Há cerca de duas semanas, já depois de o regresso de Jorge Jesus ao Benfica estar confirmado e de a consequente saída do Flamengo estar também decidida, as notícias dos jogadores que o treinador poderia levar consigo na travessia transatlântica começaram a surgir. Logo à partida, as mais óbvias, sobre elementos dos próprios rubro-negros, com Gerson e Bruno Henriques a aparecerem na linha da frente. Depois, foi dado o passo seguinte, com as notícias sobre jogadores de outros clubes brasileiros que Jesus queria resgatar para trazer para Portugal.
Entre todos, o nome mais comentado foi o de Everton Cebolinha, avançado do Grémio e um dos eleitos do treinador português para reforçar o ataque do Benfica. Mas outro brasileiro, ainda que sempre mais na retaguarda, foi surgindo com frequência na rota dos encarnados – Gilberto, lateral direito do Fluminense que terá impressionado Jorge Jesus nos recentes jogos na Taça Rio e na final do Campeonato Carioca. Precisamente há duas semanas, altura em que a ideia de uma equipa do Benfica montada pelo novo técnico começava a ganhar forma, o UOL garantia que Jesus tinha recomendado a contratação de Gilberto tanto ao Flamengo, enquanto ainda estava no Brasil, como ao Benfica, já depois de aceitar a proposta de Luís Filipe Vieira. Ainda assim, o jornal brasileiro indicava que nem um nem outro clube tinham feito aproximações pelo lateral.
Duas semanas depois, o caso mudou de figura. Tal como Everton Cebolinha, que deverá chegar do Grémio a troco de 20 milhões de euros, Gilberto vai ser reforço do Benfica para as próximas temporadas. O Globoesporte adianta que o lateral direito já terá viagem marcada para Portugal para realizar os habituais testes médicos e que, em caso de aprovação, já nem vai defrontar o Grémio no próximo domingo, na primeira jornada do Brasileirão. O jogador marcou o golo que custou a Taça Rio ao Flamengo nas grandes penalidades, fez por mais do que uma vez a diferença nas bolas paradas mas foi sobretudo pela forma como conseguiu travar as movimentações de Arrascaeta e/ou Bruno Henrique da esquerda para o meio, “secando” parte do ataque rubro-negro. Foi isso que convenceu de vez Jesus, que sabia que nunca conseguiria contratar o lateral se estivesse no rival carioca.
A imprensa brasileira fala num negócio a rondar os três milhões de euros (mais do que o Benfica ofereceu numa primeira abordagem, menos do que pedia o Fluminense no início até por ter apenas 50% dos direitos económicos do jogador) e um contrato de cinco anos para o lateral, ficando por saber o que prende nesta altura a contratação de Everton Cebolinha: os prazos de pagamento. No caso de Gilberto, a possibilidade de o clube carioca reter parte da percentagem de uma futura venda ou de uma futura mais valia não coloca entraves ao negócio.
O lateral de 27 anos, internacional Sub-21 pela seleção brasileira, começou a dar nas vistas ainda adolescente no CFZ, o Centro de Futebol Zico do Rio, uma associação desportiva fundada pelo histórico jogador do Flamengo. Mudou-se para o Botafogo aos 15 anos e aos 18 estreou-se nas competições profissionais, numa derrota dos alvinegros com o Boavista. Chegou a ser emprestado ao Internacional mas nos anos seguintes e sob a orientação de Oswaldo de Oliveira, que mais tarde acabaria por reencontrar no Fluminense, teve mais oportunidades e agarrou a titularidade na direita da defesa, fazendo parte da equipa do Botafogo que ganhou o Carioca (2013), duas Taças Guanabara (2013 e 2015) e uma Taça Rio (2013), ficando ainda no terceiro lugar do Brasileirão, também em 2013.
As boas exibições no Rio de Janeiro abriram-lhe as portas da Europa e garantiram uma transferência para a Fiorentina no verão de 2015, a troco de 1,7 milhões de euros, num negócio onde o CFZ ainda lucrou com 50% do valor total. A aventura europeia, porém, não correu bem a Gilberto: o lateral direito estreou-se ao cumprir os 90 minutos de uma vitória com o AC Milan, naquela que poderia ser uma boa indicação para o futuro, mas acabou por ser pouco aproveitado por Paulo Sousa ao longo da temporada. Em seis meses na equipa viola, fez apenas sete jogos e acabou por ser emprestado ao Hellas Verona logo no mercado de inverno. A dinâmica pouco se alterou, Gilberto fez apenas cinco partidas até ao fim da temporada e acabou novamente emprestado pela Fiorentina, desta feita ao Latina, que disputava a Serie B. O brasileiro foi opção regular no onze inicial mas uma lesão afastou-o dos relvados durante 10 jornadas, motivando um novo empréstimo a meio da época.
Empréstimo esse que, apesar de tudo, providenciou o regresso de Gilberto ao Brasil. Em janeiro de 2017, o lateral foi cedido ao Vasco da Gama, onde agarrou novamente a titularidade na direita da defesa. Uma nova lesão, porém, dificultou o percurso do jogador, que deixou o Vasco da Gama com mais uma Taça Rio no palmarés. Mais um ano, mais um empréstimo e em dezembro de 2017 Gilberto mudou-se para o Fluminense. O primeiro semestre de 2018 trouxe o melhor período da carreira profissional do jogador, que marcou oito golos e rapidamente assumiu um papel de destaque na equipa carioca. Com o empréstimo renovado e o respaldo da equipa técnica do Fluminense, o agora reforço do Benfica voltou a lesionar-se no joelho e perdeu a pré-temporada de 2019/2020 — o que não impediu o clube do Rio de em dezembro do ano passado ter acertado a contratação definitiva do lateral. Cinco anos e quatro empréstimos depois, Gilberto desvinculou-se finalmente da Fiorentina e assinou até julho de 2022. Este ano e com a interrupção causada pela pandemia pelo meio, leva três golos em 18 jogos e foi então um dos destaques do Fluminense nas últimas partidas contra o Flamengo.
Regressa à Europa para tentar ter mais sorte e mais oportunidades, com a garantia de que é uma das apostas de Jorge Jesus para o futuro do Benfica. Gilberto vai rivalizar diretamente com André Almeida na direita da defesa e servir como alternativa mais definitiva para o habitual titular, já que as lesões do lateral foram este ano solucionadas pelo jovem Tomás Tavares.