São 22 os concelhos portugueses onde há ruas com o nome de António de Oliveira Salazar e esse levantamento motivou a criação da petição “Retirar Salazar de nome de rua” que, até à data tem 280 assinaturas. O autor, Luís Braga, professor de História, em declarações ao Correio da Manhã, explica a diminuta adesão: “A preocupação é a pandemia. Não se valoriza questões simbólicas da memória.”

Segundo as suas contas, os concelhos em causa são mais de duas dezenas — Ansião, Armamar, Cadaval, Campo Maior, Castelo Branco, Carregal do Sal, Coimbra, Lages do Pico, Leiria, Lisboa, Melgaço, Odemira, Paredes, Penedono, Peniche, Santa Comba Dão, Santarém, Santo Tirso, Tomar, Vila Flor, Vila Nova de Gaia e Viseu. Para além da petição, Luís Braga endereçou cartas a todos os presidentes de câmaras e assembleias municipais, mas só Carregal do Sal respondeu, garantindo que a rua não existe.

Essa é, aliás, uma das perguntas que o autor da petição lança às 22 autarquias, como se pode ler no documento.  Luís Braga pede que o edil “confirme publicamente a existência, ou não, de tal topónimo” e divulgue os documentos “em que se baseou a decisão administrativa de atribuir ou manter tal designação num arruamento do concelho”. Para além disso, pede que seja promovido “um debate público junto da população e dos órgãos autárquicos, tendo em vista a remoção urgente de tal designação da via pública”.

Debate sobre a memória do passado

Na petição, disponível online, explica-se o motivo da sua criação. “Recentemente, o debate público sobre a memória política do passado e sobre os monumentos que, no espaço público, recordam, entre outros, factos como o racismo ou a opressão permitiu constatar que existem em Portugal muitos arruamentos, bairros, largos ou praças com o topónimo António de Oliveira Salazar.”

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Luis Braga escreve ainda que o topónimo aparece em versão abreviada do nome ou acompanhado dos títulos de Doutor ou Professor Doutor e “até com notas biográficas complementares como ‘estadista’, ‘governante’, ou outras”, que, na sua opinião, “não traduzem uma visão rigorosa e completa da sua ação como personagem histórica”.

É patente que a existência do topónimo visa, ou por inércia face ao passado, ou por intenção, exaltar, no espaço público de uma Democracia, alguém que se assumiu e agiu opressivamente como ditador antidemocrático”, lê-se ainda na petição.

Ao Correio da Manhã, Luis Braga insiste no mesmo argumento e diz ser preciso acabar com a visão falsa de que Salazar foi um grande homem: “Devemos perguntar se uma democracia deve homenagear a memória de um ditador, que assumiu ser antidemocrata e torturou e assassinou. A democracia não é um regime de totós, temos de ser tolerantes, mas não temos de tolerar uma homenagem a um ditador.”