Ao contrário do que tem sucedido em anos anteriores, os principais Óscares deste ano (a cerimónia de entrega decorre este domingo, dia 9 de fevereiro) parecem ser já consensuais, se atendermos às informações e aos vários sinais (prémios, tendências, campanhas de promoção, etc.) que chegam até nós. Fomos buscar as 12 principais categorias e, além de referir os nomeados cuja vitória parece evidente, merecendo-o ou não, propomos os vencedores alternativos, quando tal se oferece fazer.
Melhor Filme e Melhor Realização
Quem vai ganhar: “1917” e Sam Mendes
Quem devia ganhar: “O Irlandês” e Martin Scorsese
Nos últimos quatro anos, estes dois Óscares de topo foram três vezes divididos por dois filmes. Este ano, e por todos os sinais que chegam, dos prémios da indústria e da crítica à recepção do público e aos resultados de bilheteira, bem como da intensa campanha de “marketing” que o tem acompanhado, “1917”, de Sam Mendes, parece excepcionalmente bem posicionado para arrebatar ambos. Mas seriam muito bem entregues se fossem antes para “O Irlandês” e Martin Scorsese, que representam a Netflix. (E uma divisão salomónica também pode ser considerada, se atendermos às estatísticas recentes.)
Melhor Ator
Quem vai ganhar: Joaquin Phoenix
Quem devia ganhar: Antonio Banderas
Tudo parece indicar que Joaquin Phoenix já tem a estatueta desta categoria no papo pela sua interpretação de um pobre diabo “vítima da sociedade” e com problemas mentais que se tornará no Joker em “Joker”, de Todd Phillips. Só que dar um Óscar a Phoenix por aquilo que mais parece exibicionismo de “workshop” de representação, significa negá-lo a Antonio Banderas em “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, a interpretação mais complexa, apurada e comovente das cinco selecionadas nesta categoria.
Melhor Atriz
Quem vai e merece ganhar: Renée Zellweger
O papelão de Renée Zellweger como Judy Garland no de outra forma mediano “Judy”, de Rupert Goold, é um imã seguro do Óscar desta categoria (e não esqueçamos que a indústria adora distinguir interpretações em filmes biográficos “corporativos”). Em registos muito diferentes, mas ambas igualmente esplêndidas, Saoirse Ronan (“Mulherzinhas”) e Scarlett Johansson (“Marriage Story”) são também premiáveis.
Melhor Ator Secundário
Quem vai e merece ganhar: Brad Pitt
Um Óscar que tem “Brad Pitt” escrito. A sua personagem de “Era Uma Vez em… Hollywood”, de Quentin Tarantino, é que é o verdadeiro herói do filme, e não a de Leonardo DiCaprio. E ao interpretá-la, Pitt mostra que é um dos raros atores do cinema americano contemporâneo que acumula com o ser uma estrela genuína, e não fabricada pelo “marketing” ou impingida como tal pelos media.
https://youtu.be/fGAiRTIBwTc
Melhor Atriz Secundária
Quem vai e merece ganhar: Laura Dern
Se a estatueta de Melhor Secundário deve ir direitinha – e com todo o mérito – para Brad Pitt, a de Melhor Atriz Secundária está na calha para ser entregue – e também com todo o mérito – a Laura Dern, pela sua composição da advogada de divórcios que a personagem de Scarlett Johansson contrata em “Marriage Story”, de Noah Baumbach: aparência de dondoca, atitude de empatia compreensiva (até manda bolachinhas às clientes) e comportamento de tubarão-fêmea em versão jurídica.
Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar: “1917”
Quem devia ganhar: “Era Uma Vez em… Hollywood”
A Academia pode ser tentada a premiar “1917” nesta categoria, porque o argumento do filme é “humanista” e anti-guerra, sem estridência militante. Mas a verdade é que a história é de fórmula – uma missão quase suicida para salvar vidas que tem de ser levada a cabo em contra-relógio. Se há um argumento que merece ganhar o Óscar, é o de Quentin Tarantino para “Era Uma Vez em… Hollywood”, um dos melhores que ele já escreveu. E pouco importa que Tarantino já tenha em casa duas estatuetas nesta categoria.
Melhor Argumento Adaptado
Quem vai e merece ganhar: “Mulherzinhas”
Greta Gerwig não foi nomeada para Melhor Realização com o seu “Mulherzinhas”, e não chocaria ninguém que ganhasse este Óscar com a sua adaptação do clássico de Louisa May Alcott, onde embora trocando as voltas à cronologia da história, é-lhe fidelíssima ao espírito e às personagens. Mas a estatueta também ficará em boas mãos se for para o veterano Steven Zaillian, pelo seu labor narrativo de grande fôlego e dramatismo em “O Irlandês”.
Melhor Filme Internacional
Quem vai e merece ganhar: “Parasitas”
Quase todos os anos há um filme estrangeiro que se transforma num fenómeno nos EUA, e este ano esse filme é “Parasitas”, a brilhante comédia satírica e negra do sul-coreano Bong Joon Hoo. E apesar da concorrência muito forte nesta categoria que foi rebatizada “Filme Internacional” – “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, ou o excelente “Corpus Christi — A Redenção”, do polaco Jan Komasa, que se estreia esta semana – “Parasitas”, que ganhou o Festival de Cannes e tem mais cinco nomeações, é sem discussão o título mais significativo e mais original em todas as suas declinações, da escrita às interpretações, e deverá receber este Óscar.
Melhor Animação de Longa-Metragem
Quem vai ganhar: “Klaus”
Quem devia ganhar: “Toy Story 4”
O ano passado, “Homem-Aranha: No Universo Aranha”, uma co-produção Sony/Columbia/Marvel, quebrou a tradicional hegemonia da Disney/Pixar nesta categoria. “Klaus”, da Netflix, (com “Mr. Link”, da independente Laika, logo a seguir) posiciona-se para voltar a negar este Óscar ao estúdio do Rato Mickey. Mas este ano, “Toy Story 4” deveria ganhá-lo por ser, de longe, o melhor filme dos cinco: uma animação tecnicamente assombrosa que fala aos mais jovens ao mesmo tempo que põe em cena situações e emoções adultas.
Melhor Fotografia
Quem vai e merece ganhar: Roger Deakins, por “1917”
O mestre inglês Roger Deakins (14 nomeações e uma vitória no seu historial) é o favorito natural nesta categoria, pelo seu trabalho em “1917”, que se escora no tecnicamente intrincadíssimo (e muito discutido e dissecado) artifício de simular ser filmado num único plano-sequência. Este Óscar também assentaria bem a Jarin Blaschke pelo seu trabalho a preto e branco em “O Farol”, de Robert Eggers, mas Deakins já pode contar com ele a 99,9%.
Melhor Documentário de Longa-Metragem
Quem vai ganhar (e talvez merecidamente, mas ainda não foi estreado em Portugal): “For Sama”
É aqui que este ano se concentram mais títulos políticos e ligados à atualidade, como “Uma Fábrica Americana”, de Steven Bognar e Julia Reichert, a primeira produção do casal Obama, o pró-Pêtista “Democracia em Vertigem”, da brasileira Petra Costa (ambos estão disponíveis no Netflix), e dois filmes sobre a situação na Síria: “The Cave”, de Feras Fayyad, e “For Sama”, de Waad Al-Kateab e Edward Watts. O favoritismo pende para “For Sama”, que tem tido vários prémios e muito boca-a-boca.
[Os Óscares foram também o tema principal do Pop Up desta semana, programa da Rádio Observador sobre cultura pop. Ouça aqui as apostas de Bruno Vieira Amaral, Maria Ramos Silva, Pedro Boucherie Mendes e Tiago Pereira]