“Esse grupo tem sido fantástico, com alguns altos e baixos, o que é normal numa competição deste género. Tenho de lhes fazer uma vénia. Mas ainda há muito por fazer. É preciso manter este nível mais tempo e em mais jogos. Estamos aqui a jogar com a fina flor do andebol mundial e tivemos quatro vitórias em 15 dias, quando em 25 anos tínhamos conseguido seis. As medalhas ainda estão longe. Esta pressão foi positiva, mas os atletas chegam aqui, após 14 anos de ausência, e começa a falar-se apuramento para as meias-finais”.

No final do histórico jogo com a Hungria, que valeu a Portugal a melhor participação de sempre em Campeonatos da Europa de andebol, o selecionador Paulo Pereira enalteceu a surpreendente prestação da equipa nacional, teve até o cuidado de baixar as expetativas dizendo que o apuramento olímpico seria extremamente complicado, mas deu o mote para o futuro da Seleção: trabalhar para consolidar este percurso e poder sedimentar a ponte que coloque a formação portuguesa cada vez mais perto dos naturais favoritos à vitória. Como a Alemanha, antiga campeã olímpica, mundial e europeia que se ficou pelo quarto lugar no Mundial de 2019 depois de ter ganho o Europeu de 2016 e de ter conseguido a medalha de bronze nos Jogos do mesmo ano.

Mais do que capacidades ou qualidades táticas ou técnicas, esta era a grande diferença entre os dois conjuntos no encontro de atribuição do quinto e sexto lugares do Europeu (que antecedia a medalha de bronze, jogada entre a Noruega e a Eslovénia depois de perderem nas meias com Croácia e Espanha, respetivamente). Portugal, aquela equipa para quem contrataram um guia por cinco dias porque deveria ficar pela primeira fase e que viajou num autocarro da organização de Malmö para Estocolmo que estava “atribuído” aos húngaros, vinha desgastado mas muito motivado e moralizado para repetir os triunfos com França, Bósnia, Suécia ou Hungria; a Alemanha, equipa que tem pela primeira vez um selecionador pago (Christian Prokop), debatia-se mais com o rescaldo interno para perceber o que falhou do que propriamente com a possibilidade de ficar na quinta posição.

No final de uma epopeia que fica na história do andebol nacional depois de 14 anos de ausência nas grandes provas (e com a limitação extra de não poder contar com um dos melhores da atualidade, Gilberto Borges), Portugal teve o encontro mais equilibrado do Europeu ao longo dos 60 minutos, perdendo apenas nos instantes finais por 29-27 após um parcial de 4-0 dos germânicos quando a Seleção vencia por 26-24.

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Os germânicos tiveram uma entrada melhor em campo, com Portugal a demorar quase quatro minutos até fazer o primeiro golo por Rui Silva quando perdia por 2-0. Andreas Wolff, considerado pelo central nacional por exemplo como um dos melhores guarda-redes do mundo, apresentava uma eficácia acima de 40% de defesas, mantendo a vantagem da Alemanha entre um e dois golos, mas o luso-cubano Alfredo Quintana teve logo uma resposta à altura e com duas grandes defesas em ataques seguidos, nivelando a partida para uma fase de constantes empates com que se chegaria ao final dos 15 minutos iniciais do encontro em Estocolmo (7-7).

A Alemanha continuava na frente, com Wolff a ser o melhor em campo, mas algumas recuperações defensivas de Portugal mantinham o jogo equilibrado, com boas combinações com pivô ou entradas dos pontas. Nos últimos minutos, a Seleção teve mesmo duas oportunidades para passar pela primeira vez para a frente mas os alemães conseguiram travar bem as ações ofensivas nacionais e passaram mesmo para a frente no último minuto por 14-13, resultado com que se atingiria o intervalo. Johannes Golla, Rui Silva e João Ferraz, todos com três golos, eram os melhores marcadores no final dos primeiros 30 minutos da partida com boa casa em Estocolmo.

Na segunda parte, Paulo Pereira voltou a arriscar com a fórmula 7×6, que trouxe resultados com o bom jogo com os pivôs Alexis Borges e Daymaro Salina mas alguns golos fáceis aos germânicos quando conseguiam intercetar a bola na construção. A Alemanha teve mesmo uma vantagem de três golos (18-15) mas Portugal voltou a ter cabeça fria para recuperar, voltou a desperdiçar a possibilidade de passar pela primeira vez para a frente e chegou ao último quarto de hora com tudo em aberto, empatados a 23 já com o jovem Luís Frade em campo, antes de Alexis Borges, com o quarto golo em cinco tentativas, a colocar pela primeira a Seleção na frente na jogada seguinte.

Christian Prokop lançou então Johannes Bitter, outro monstro das balizas, para o lugar de Wolff, altura em que a Alemanha conseguiu recuperar da primeira desvantagem de dois golos (26-24) com um parcial de 4-0 tendo ainda aproveitado um livre de sete metros não convertido por Belone Moreira (num lance onde o golo de Alexis Borges não devia ter sido anulado) e a exclusão de dois minutos de Alexandre Cavalcanti para chegar aos últimos quatro minutos de jogo com dois golos de avanço que se revelaram decisivos para o triunfo final.