Alex Zanardi é um sobrevivente. Já escapou à morte certa mais do que uma vez, competiu numa das modalidades de automobilismo mais perigosas e nunca optou pela solução mais fácil e mais compreensível: parar. Tudo isto pode ser descrito de mil e uma maneiras mas, esta semana, o Papa Francisco arranjou a frase perfeita para o italiano.

“Querido Alessandro, a tua história é um exemplo de como ser capaz de começar outra vez depois de uma paragem inesperada”, escreveu Francisco logo na abertura de uma curta carta que enviou a Zanardi, divulgada esta quarta-feira pela Gazzetta dello Sport. O Papa decidiu escrever ao atleta italiano de 53 anos porque, mais uma vez, a vida pregou-lhe uma partida. Na passada sexta-feira, enquanto competia numa prova de paraciclismo, Zanardi chocou com um camião que estava na faixa contrária e foi submetido a uma intervenção cirúrgica de várias horas, estando agora em coma induzido, situação em que deve permanecer pelo menos até à próxima semana.

“Através do desporto, ensinaste-nos a viver a vida como protagonistas, ao fazeres da deficiência uma lição para a humanidade. Estou a rezar por ti. Obrigado por teres dado força àqueles que a tinham perdido. Neste momento doloroso, estou perto de ti, rezo por ti e pela tua família”, acrescentou, de forma sucinta, o Papa Francisco. A carta teve como intermediário D. Marco Pozza, capelão da prisão de Pádua e jornalista, que se tornou amigo próximo de Zanardi por estar ligado ao desporto e à velocidade. À Gazzetta dello Sport, Pozza explicou que o italiano sente uma proximidade muito grande ao pontificado de Francisco devido à importância que o atual Papa sempre deu às dificuldades vividas pelas pessoas com deficiência física — e à “tentativa de lhes restaurar a auto-estima”.

2016 Rio Paralympics - Day 9 - Mixed Team Relay H2-5

O italiano foi duplamente campeão paralímpico tanto em Londres como no Rio de Janeiro

Isto porque o acidente desta sexta-feira está longe de ser o primeiro desafio da vida de Alex Zanardi. Em 2001, quando tinha 35 anos e já depois de correr durante cinco temporadas no Mundial de Fórmula 1, sofreu um grave acidente de carro numa etapa do American Memorial, uma prova de automobilismo que nesse ano passou pela Alemanha. Teve de ser duplamente amputado mas voltou às corridas menos de dois anos depois, ao competir no European Touring Car Championship logo em 2003 e no World Touring Car Championship em 2005, onde acabou por alcançar quatro vitórias.

Nessa altura, e a par do automobilismo, demonstrou interesse em entrar no mundo do paradesporto, principalmente no paraciclismo. Colocou como meta representar Itália nos Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012, e cumpriu: ganhou uma medalha de prata e duas de ouro na capital inglesa e na edição seguinte, no Rio de Janeiro, repetiu o mesmo registo. Já conquistou 12 títulos mundiais, venceu a maratona de Nova Iorque, e chegou como antigo piloto de Fórmula 1, campeão paralímpico e sobrevivente a esta sexta-feira, dia em que a vida lhe colocou mais um obstáculo.

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