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Jesús Corona não bebe cerveja mas dá vitórias de bandeja (a crónica do FC Porto-Marítimo)

Este artigo tem mais de 4 anos

Afonso Cruz escreveu que Jesus Cristo bebia cerveja e não sabemos se Jesús Corona faz o mesmo. Mas que marca, cria e defende, não há dúvidas. O FC Porto venceu o Marítimo e é líder isolado da Liga.

O jogador mexicano chegou aos quatro golos na Liga esta temporada, o segundo melhor registo desde que chegou a Portugal
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O jogador mexicano chegou aos quatro golos na Liga esta temporada, o segundo melhor registo desde que chegou a Portugal

EPA

O jogador mexicano chegou aos quatro golos na Liga esta temporada, o segundo melhor registo desde que chegou a Portugal

EPA

Uma semana, uma derrota, um ato eleitoral, duas declarações públicas, um elogio mútuo. Este podia ser o resumo da última semana do FC Porto, uma semana que teve o primeiro jogo em mais de dois meses, a segunda partida consecutiva sem ganhar, a reeleição do presidente que lidera o clube há 38 anos e garantia de que Pinto da Costa deixou à disposição de Sérgio Conceição a decisão de continuar ou não enquanto treinador dos dragões após o final do atual contrato.

Na primeira entrevista depois da reeleição e da garantia de que vai começar o 15.º mandato consecutivo, Pinto da Costa sublinhou que se o treinador quiser renovar, “renova amanhã” — deixando a ressalva de que tudo pode acontecer, aproveitando o exemplo da saída de André Villas-Boas para ilustrar a situação. No dia seguinte, na antevisão da receção ao Marítimo, foi a vez de Sérgio Conceição deixar elogios ao presidente: ainda que sem revelar qualquer pista sobre o próprio futuro. “Estamos sempre a falar da mesma coisa, contrato e treinador. Tenho contrato, ponto. O presidente sabe bem aquilo que eu penso e a comunhão de ideias que existe entre nós (…) É o presidente mais titulado do mundo, com uma capacidade e uma inteligência fora do normal. Estamos a falar, se calhar, do melhor dirigente de sempre, na minha opinião”, afirmou o técnico, que em janeiro chegou a colocar o lugar à disposição, depois da derrota na final da Taça da Liga.

Ficha de jogo

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FC Porto-Marítimo, 1-0

26.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

FC Porto: Marchesín, Wilson Manafá, Mbemba, Pepe, Alex Telles, Corona, Danilo, Sérgio Oliveira (Diogo Leite, 88′), Luis Díaz (Uribe, 76′), Marega (Fábio Vieira, 72′), Zé Luís (Soares, 77′)

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, João Mário, Vítor Ferreira, Fábio Silva, Aboubakar

Treinador: Sérgio Conceição

Marítimo: Charles, Bebeto, Kerkez (Getterson, 63′), Zainadine, Rúben Ferreira (Bruno Xadas, 36′), Bambock (Milson, 76′), René, Diego Moreno (Vukovic, 45′), Nanu, Joel Tagueu, Maeda (Edgar Costa, 77′)

Suplentes não utilizados: Amir, Kibe, China, Pelágio

Treinador: José Gomes

Golos: Corona (6′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Diego Moreno (19′), a Luis Díaz (36′), a Wilson Manafá (57′), a Alex Telles (61′ e 86′), a Milson (79′), a Uribe (90+4′); cartão vermelho por acumulação a Alex Telles (86′)

Mas a verdade é que, esta quarta-feira, o FC Porto recebia o Marítimo no primeiro jogo no Dragão depois da retoma sob alguma pressão. Depois da derrota em Famalicão — que só não teve consequências mais graves porque o Benfica empatou com o Tondela –, e com o apito inicial a soar já depois de os encarnados voltarem a somar apenas um ponto em Portimão, os dragões tinham de ganhar para voltarem a ser líderes isolados da Primeira Liga. E para isso, Sérgio Conceição contava com um enorme reforço a custo zero: Alex Telles, que falhou a visita ao Famalicão por castigo e fez muita falta à equipa, estava de regresso ao onze. Em oposição, Otávio viu o 9.º cartão amarelo há uma semana e era a principal baixa.

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A entrada de Alex Telles no onze e a saída de Otávio motivavam a subida de Corona no relvado, para o setor intermédio, enquanto que Manafá mantinha a titularidade mas na direita da defesa. A principal alteração de Sérgio Conceição face à equipa que perdeu na primeira jornada da retoma surgia na frente de ataque, onde Soares era substituído por Zé Luís. Já o Marítimo, orientado por José Gomes, parecia apresentar-se em função do adversário que defrontava, com uma linha de cinco defesas com três centrais. Os primeiros minutos trouxeram a dinâmica natural e expectável, com o FC Porto a procurar controlar as ocorrências da partida — ainda assim, os dragões não estavam propriamente a conseguir construir com a bola no pé e iam trocando a posse na zona intermédia para depois procurar a profundidade de Corona e Luis Díaz nas alas.

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Ainda assim, e sem um enorme fluxo ofensivo inicial, os dragões conseguiram chegar cedo à vantagem, através de um segundo de génio de Jesús Corona — numa altura em que o Marítimo estava reduzido a 10 elementos, porque René estava a ser assistido. Canto batido na direita, ressalto depois da divisão de bola pelo ar e o mexicano, à meia volta, de primeira e de pé direito, atirou um remate perfeito em formato vólei que surpreendeu Charles e abriu o marcador (6′). No dia em que voltava a subir no terreno, depois de ter jogado mais recuado contra o Famalicão face à ausência de Alex Telles, Corona chegava aos quatro golos na Liga, o segundo melhor registo desde que chegou a Portugal, e tornava-se também no segundo jogador do FC Porto com mais intervenção em golos, logo atrás no lateral brasileiro.

Apesar da desvantagem, o Marítimo soube responder ao golo sofrido e ia aproveitando o espaço que o FC Porto deixava nas costas da defesa, por ter a primeira linha de construção muito subida no terreno. Quase sempre pela direita, através das subidas do lateral Bebeto e da mobilidade de Bambock, os madeirenses não demoraram a procurar a baliza de Marchesín: Maeda ficou muito perto de empatar, ao rematar ao lado praticamente sozinho (17′), e Joel obrigou o argentino a uma enorme defesa depois de um cabeceamento forte (23′). Do outro lado, Sérgio Oliveira foi o elemento dos dragões a causar mais perigo, ao cabecear à figura de Charles (22′), mas a verdade é que o FC Porto não estava a conseguir assumir por completo os desígnios da partida e ia permitindo que o Marítimo, a espaços, causasse lances de perigo na transição rápida.

José Gomes foi obrigado a realizar a primeira substituição da partida, com Rúben Ferreira a sair lesionado para a entrada de Bruno Xadas, e o Marítimo estava a conseguir impedir que o FC Porto entrasse pela faixa central, obrigando a equipa de Sérgio Conceição a lateralizar o jogo e a procurar outras soluções. No setor mais adiantado, Zé Luís e Marega estavam isolados e não eram alimentados pela zona intermédia e mais criativa: e se o maliano, à semelhança do que fez em Famalicão, ia passando ao lado da partida sem grandes intervenções, o cabo-verdiano parecia algo inconformado com a ausência de bola nos pés e recuava no terreno para ir buscar jogo, ainda que sem grande sucesso.

Até ao intervalo, Sérgio Oliveira ainda obrigou Charles a uma boa defesa, depois de um remate de fora de área, e Danilo cabeceou por cima na sequência de um canto. No final da primeira parte, o FC Porto estava a ganhar, tinha um resultado que lhe permitia voltar a ser líder isolado da Liga mas ainda não tinha o jogo totalmente decidido, já que o Marítimo não parecia comprometido com a ideia de passar o segundo tempo a lutar para não sofrer mais golos ao invés de procurar o empate.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do FC Porto-Marítimo:]

Na segunda parte, José Gomes tirou Diego Moreno, lançou Vukovic e tornou-se claro que o Marítimo ainda não tinha dado o jogo como totalmente perdido. Os madeirenses voltaram do intervalo a aplicar uma pressão alta que condicionava a saída de bola do FC Porto, algo que não tinham feito durante a primeira parte, e a equipa de Sérgio Conceição estava a ceder ao maior atrevimento do Marítimo sem conseguir soltar-se para chegar perto da baliza de Charles. Marega aproximou-se mais da ala mas continuava algo alheado de tudo o que se passava, Zé Luís insistia em recuar para pedir um passe e Corona pisava terrenos mais centrais, nas costas dos cabo-verdiano, para tentar criar uma ligação entre os setores.

Com o adiantar do relógio — e ainda sem lances de perigo –, foi sendo evidente que Alex Telles não iria aguentar os 90 minutos. O lateral brasileiro, que estava abaixo do nível normal durante toda a partida, acusou muitas dificuldades físicas no segundo tempo e deixou algo suscetível a ala esquerda do FC Porto, não só porque já não conseguia subir para atacar mas também porque ia permitindo demasiado espaço às escaladas de Bebeto. Era precisamente pela direita do ataque, tal como na primeira parte, que os madeirenses retinham grande parte da posse de bola (que a dada altura chegou a ser superior à dos dragões) e tentavam chegar a Maeda ou Joel na grande área.

Sérgio Oliveira, o mais inconformado do FC Porto, ia rematando de fora de área e era o único elemento da equipa de Sérgio Conceição que ainda tinha energia para pressionar alto e procurar recuperar bolas numa zona mais adiantada do terreno. A cerca de 20 minutos do apito final, o treinador dos dragões decidiu que era necessário reforçar o meio-campo, com o objetivo de segurar a importante vantagem, e lançou Fábio Vieira (que se estreou na equipa principal) e Uribe para as saídas de Marega e Luis Díaz, para além de trocar Zé Luís por Soares. Corona, um autêntico vagabundo, continuava a aparecer nos dois corredores, em zonas mais recuadas no meio-campo e atrás da referência ofensiva, sem posicionamento certo e enquanto faz tudo do FC Porto.

Até ao fim, e com o jogo a arrastar-se sem grandes sistemas táticos nem superior discernimento, Alex Telles ainda foi expulso por acumulação amarelos — num lance onde ficou patente não só o cansaço físico mas também psicológico do lateral brasileiro — e João Mário viu adiada a estreia na equipa principal. O jovem avançado de 20 anos, a par de Vítor Ferreira, estava a preparar-se para entrar quando Telles foi expulso e Sérgio Conceição, confrontado com a inferioridade numérica, optou por lançar Diogo Leite.

Em 2012, há já oito anos, Afonso Cruz assinou “Jesus Cristo Bebia Cerveja”, um dos livros mais celebrados e elogiados da última década de literatura portuguesa. Ora, se Jesús Corona bebe ou não cerveja, é complicado descobrir; mas que Jesús Corona mexe, cria e oferece vitórias de bandeja, isso é inegável. O mexicano, que acabou a partida em claras dificuldades físicas, tem o total voto de confiança de Sérgio Conceição e surge onde for necessário, sem posicionamento claro e sem amarras. E esta quarta-feira, contra o Marítimo, teve ainda o plus de ter marcado o golo da vitória. O FC Porto venceu os madeirenses no Dragão, longe de ser brilhante e com mais limitações físicas do que na primeira jornada da retoma, e voltou a ser líder isolado da Liga, com mais dois pontos do que o Benfica.

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