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9 cartazes para Marega, 9 quilómetros de Alex e o azar de um eterno '9' (a crónica do FC Porto-Portimonense)

Este artigo tem mais de 4 anos

Jackson, herói do Dragão, foi vilão. Marega, herói pelo mundo, não esteve em cena. Faltava uma figura para mascarar dificuldades do FC Porto com o Portimonense até Alex Telles arriscar a sorte (1-0).

Alex Telles decidiu o encontro com o seu oitavo golo no Campeonato, sendo já o melhor marcador dos dragões na prova
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Alex Telles decidiu o encontro com o seu oitavo golo no Campeonato, sendo já o melhor marcador dos dragões na prova

Alex Telles decidiu o encontro com o seu oitavo golo no Campeonato, sendo já o melhor marcador dos dragões na prova

“Como irmãos”. O mote foi dado pelo próprio clube através das redes sociais, o prolongamento foi pensado pelos adeptos. O encontro até podia valer um regresso ao primeiro lugar do Campeonato à condição porque o Benfica joga apenas esta segunda-feira em Barcelos mas, mais do que a posição na tabela classificativa, tinha o significado especial de ser o primeiro de Moussa Marega no Dragão depois de ter saído de campo em Guimarães por ouvir insultos racistas nas bancadas. Se a Liga, a Federação e até o governo tinham colocado o caso do maliano no topo das prioridades, o FC Porto estava também no topo dessa mensagem. Dentro e fora de campo.

https://observador.pt/2020/02/23/fc-porto-portimonense-dragoes-podem-subir-a-lideranca-do-campeonato-a-condicao/

Logo no início da transmissão televisiva, a pouco mais de meia hora do apito inicial, as câmaras iam apanhando tudo o que estava relacionado com o número 11 dos azuis e brancos, o grande foco desde início. “Não ao racismo”, dizia a primeira cartolina devidamente plastificada com as imagens de Marega e Pepe. “Força Marega”, dizia uma outra com a imagem central do avançado acompanhada por outra com “Estamos contigo” e várias fotografias de mãos e crianças brancas e negras de mãos dadas ou abraçadas. E mais uma, com uma frase em francês para o maliano, de alguém que levou para o Dragão uma máscara de Marega. E ainda mais uma, que juntava duas cartolinas brancas e castanhas com “Marega sou teu fã, dá-me a tua camisola. Martim”.

Mais uma ronda, muitas mais mensagens. “Foste o primeiro a fazer a diferença”, dizia uma mensagem em francês. “Marega, dá-me um abraço”, segurava uma menina mais perto da zona do túnel de acesso aos balneários, “Marega dá-me a camisola” lia-se ali pouco ao lado. “Hoje tem golo de Marega”, referia uma outra folha A4, recordando a frase do avançado do Flamengo Gabigol. Se todos os jogadores e árbitros entraram com uma t-shirt amarela que dizia “Não ao racismo, à xenofobia, à violência e à intolerância”, o foco das bancadas estava especialmente centrado no maliano que, após dessa decisão no jogo da última jornada no Minho, assumiu à rádio francesa RCM tudo o que sentiu antes, durante e depois da partida. E estes foram apenas nove exemplos que se multiplicavam pelo estádio.

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Foi muito mais difícil, realmente senti-me uma m****, foi uma grande humilhação para mim. Tocou-me bastante. Gostava que o jogo tivesse parado, gostava que o árbitro e a Liga tivessem uma outra atitude. Uma coisa são os slogans contra o racismo, outra é a ação que se passa todos os dias. Isso é só para tirar fotografias, mais nada. O que diria se pudesse falar com o presidente da República? Seria um honra e podia dizer-lhe o que senti ao ser insultado daquela forma. Não gostei mesmo nada de sentir aquele ódio, fiquei muito desiludido”, contou em entrevista na segunda-feira.

Ficha de jogo

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FC Porto-Portimonense, 1-0

22.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Hugo Miguel (AF Lisboa)

FC Porto: Marchesín; Corona, Mbemba, Marcano, Alex Telles; Uribe (Nakajima, 54′), Sérgio Oliveira (Romário Baró, 83′); Otávio, Luis Díaz, Marega e Soares (Zé Luís, 54′)

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Diogo Leite, Wilson Manafá e Loum

Treinador: Sérgio Conceição

Portimonense: Gonda; Hackman, Jadson, Lucas Possignolo, Henrique; Pedro Sá, Willyan, Lucas Fernandes (Bruno Costa, 71′); Dener, Tabata (Mohanad Ali, 77′) e Jackson Martínez (Aylton Boa Morte, 65′)

Suplentes não utilizados: Ricardo Ferreira, Anzai, Júnior Tavares e Fernando

Treinador: Paulo Sérgio

Golo: Alex Telles (87′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Dener (68′), Pedro Sá (74′), Henrique (79′), Otávio (83′), Willyan (86′), Aylton Boa Morte (86′), Wilson Manafá (88′) e Bruno Tabata (no final do jogo)

Mesmo tendo voltado aos golos em Guimarães, Marega teve um jogo apagado e previsível contra o Portimonense, quase como se aquilo que lhe aconteceu tivesse retirado a explosão que o define como jogador. No entanto, Marega não está só. Pelo contrário. E aqueles nove cartazes supracitados tiveram prolongamento nos nove quilómetros percorridos durante o jogo por Alex Telles, que vestiu a capa de herói e mascarou as dificuldades do FC Porto contra um conjunto algarvio bem organizado por Paulo Sérgio. Foi a ferros, com uma grande penalidade falhada por Jackson Martínez em cima do intervalo, mas valeu os mesmos três pontos aos azuis e brancos que, pelo menos por 24 horas, serão líderes da Liga quando há duas semanas estavam a sete pontos.

Apesar da densidade competitiva por causa da Liga Europa, e mesmo depois de ter admitido fazer algumas trocas na equipa, Sérgio Conceição foi com tudo e lançou apenas Otávio na equipa inicial, relegando Wilson Manafá (que teve muitas culpas no segundo golo dos germânicos) para o banco. Foi com tudo mas não entrou com tudo: num desenrolar vagaroso de lances nos minutos iniciais, foi preciso chegar a homenagem das bancadas ao 11.º minuto a Marega com a tarja “Somos todos Marega” nos Super Dragões, com muitos aplausos ao maliano, para o FC Porto despertar e fazer num curto lapso de tempo cinco remates, um dos quais perigoso por Corona (14′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momento do FC Porto-Portimonense em vídeo]

Com Uribe a ganhar o meio-campo com várias interceções e desarmes em zonas mais adiantadas, o FC Porto foi encostando o Portimonense mais atrás, retirando qualquer capacidade de saída em transição dos algarvios. Com meia hora de jogo, os dragões levavam já um total de nove remates contra nenhum dos visitantes, ainda que sem conseguir enquadrar os mesmos na baliza. Estava a chegar a altura das aproximações mais perigosas, estava a chegar a altura do desperdício por quem não costuma desperdiçar: Soares, que atirou ao lado isolado na área já em queda (33′) e que depois não deu a força suficiente num cabeceamento defendido por Gonda (36′).

Sinais do Portimonense na área dos azuis e brancos, poucos ou nenhuns. Mas quando apareceram foi em força. E também com quem não costuma desperdiçar a assumir o papel de vilão (logo ele, um herói no Dragão): já depois de ter cabeceado a rasar o poste após cruzamento da esquerda (38′), Jackson Martínez desperdiçou uma grande penalidade em cima do intervalo (45′), rematando para a bancada e ficando a olhar de forma incrédula para o que tinha acabado de perder. Logo ele que, mesmo com visíveis limitações físicas, continua a jogar como um eterno ‘9’ com classe acima da média. O descanso chegava com assobios no Dragão e ansiedade crescente no ar.

Na segunda parte, o FC Porto conseguiu mais uma vez encostar o Portimonense mas com grande dificuldades em criar situações de finalização, o que levou Sérgio Conceição a arriscar logo no arranque com uma dupla substituição que reorganizou a equipa colocando Otávio no corredor central ao pé de Sérgio Oliveira e Nakajima a tentar explorar os espaços entre linhas perante o crónico adiantamento de Corona no corredor lateral. Os azuis e brancos tiveram outra capacidade criativa durante alguns minutos mas voltaram aos mesmos erros, tentando muitos vezes queimar etapas para fazer chegar a bola a Marega ou Zé Luís com a defesa contrária a cortar fácil.

O Portimonense estava cada vez mais acantonado na sua área e, mesmo percebendo que o FC Porto era cada vez mais uma equipa desorganizada nas transições, caiu na tentação de piscar mais o olho ao empate do que tentar cortejar mesmo uma vitória. Foi nesse momento que, num momento de inspiração, Alex Telles arriscou de meia distância onde os algarvios iam deixando espaço para marcar um golo fantástico que deixou o Dragão em delírio e colocou os azuis e brancos pelo menos 24 horas na liderança do Campeonato, ficando agora à espera do que fará o Benfica em Barcelos frente ao Gil Vicente na noite desta segunda-feira (87′).

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