóvel, em dezembro de 2015. E num negócio desta dimensão (mais de 50 milhões de dólares) as comissões foram avultadas. A burocracia foi entregue a Nathalie Aureglia-Carusio, rendendo-lhe honorários de 3,2 milhões de euros por parte da Athol Limited. No negócio participaram também a Banca Popolare di Sondrio (PBS, da Suíça) e o BPI (do qual Isabel dos Santos era acionista), bem como vários prestadores de serviços, entre os quais a sociedade de advogados portuguesa PLMJ (da qual Brito Pereira fez parte até 2016). A auditora PwC ficou responsável pelas contas da Athol.
O edifício onde está o luxuoso apartamento de Isabel dos Santos chama-se Petite Afrique e deve o seu nome às plantas tropicais que aí foram colocadas, no projeto desenhado pelo arquiteto brasileiro Isay Weinfeld.