O Campeonato do Mundo de dardos pode não ser propriamente o evento mais seguido em Portugal (pelo menos a comparar com outros de menor dimensão) mas consegue reunir valores que impressionam. Na última edição, que acabou no primeiro dia de 2020, passaram ao longo de 18 dias cerca de 80 mil pessoas pelo Alexandra Palace, em Londres, a final teve uma audiência de quatro milhões de espetadores só entre Sky UK (Reino Unido), Sport 1 (Alemanha) e RTL7 (Holanda), e o vencedor, o escocês Peter Wright, recebeu o prize money de 500 mil libras (na altura 587 mil euros), sendo que a prova distribui um total de mais de 2,8 milhões de euros.

Por ser uma das poucas modalidades (a par do xadrez, por exemplo) que consegue fintar a necessidade transversal de confinamento na Europa, a Liga Profissional de Dardos (PDC) decidiu organizar um torneio a partir de casa com 32 grupos entre os melhores jogadores do mundo do Unibet Home Tour. E as regras eram relativamente simples nesta fase de qualificação e também na final, marcada para junho: todos os intervenientes necessitavam apenas de ter uma câmara que focasse o posicionamento na altura do lançamento em plano curto e o alvo. Apenas isso. Mas o “apenas” acabou por tornar-se um problema demasiado complicado para três dos melhores.

Para começar, para o holandês Michael van Gerwen, de 30 anos, atual número 1 do ranking que foi três vezes campeão mundial (2014, 2017 e 2019) que enfrentou um dos problemas: o barulho. “Quando estamos a jogar tem de estar tudo em silêncio mas estando em casa com um bebé pequeno, um filho de dois anos e meio e três cães, não consigo mesmo fazer com que resulte”, contou ao canal holandês da RTL7, citado pela Reuters.

Também Gary Anderson, carismático escocês de 49 anos que foi campeão mundial em 2015 e 2016 e está agora no sétimo lugar entre os melhores do mundo, teve de desistir por outro problema: a falta de WiFi na zona onde reside. “É incrível, nos últimos dois anos não consegui fazer os primeiros meses de competição. Estive lesionado no início de 2019, queria ter agora um grande regresso mas quando fizeram os testes à internet, não era rápida o suficiente. Não me surpreende, é uma luta para mim pagar as contas cá em casa”, explicou ao The Guardian.

Por fim, Daryl Gurney, norte-irlandês de 34 anos que ocupa o oitavo lugar da hierarquia mundial, enfrenta dois problemas num só dentro das novas regras: a falta de espaço em casa e o teletrabalho da irmã. “Gostava de voltar a jogar mas não tenho quarto para isso, com pessoas a falar por casa não dá. A minha irmã está em teletrabalho no quarto ao lado e por isso não consigo cumprir as regras. O alvo que tenho é o mesmo desde os 12 anos. A maioria dos jogadores tem um espaço só para isso, o meu alvo está na parte de trás da porta do quarto. Tenho de estar no corredor e colocar um pé na casa de banho e outro no corredor para lançar”, lamentou à BBC.

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