Desde o primeiro momento que “os bancos estão a fazer tudo o que está ao seu alcance” para ajudar a minimizar os efeitos da crise económica provocada pela Covid-19, garantiu Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), em entrevista à Rádio Observador. E é por isso “injusto” que estejam, novamente, a ser objeto de um ataque, que agora até tem “porta vozes inesperados”, admitiu o presidente da APB sem, no entanto, mencionar o nome de Rui Rio.

O líder do PSD, no debate parlamentar sobre o decreto presidencial do estado de emergência, criticou os bancos por quererem “ganhar dinheiro” com a crise do novo coronavírus e propôs que tenham “lucros zero” este ano e o próximo. Para Faria de Oliveira isso é ponto assente.

“Tudo indica que  vamos ter a maior recessão registada desde que eu sou vivo. A banca será profundamente afetada. Tudo vai depender do tempo do lockdown. E cada mês em lockdown representa desde logo um decréscimo enorme do PIB. As minhas expectativas são mais pessimistas do que as do Banco de Portugal”, afirma o presidente da APB.

E por isso, a probabilidade dos bancos terem, novamente, resultados negativos já este ano “é grande”. O que vai obrigar a banca a gerir com prudência os seus balanços.

Sem que isso obrigue os bancos a esquecer o “compromisso inequívoco de apoiar a economia portuguesa” face à crise provocada pela pandemia, como foi assumido no comunicado conjunto emitido na sequência da reunião de segunda-feira com o Presidente da República. E que Faria de Oliveira reiteira. “Independentemente das ajudas que os bancos receberam no passado considero que esta é uma obrigação que nos deve manter com a cabeça fria mas ter o coração quente“.

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Para o presidente da APB, há outras a firmações que também não “colam com a realidade”. Como a questão de dos bancos estarem a cobrar taxas de juro de 3% nas linhas de crédito de apoio à tesouraria das PME em dificuldades, quando se financiam a – 0,75. “Isso é perfeitamente incorreto”, diz o presidente da APB.

E explica que os bancos se financiam, em termos médios, a um juro muito acima das taxas negativas do Banco Central Europeu. “E é isso que a banca está a cobrar, entre 1 a 1,5%. Depois, há um o custo das sociedades de garantia mútua. Que pesa sobre o valor que a empresa vai ter de pagar. Não é um custo do banco”.

À Rádio Observador, Faria de Oliveira argumenta também que a “operacionalização das linhas de crédito” é um processo burocrático e é por isso que leva algum tempo até chegar à economia real, ou seja, às empresas e família. Para as PME sobreviverem à crise económica sem se endividarem mais, sugere ainda que sejam criados instrumentos de apoio a fundo perdido de “reforço de capital”. Uma solução que, segundo crê, já está a ser pensada.