Tinha nas mãos uma abordagem prometedora do Flamengo para suceder a Jesus, sabia que a Premier League ia criando espaço para um regresso que parece ser uma questão de tempo, teve também conhecimento das sondagens feitas de outras ligas estrangeiras. Após um final de Campeonato com muita emoção à mistura onde esteve dentro e fora da Europa com o Rio Ave até ao último minuto dos descontos até confirmar o quinto lugar depois de uma série de recordes batidos, Carlos Carvalhal admitiu que queria apenas “hibernar” mas o convite do Sp. Braga tocou no coração do treinador e, 14 anos depois, aceitou regressar ao clube onde se formou também como jogador.

Carvalhal bateu recordes, colocou Rio Ave na Europa e escreveu uma história que atravessou o Atlântico (e chegou ao Flamengo)

“Digo que vou vestir a pele do clube e desta vez vai ser mais simples, esta é a minha pele. O meu ADN é Braga. O meu ADN tem muito do ADN do Braga, sempre o culto de ganhar os jogos todos. Estou muito satisfeito de voltar a casa e pelo convite do presidente António Salvador. A diferença [da qualidade do clube] é avassaladora, entre a minha última passagem e agora. Estamos animados por disputar os jogos cara a cara com todos os adversários e para dar alegria aos adeptos do Sp. Braga, que também evoluiu com o clube, algo que não existia há uns anos atrás. Agora sim, existe braguismo”, destacou o treinador, na cerimónia de apresentação desta quarta-feira, após assinar contrato com os arsenalistas para as próximas duas temporadas com uma cláusula de dez milhões.

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“Porque aceitei? Não gosto de trabalhos incompletos, é uma coisa que não lida comigo. Sentia que tinha um trabalho para concluir aqui. No momento da minha saída do clube, foram levantadas algumas questões sobre a minha ligação com o clube. Na altura, os meus filhos ainda estavam na idade escolar, os miúdos entre eles são muitos maus e custava-me vê-los chegar a casa sempre a chorar. Não por mim mas pela pressão que a minha profissão exigia. Ironia do destino, a vida dá muitas voltas e os impulsionadores da minha vinda para aqui, para além do presidente, foi a minha família. Nunca contrariei a minha família pelas minhas decisões, desta vez teve um grande impulso da minha família. Senti que foi uma decisão muito fácil”, acrescentou Carvalhal, antes de se referir também à possibilidade Flamengo como “uma situação completamente irrelevante”.

“Devem reparar no meu percurso que a minha carreira é um bocado atípica. Recordo que treinava o Desp. Aves e fui para o terceiro escalão. Estava no Swansea, depois vim treinar o Rio Ave. Por muito respeito ao Rio Ave, os meus amigos disseram-me que era maluco ou que tinha uma auto-confiança muito grande. As minhas decisões têm sido muito mais de convicção. Há um princípio basilar desde há muitos anos: sentir que um clube me quer. Temos de estar ligados emocionalmente. Quando tive o convite do Sp. Braga, não quero saber em que lugar está o clube, o que importou foi o facto de sentir que o Sp. Braga queria-me para ser treinador. Seguir o que acho que é bom para mim, sem pensar no dinheiro, na carreira, foi sempre assim que fiz”, acrescentou ainda a esse propósito.

Já António Salvador, presidente do Sp. Braga, recordou a situação atípica de ter ficado sem dois treinadores numa só época por compra do PAOK e do Sporting e elogiou a evolução de Carvalhal nos últimos 14 anos.

“Tivemos cinco treinadores na última temporada, foi o Abel quem preparou a pré-época. Devemos ser o único clube do mundo que conseguiu vender dois treinadores na mesma época. Quero, desde já, agradecer a todos por todo o trabalho que aqui fizeram. Isto prova o trabalho que aqui se desenvolve. Este clube não é de uma pessoa só, é de toda uma estrutura. Com o mister Carvalhal vamos ter a estabilidade que desejaríamos este ano. Vencemos uma Taça da Liga e fizemos uma campanha espetacular na Liga Europa. Ao remarmos todos para o mesmo lado, faremos coisas muito importantes”, começou por destacar o líder dos arsenalistas.

“O mister volta a uma casa que nunca deixou de ser dele, onde se formou como atleta, profissional e como homem. Carvalhal é um treinador à imagem do Braga, um profissional que pratica o futebol que pratica. Põe as equipas a valorizar os seus jogadores, é um treinador português, dos melhores do nosso Campeonato. E cresceu muito desde a última vez que esteve cá, assim como o clube. É a pessoa certa para o clube, para levá-lo aos seus compromissos”, salientou, continuando: “Sei que falaram de vários nomes mas a minha ideia foi sempre a primeira e única. Nunca desisti, mesmo tendo propostas para ir para fora, Flamengo, etc. Foi sempre a minha primeira ideia porque tem um futebol positivo e, tal como disse agora, quer lutar em qualquer campo pela vitória”.

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“O crescimento é o nosso caminho. O passado dos últimos anos tem dito exatamente isso e as classificações têm sido claras. Só olhamos para dentro e não para fora”, comentou ainda António Salvador, a propósito da frase do homólogo leonino Frederico Varandas, que disse que o Sp. Braga jamais será rival do Sporting.