Que Cristiano Ronaldo é um dos melhores do mundo mesmo aos 35 anos, ninguém tem dúvidas. Que tem algumas características únicas no futebol mundial, também não. Que é um fator decisivo em qualquer encontro de qualquer prova em qualquer contexto, ainda menos. Mas mesmo neste cenário, o português é diferente. E o último jogo da Juventus, na receção à Lazio, foi exemplo paradigmático disso: os dois golos ficaram como imagem de marca, a chegada aos 30 golos na Serie A reforçaram esse peso mas foi na forma como correu até à sua baliza para falar com Szczesny a dar indicações de como deveria defender uma grande penalidade que esteve o grande pormenor. Sim, era o possível 2-1. Mas sim, era também um possível golo de Ciro Immobile, principal adversário na luta pelo melhor marcador do Campeonato. E não há nada que passe ao lado de alguém que procura a perfeição.

30 golos em 30 jogos, melhor marcador da Serie A e mais recordes batidos: Ronaldo bisa e entrega título de bandeja à Juventus

“Falei com o Cristiano e disse-me que se sente muito bem. Tem uma grandíssima capacidade de recuperação, faz parte do seu ADN, como a capacidade de projetar-se até ao próximo objetivo a nível coletivo e individual. As suas capacidades de recuperação física e mental não são comuns”, admitiu Maurizio Sarri no lançamento da partida com a Udinese, ainda antes de conhecer os resultados dos adversários diretos. “Ele é um campeão, da cabeça aos pés”, reforçou, a propósito dos 16 minutos que perdeu nos últimos oito encontros (depois da pandemia) mesmo havendo ainda uma Liga dos Campeões por disputar – e por haver ainda a luta pelo melhor marcador da Serie A e também da própria Bota de Ouro, estando a quatro de Robert Lewandowski que já terminou a Bundesliga.

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A Juventus nem teve o melhor recomeço na Serie A depois do regresso do futebol, tendo cinco vitórias, dois empates e uma derrota com um período onde cedeu sete pontos em nove possíveis de forma consecutiva (AC Milan, Atalanta e Sassuolo). Ainda assim, ou mesmo assim, entrava em campo em Udine sabendo que com mais um triunfo carimbava o nono Campeonato consecutivo de Itália, num total de 36 – os mesmos que AC Milan e Inter juntos, o dobro de cada um em separado e quatro vezes mais do que a quarta equipa com mais títulos ganhos, o Génova. Para Ronaldo, era mais do mesmo: um jogo, uma missão. Depois da pandemia, foi titular nos oito jogos, só não fez os 90 minutos num deles, marcou nove golos e ficou apenas em branco com o Sassuolo.

Esta quinta-feira, o capitão da Seleção voltou a não marcar, a Juventus não conseguiu também ganhar à Udinese e a decisão do título ficou adiada pelo menos até domingo, na receção à Sampdória. Mas se esse triunfo na Serie A é uma questão de tempo, a luta por ser o melhor marcador do Campeonato vai fazer com que Ronaldo fique à espera do que fará Ciro Immobile pela Lazio frente ao Cagliari. E com três jornadas por disputar, há uma outra meta que pode ainda alcançar: a Bota de Ouro, caso consiga marcar cinco golos e ultrapasse Lewandowski (34).

Com três alterações em relação à equipa que defrontou a Lazio na última jornada em Turim, com as entradas de Danilo e Rugani na defesa para os lugares de Cuadrado e Bonucci e Bernardeschi em vez de Douglas Costa na frente, a Juventus teve um início forte no encontro, disposta a acabar rápido com o encontro com dois remates perigosos de Ronaldo, para defesa de Juan Mosso (4′) e a rasar o poste da baliza dos visitados (26′), e um grande calafrio pelo meio com uma bola no poste da Udinese na sequência de um cruzamento de uma cara conhecida do futebol português, Marvin Zeegelaar (ex-Sporting e Rio Ave). Com o passar dos minutos, o ritmo e a intensidade foram caindo mas foi nesse período que surgiu o golo inaugural, com Matthijs de Ligt a ir ao meio-campo contrário, a ganhar uma segunda bola fora da área e a rematar rasteiro sem hipóteses para o 1-0 (42′).

O intervalo chegava com a Juventus a liderar em todos os capítulos de jogo: remates (7-3), posse de bola (55%), cantos (3-0) e até nos quilómetros percorridos, o que nem sempre acontece (56.7-55.5). E no que mais interessa, os golos. No entanto, um mau início do segundo tempo colocou tudo na estaca zero, ou um, ao mesmo tempo que mostrou aquele que continua a ser o grande problema desta Vecchia Signora nesta fase: com erros consecutivos na transição, nos posicionamentos e nas marcações, a Udinese foi ganhando confiança para ir mais à frente, colocava em três/quatro toques a bola no último terço e chegou ao empate por Nestorovski, que já antes tinha ameaçado com um remate ao lado mas que, de cabeça, não perdoou ao segundo poste para o 1-1 (52′).

Ronaldo e Dybala, numa combinação que acabou com remate do argentino ao lado, tentaram reagir de pronto mas a Juventus nunca foi capaz de fugir a um jogo completamente previsível, sem rasgo e que terminou da pior forma, com Seko Fofana a surgir isolado na área contrária após mais uma avenida aberta pela formação de Turim para fazer o 2-1, carimbar praticamente a manutenção e adiar todas as decisões do título para o fim de semana.