O Teatro Nacional de São João vai ser reabilitado e encerrado durante seis meses, do início de abril ao final de setembro de 2021.
Das obras, orçamentadas em 2.3 milhões de euros, num co-financiamento em 85% suportado por fundos comunitários, 1.5 milhões estão reservados à reabilitação física e de segurança do edifício principal, Monumento Nacional desde 2012.
Pedro Sobrado, presidente do conselho de administração do Teatro Nacional de São João, acredita que o programa de reconstrução resulta da “constatação da importância patrimonial e arquitetónica deste monumento nacional, que é uma verdadeira máquina do tempo”, mas também do reconhecimento “da importância axial do São João enquanto teatro nacional, enquanto produtor de artes cénicas e polo irradiador de cultura no norte de Portugal”.
Quase trinta anos após a aquisição e requalificação pelo Estado deste monumento do Porto, parte do investimento será conduzido numa recuperação dos tetos, das paredes e dos pavimentos em zonas públicas e administrativas. Outra parte (cerca de 500 mil euros) será investida na compra de material de iluminação e de som mais adaptado às novas criações.
“Estaremos sob outras luzes e sob outros outras tábuas”, acaba por resumir Pedro Sobrado. Ainda assim, complementa o diretor artístico, Nuno Cardoso, “será o mesmo teatro com possibilidades de futuro”.
Nuno Cardoso, diretor artístico do TNSJ: “O teatro é sempre mais moderno do que a cidade onde está”
100 anos festejados com um elenco residente, uma exposição e um conjuntos de livros
Pela primeira vez desde que foi instaurado, o teatro nacional terá uma companhia “quase” residente. Os atores Afonso Santos, Joana Carvalho, João Melo, Maria Leite, Mário Santos e Rodrigo Santos vão permitir ao encenador e diretor artístico Nuno Cardoso contar com um elenco a tempo inteiro para “assumir o primado da criação”. “Fugimos à ideia de projetos para entrarmos numa ideia de projeto”, consolida.
A novidade insere-se nos eixos estratégicos da instituição para o futuro. O centenário do teatro inaugurado em 1920 como teatro de ópera e que durante muitos anos funcionou como cinema, traz consigo mais de um ano de comemorações e uma verba que permitirá “mais de 30 anos de atividade ininterrupta”, garante Pedro Sobrado.
Para festejar, o Teatro Nacional São João vai lançar uma coleção de livros temáticos, apelidada de “Cadernos do Centenário”. Na data exata dos 100 anos, a 7 de março, 100 depoimentos de várias personalidades portuguesas sobre 100 espetáculos programados pela casa estarão reunidos na obra “Elogio do Espectador”.
Em setembro, uma exposição tentará colmatar a “lacuna” da memória histórica do teatro: da arquitetura e história do edifício à relação do teatro com a cidade.
Ano de estreias com três produções próprias
Com sede de descentralização e uma certa vocação internacional, em ano de aniversário o Teatro Nacional de São João também quer aumentar o seu “raio de ação”.
Um das três produções da casa, destacadas por Nuno Cardoso, irá mesmo estrear-se em Aveiro. Trata-se de “Castro”, uma peça de teatro encenada pelo encenador e diretor artístico, que viajará por várias cidades do país até poder ser vista no Porto, a 27 do mesmo mês, Dia Mundial do Teatro.
Numa outra versão deste projeto, Nuno Cardoso trabalhará com artistas cabo-verdianos na “KastroKriola”, uma peça que se estreará em Cabo Verde a 5 de julho, dia da comemoração da independência deste país.
2020 será também ano de reestrear “Turismo Infinito”, produção encenada por Ricardo Pais a partir de textos de Fernando Pessoa.
Além disso, o teatro nacional portuense garante a continuidade do conjunto de colaborações em co-produção com alguns criadores do Porto, como o Palmilha Dentada, o Circolando, A Turma, o Ensemble e o Teatro Experimental do Porto.
Nuno Cardoso sublinha a ideia de “parceiro constante”, sem necessidade de reinvenção, mas de descoberta de “novos caminhos de contacto com a cidade, com o público, com os cidadãos aqui, um pouco por todo o país e lá fora”.
O teatro nacional do Porto “é parco em objetos e farto em memórias, o que não deixa de ser bonito”, nas palavras do diretor artístico, “porque o São João é um teatro e o teatro é o elogio do efémero que fica para sempre”.