Uma, duas, empate. Uma, duas, empate. Uma, duas, derrota. Uma, duas, empate. O percurso revelação feito na Premier League na época passada teve pelo meio mini séries de três vitórias consecutivas até ao sétimo lugar com 57 pontos que permitiu que o Wolverhampton chegasse às provas europeias quase quatro décadas depois. Agora, e quando se chega à fase final do Campeonato, nunca a equipa tinha conseguido esse registo de três triunfos seguidos na competição e este sábado era mais uma possibilidade de chegar a essa meta, dando continuidade às vitórias com West Ham e Bournemouth após a retoma. E que valia, à condição, uma subida ao quinto lugar.

“Não pensamos na Liga dos Campeões, só em fazer bons jogos e melhorar sistematicamente. É esse o objetivo da equipa neste momento. Estamos muito orgulhosos do que estamos a construir mas ainda temos um longo caminho a percorrer e muitas coisas para melhorar”, alertou Nuno Espírito Santo, ciente das dificuldades que iria encontrar frente a uma formação a tentar fugir à despromoção. “O Aston Villa é uma equipa muito complicada e com bons jogadores. A classificação não significa nada e neste mini torneio que estamos a viver tudo é possível”, acrescentou sobre uma Premier League que, ainda assim, tem tido menos surpresas do que outras ligas europeias.

Mais uma vez, não houve surpresa. E o Wolverhampton até prolongou os feitos históricos que tem alcançado: além de ter conseguido a primeira série de três vitórias consecutivas na Premier League, somou o oito encontro seguido sem derrotas no Campeonato (algo que só tinha conseguido há 40 anos…) e voltou a não sofrer, aumentado o recorde interno que já tinha sido alcançado em 2019/20 com 11 partidas sem golos consentidos numa só edição da prova. Mais do que isso: depois do golo de Aurier aos 45′ do triunfo frente ao Tottenham, Rui Patrício não consente qualquer golo há 405 minutos. Depois, lá na frente, há sempre alguém que consegue decidir. E se este sábado Raúl Jiménez, um dos avançados da moda na Europa, ficou em branco, o médio belga Dendoncker foi lá à frente aos terrenos onde costumam surgir Rúben Neves e João Moutinho e apontou o único golo do encontro.

Mantendo as mesmas opções dos dois encontros iniciais da retoma, com quatro portugueses nas opções iniciais (Rui Patrício, Rúben Neves, João Moutinho e Diogo Jota) e outros tantos no banco de suplentes (Rúben Vinagre, Bruno Jordão, Pedro Neto e Daniel Podence), o conjunto de Nuno Espírito Santo chocou nos minutos iniciais com o Aston Villa ainda mais na expetativa do que é normal e no estilo monocórdico que colocou a equipa nas últimas posições: ou a bola entra em Jack Grealish, um mundo à parte na formação de Dean Smith, ou a única alternativa passa pelo jogo mais direto ou na profundidade em Keinan David e Samatta. Assim, e nos 20 minutos iniciais, o único lance com algum perigo acabou por ser um desvio de cabeça de Raúl Jiménez ao primeiro poste após livre lateral na direita, com defesa atenta a Nyland que conseguiu colocar-se nessa zona por antecipação (18′).

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Uns minutos depois, numa fase que coincidia com uma subida de linhas progressiva dos Wolves em campo, Matt Doherty conseguiu entrar na área descaído sobre a direita num lance onde ganhou quase sem querer um ressalto de bola mas deslumbrou-se com a oferta a rematou às malhas laterais (24′). O Aston Villa era mais do mesmo, ou seja pouco mas, como dizia e bem Luís Freitas Lobo a comentar o encontro na SportTV, havia sempre a hipótese de fugir à monotonia da exibição olhando apenas para os movimentos de um jogador, neste caso Grealish, que quando ganhou o mínimo espaço tentou a meia distância para defesa de Rui Patrício (37′). E como um mal nunca vem só numa formação que quer fugir à despromoção mas carece de argumentos para esse objetivo, Nyland, guarda-redes que entrou com a bola na baliza no golo fantasma não validado no regresso da Premier com o Sheffield United, colocou de forma inadvertida a bola nos pés de Diogo Jota que, isolado, rematou por cima (42′).

As imagens televisivas, até de forma algo cruel, focavam no banco a cara incrédula de Pep Reina, ex-internacional pela seleção espanhola que não sai do banco do Aston Villa. No entanto, não foi pelo guarda-redes que os visitados perderam frente ao Wolverhampton. Nem sequer pelo comportamento defensivo, que globalmente esteve bem até entrar em campo Adama Traoré e andarem sempre dois ou três jogadores de volta do avançado que quando decidia acelerar não tinha concorrência. O que fez a diferença, sobretudo no segundo tempo, foi a eficácia e o remate vitorioso de Dendoncker à entrada da área que decidiu o encontro e fez mais história no clube (62′).

Desta forma, e num fim de semana marcado sobretudo pelos quatros jogos a contar para os quartos da Taça de Inglaterra, o Wolverhampton subiu à condição ao quinto lugar com 52 pontos, a dois do quarto classificado Chelsea e a três do terceiro, o Leicester (que tem vindo a quebrar nas últimas jornadas). O calendário não é o mais fácil nos jogos seguintes, com Arsenal (casa), Sheffield United (fora) e Everton (casa), mas a equipa de Nuno Espírito Santo ganhou pelo menos a possibilidade de lutar por um inédito lugar na Champions até ao final.