A apresentação do espaço de restauro dos Painéis de São Vicente, uma obra inédita de Domingos Sequeira e uma exposição temporária de Julião Sarmento vão marcar a reabertura do Museu Nacional de Arte Antiga, em 18 de maio.
Estes são alguns dos destaques da programação deste museu, em Lisboa, revelada esta sexta-feira à agência Lusa, que irá reabrir no Dia Internacional dos Museus, no quadro do Plano de Desconfinamento aprovado pelo Governo, há uma semana.
Desde 14 de março que os museus e monumentos em Portugal têm estado encerrados, de acordo com as restrições sanitárias exigidas pelas autoridades para conter a pandemia covid-19, e a sua atividade tem estado a ser desenvolvida em plataformas digitais.
Para a reabertura, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) vai apresentar ao público o novo espaço para o restauro dos Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, uma das obras mais emblemáticas do museu e da arte antiga portuguesa.
Os Painéis de São Vicente vão ser alvo de um processo de restauro, a arrancar ainda durante este ano, e a prolongar-se até 2022, de forma faseada, para que possam ser visitáveis, contando com a participação de conservadores do MNAA e de uma equipa de consultoria internacional, na qual se incluem membros da Universidade de Ghent (Bélgica), do Metropolitan Museu of Art (Nova Iorque, EUA) e do Museu do Prado (Madrid, Espanha), entre outros.
A partir de 18 de maio, segundo o museu, o público terá a possibilidade de visitar o local onde decorrerá o processo de restauro dos painéis, “devidamente vedado mas visível a quem o visita, permitindo o acompanhamento dos trabalhos no próprio local, assim que estes arranquem durante o ano”.
O projeto de restauro resulta de um protocolo mecenático, para três anos, assinado entre o MNAA, a Direção-Geral do Património Cultural e a Fundação Millennium BCP, envolvendo um apoio financeiro na ordem dos 225 mil euros.
No mesmo dia, o museu irá dar a conhecer ao público a última aquisição para o acervo do MNAA: um desenho de Domingos Sequeira, considerado pelos especialistas um dos grandes artistas portugueses do século XIX, intitulado “Um Estudo para Camões”, adquirido em dezembro do ano passado, em Paris.
Outro dos destaques da programação do MNAA para o dia 18 de maio será uma nova exposição temporária, dedicada a obras de Julião Sarmento, e que ficará patente na Sala do Tecto Pintado.
Até 26 de julho, nesta exposição, intitulada “A Linha que fecha também abre”, comissariada por João Pinharanda, confrontam-se cinco desenhos e pinturas do artista plástico contemporâneo Julião Sarmento, com oito desenhos italianos do Renascimento, e a sua extensão ibérica, selecionados do acervo do MNAA.
Os oito desenhos selecionados da coleção do museu têm autoria ou são atribuídos a Baccio Bandinelli, Luca Cambiaso, Corregio, Pontormo e Francisco Venegas, constituem essencialmente estudos para figuras a inserir em pinturas e, por isso, são obras preparatórias.
Nesta “linha que fecha mas também abre”, através da presença dos trabalhos contemporâneos de Julião Sarmento, “quebram-se, de certa forma, as sequências temporais, temáticas ou estilísticas que se estabelecem entre os artistas pertencentes a uma cronologia e cultura comuns, neste caso o Renascimento, permitindo-se assim, a quem visita este universo, que se abram novos caminhos de múltiplos sentidos, entre passado, presente e futuro”, salienta o museu num texto sobre a exposição.
O público também poderá ver até 28 de junho a obra convidada “Calendário”, que investigação recente atribui a Peeter Balten, pintor flamengo do século XVI, contemporâneo de Bruegel, o Velho. A série é composta por doze pinturas com alegorias aos meses do ano, é proveniente da Sé de Miranda do Douro e a sua presença no MNAA estava inicialmente prevista até 10 de maio.
A partir da reabertura, o MNAA irá colocar algumas peças da coleção, sobretudo pintura e tapeçaria, com uma tabela informativa com dados botânicos, fazendo um roteiro dedicado à representação botânica na arte, quando “a obra contenha na imagem elementos vegetais relevantes, estes serão explicados num contexto artístico, revelando-se o seu significado simbólico, muitas vezes oculto para o visitante do século XXI”. Desta forma, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, o MNAA associa-se à Lisboa Capital Verde Europeia 2020.
Na reabertura do museu ao público, que terá de obedecer a regras de distanciamento, o pianista Pedro Emanuel Pereira vai dar um concerto à porta fechada, sem assistência de público, mas que poderá ser acompanhado em direto, a partir das 19:00, na rádio Antena 2, que garantirá a sua transmissão ao vivo.
As indicações centrais para a reabertura de museus são para o uso de máscara, a disponibilização de gel desinfetante, limpeza constante dos espaços, funcionários com viseiras e luvas.
Deverá haver também limitação limitada, em função da área e das orientações de distanciamento social definidas pela Direção Geral da Saúde.
Criado em 1884, o MNAA alberga a mais relevante coleção pública do país – em pintura, escultura e artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão -, desde a Idade Média até ao século XIX, incluindo o maior número de obras classificadas como tesouros nacionais, e a maior coleção de mobiliário português. O seu acervo possui ainda algumas obras de referência do património artístico mundial, na pintura, ourivesaria, cerâmica, têxteis, vidros e em desenhos e gravuras.
Em exposição permanente, possui ainda uma sala dedicada à história dos presépios portugueses, com mais de duas dezenas de obras – articulada com a Capela das Albertas, considerada uma jóia do estilo Barroco nacional – dos diversos escultores, desde o século XVI ao século XIX.
No acervo do MNAA, destacam-se os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV, a Custódia de Belém, de Gil Vicente, mandada lavrar pelo rei Manuel I, datada de 1506, os Biombos Namban, do final do século XVI, registando a presença dos portugueses no Japão, “São Jerónimo”, de Dürer, “Santo Agostinho”, de Piero della Francesca, o único quadro do pintor italiano num museu da Península Ibérica, e as “Tentações de Santo Antão”, de Hieronymus Bosch, que a história da arte inclui nos exemplos máximos da pintura flamenga do início do século XVI, entre outras obras.