Menos de 24 horas depois de ser oficialmente reeleito como presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa deu esta segunda-feira a primeira grande entrevista depois do primeiro ato eleitoral em que teve dois adversários e acabou reconduzido para o 15.º mandato consecutivo. Um 15.º mandato que se vai estender pelos próximos quatro anos, até 2024, e que vai prolongar a liderança de Pinto da Costa até aos 42 anos, desde 1982. Ao Porto Canal, o presidente do FC Porto considerou que os 30% que votaram ou em José Fernando Rio ou em Nuno Lobo “não são muitos”.

“Tenho de respeitar as opções. Sinceramente, não acho muito. Ao fim de 38 anos de presidência, que dá sempre muito desgaste, num momento difícil e delicado em que tivemos e temos muitos problemas, ter 30% de sócios que não estão de acordo é uma coisa perfeitamente normal. Respeito e tenho tanta consideração por esses sócios como por qualquer sócio. Nunca apelei a que votassem em mim, apelei sempre a que viessem votar. Fizeram-me a vontade, vieram, fiquei feliz”, explicou Pinto da Costa, que venceu com 68,65% dos votos, naquele que foi o ato eleitorado mais participado desde 1988, com mais de oito mil eleitores. “Impressionou-me o número de votantes, foram 8.480. É um número impressionante para um clube no tempo em que estamos, com muita gente que tem receio”, acrescentou, referindo-se à pandemia de Covid-19 — que obrigou a fintar os estatutos para prolongar as eleições por dois dias — e lembrando que José Fernando Rio chegou a sugerir adiar o ato eleitoral.

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A entrevista desta segunda-feira foi apenas horas depois na Assembleia-Geral da Liga, onde Pinto da Costa marcou presença e onde acabou por ser aprovado um novo modelo de governação do organismo atualmente liderado por Pedro Proença. O presidente dos dragões garantiu que a posição do FC Porto “foi igual à de todos”. “Pedro Proença apresentou um resumo da sua atividade nestes últimos anos e toda a gente reconheceu que foi brilhante. Depois apresentou um novo modelo de governação que mereceu o acordo de todos os presentes. Não houve contestação ao presidente Pedro Proença, o trabalho que apresentou foi elucidativo daquilo que tem sido a sua atividade”, disse o presidente do FC Porto, garantindo que “gostaria muito” de que o antigo árbitro se recandidatasse. O líder dos dragões comentou ainda a nomeação de Cláudia Santos, deputada do PS, para a presidência do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, na lista de Fernando Gomes, algo que considera “incompreensível”.

Pinto da Costa foi ainda questionado sobre a possibilidade que surgiu nas últimas semanas e que apontava para a hipótese de Luís Duque, entretanto envolvido nos alegados “acordos secretos” entre o Benfica e o Desp. Aves desvendados pelo jornal Público, se candidatar à presidência da Liga de Clubes — algo que para o líder dos dragões só poderia acontecer “por brincadeira”. “Era uma aberração. Deus me livre! Nem é coisa para levar a sério”, atirou, comentando depois esse mesmo episódio, com encarnados e avenses como protagonistas, divulgado nos últimos dias. “Não sei que tipo de contratos são. Ouvi falar num escândalo. Vi notícias de o [Luís] Duque adiantava dinheiro. São coisas realmente esquisitas. Só posso garantir que isso não existe no FC Porto”, afirmou.

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Sobre o futuro à frente do FC Porto — e sobre a possibilidade de uma maior proximidade e presença nos órgãos de comunicação social –, Pinto da Costa lembrou que não pede “a ninguém para dar entrevistas”. “Desde 3 de junho que [o jornal] A Bola dava páginas, parangonas, aos outros dois candidatos. Páginas inteiras. Quem me quisesse insultar tinha primeira página garantida. Nunca pedi a ninguém para falar, nunca pedi a nenhuma televisão para dar uma entrevista. Quando me solicitam, se tiver oportunidade, dou com todo o gosto”, garantiu, num comentário que pareceu recordar o conflito público com Manuel José nos últimos dias.

Pinto da Costa revelou ainda que vai incumbir alguns juristas do Conselho Superior de desenharem uma alteração aos estatutos, que considera “ultrapassados”, que os reembolsos dos juros das obrigações em falta serão pagos a partir desta terça-feira e que Fernando Gomes será o responsável pela formação do FC Porto, enquanto que Vítor Baía, também eleito como vice-presidente, “vai estar ligado ao futebol”. O presidente dos dragões dedicou ainda vários minutos ao episódio do apedrejamento do autocarro do Benfica, na passada quinta-feira, e responsabilizou o secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, “pelas situações que estamos a viver” e por não ter condenado o assunto como fez noutros casos anteriormente.

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“Ainda recentemente um indivíduo da claque do Sporting foi espancado por uma dúzia ou mais de adeptos da claque do Benfica. Já houve uma morte, ali junto do estádio, por atropelamento [Marco Ficini]. Só que acontece uma coisa engraçada: quando são do Benfica, passa ao de leve. O que eu acho gravíssimo é que alguns comentadores quiseram passar a ideia de que seria uma retaliação da claque do Sporting. É a história da carochinha, é mandar areia para os olhos das pessoas. Sabe-se que são da claque do Benfica. E agora ninguém veio falar em terrorismo. Houve logo preocupação em tentar ilibar e depois já nem era bem a claque, era uma ala radical da claque. Isso é muito grave. Os responsáveis morais são esses senhores que por fanatismo tentam branquear tudo o que aconteça de mau feito por adeptos do Benfica”, defendeu Pinto da Costa.

Por fim, e em resposta a declarações de Luís Filipe Vieira, o presidente do FC Porto garantiu que Rui Moreira não teve qualquer intervenção no negócio com a Câmara Municipal de Matosinhos, que vai ceder um terreno para a construção da Cidade do Futebol dos dragões, e que “quem não fala do que não sabe e quem não é escrupuloso em defesa da verdade sujeita-se a dizer barbaridades”. O líder dos dragões garantiu ainda que Sérgio Conceição será treinador do FC Porto para o ano, “porque tem contrato”, e confirmou que quer que o técnico se mantenha no cargo a partir daí. “Se quiser renovar, renova amanhã. Já tive aqui um treinador que estava na cadeira de sonho e desapareceu”, referindo-se a André Villas-Boas.