Este domingo, as manchetes sobre o Barcelona eram fáceis de escrever. Os catalães receberam o Levante, ganharam com dois golos de Ansu Fati, um produto da formação que se tornou o mais novo de sempre a bisar na liga espanhola, e o timoneiro Messi foi o responsável pelas duas assistências. Aquilo que não esperavam os autores dessas mesmas manchetes era que esta segunda-feira, o dia seguinte a uma vitória convincente em Camp Nou, se tornaria atipicamente nefasto para o Barcelona.
Tudo começou com o fim de um ritual. Na quinta-feira, depois da goleada ao Leganés nos oitavos de final da Taça do Rei, os jogadores do Barcelona não se uniram no final da partida para a habitual roda no fim dos jogos — um bocadinho à semelhança daquilo que Sérgio Conceição faz no FC Porto, ainda que na Catalunha sejam normalmente Messi ou Piqué, um dos capitães, a tomar a palavra, ao invés do treinador. Os adeptos estranharam mas a ausência da reunião acabou por não ser notícia: afinal, era um jogo da Taça, terminou com uma goleada confortável e o importante já tinha sido atingido, que era recuperar da derrota com o Valencia e alcançar a vitória. O problema foi que este domingo, contra o Levante, a roda voltou a não acontecer.
Ansu Fati marcou dois golos praticamente seguidos ainda na primeira parte, ambos com assistência de Messi, Rochina reduziu a desvantagem já nos descontos e o Barcelona derrotou o Levante, não permitindo que o fosso para a liderança e para o Real Madrid fosse aumentado para mais que os atuais três pontos. No fim do jogo, os jogadores agradeceram o apoio das bancadas, cumprimentaram os adversários de forma habitual e dirigiram-se ordeiramente para o balneário: sem reunião, sem roda, sem palavras de ordem de Messi, Piqué ou de qualquer outro capitão. Na conferência de imprensa, o treinador Quique Setién O AS pegou precisamente nesse pormaior para dar conta, esta segunda-feira, da instabilidade que se vive no balneário catalão desde que Quique Setién substituiu Ernesto Valverde.
O plantel estava do lado de Valverde e acreditava que a culpa dos maus resultados — ou a culpa da eliminação da Supertaça, que acabou por ditar a saída do treinador — não era do técnico nem das opções táticas ou técnicas. A saída de Valverde, por troca com Setién, e a forma como todo o processo foi orquestrado pela direção do Barcelona (o treinador ainda deu um treino, sabendo já que não iria permanecer no cargo) desagradou aos jogadores, que não receberam o novo técnico da melhor maneira nem têm proporcionado um ambiente de harmonia no grupo. Segundo o AS, “dois pesos-pesados” da equipa desentenderam-se no treino da passada terça-feira e tiveram mesmo de ser separados pelos colegas, prestes a levar a discussão para agressões físicas.
O episódio menos bonito acaba por ganhar especial relevância tendo em conta o período errático que o Barcelona atravessa nesta altura — com jogadores, como é o caso de Rakitic, a assumirem que nem sempre se sentiram bem tratados no clube. Na zona mista do Camp Nou, este domingo depois do jogo com o Levante, o médio croata reconheceu que “aconteceram várias coisas” de que não gostou. “As pessoas que tomam as decisões sabem disso e eu também sei. Não gostei de várias coisas. Mas este não é o momento para falar sobre isso. Quero virar a página. Trabalhar da melhor maneira possível”, disse Rakitic, que chegou a dizer há alguns meses que lhe tinham “tirado a bola”, quando perdeu o lugar no meio-campo do Barcelona para o recém-chegado De Jong.