“Mano? Mano?! Este fall guys que saiu na plus este mês é do caraças”
O ritual já é algo familiar para quem tem uma PS4 e assina o serviço online da PS Plus. Todos os meses esperamos pelo anúncio dos jogos mensais disponibilizados pelo serviço, divididos entre experiências de single-player que queremos absorver, ou por estes fenómenos mais dependentes da comunidade que queremos partilhar com amigos. Geralmente, a proposta de valor dos fenómenos online é evidente: são pesos-pesados, já com algum tempo, mas o advento da sua disponibilidade mensal ligada ao custo da subscrição para os assinantes significa um reanimar do interesse no jogo. Os recentes “Call Of Duty: World War II”, “Star Wars Battlefront 2” ou “NBA 2K20” são bons exemplos disso mesmo. E depois temos os meses em que a proposta de valor é menos óbvia, vinda na pele de um bonequinho-cápsula — ou uns sessenta de cada vez — a competir pela coroa virtual mais importante dos últimos tempos.
E quando assim é, geralmente a resposta ao repto lançado acima aos nossos “manos do online” é algo como:
“Isto parece-me incrivelmente idiota. 10/10, quero jogar!”
O melhor exemplo deste tipo de lançamento será “Rocket League”, que em 2015 aparece, também sai na PS Plus e acaba por conquistar o mundo aos bocados. Entretanto tornou-se num jogo lendário, que se teima em não desinstalar porque, nem que seja em 15 minutos de cada vez, nunca deixou de ser incrivelmente divertido — e a sinopse “és um carro telecomandado que joga à bola”, também nunca deixou de ser incrivelmente idiota. “Fall Guys: Ultimate Knockout” e “Rocket League” são dois jogos em que a idiotice e o brilhantismo andam de mãos dadas numa linha muito ténue. Como existem num meio em que a interatividade e a repetição viciante são um fator muitas vezes subvalorizado, merecem dominar o mundo, nem que seja por uma semana. A Mediatonic, empresa que desenvolveu o jogo, parece bem ciente deste hype, e as contas de Twitter de “Fall Guys” e da sua coruja que nos dá o status dos servidores têm sido bastante divertidas de seguir nos últimos dias.
[o trailer de “Fall Guys: Ultimate Knockout”]
O marketing deste tipo de lançamento é particularmente inspirado, e na altura da escrita deste texto o jogo não abandona os lugares cimeiros da plataforma de streaming Twitch. Mas o marketing só por si nunca faz com que estas coisas funcionem, pelo que importa então descrever o que fazemos efectivamente em “Fall Guys”. O jogo é, em essência, um battle-royale, géner que também pode ser decsrito como “o últimoa sobreviver, ganha”. E, como tal, os seus níveis competitivos estão sempre em alta. Cada sessão, ou “episódio”, como são chamados, dura cerca de 15 minutos dividido por vários mini-jogos de 24 possíveis. As corridas, cheias de obstáculos como moinhos ou tubos para ultrapassar — como The Whirlygig ou Slime Climb — talvez sejam o maior destaque, porque conseguem agarrar imediatamente o jogador na física e confusão que o jogo procura sempre. Os jogos de equipa, como Egg Scramble ou Fall Ball, baseados numa espécie de basquetebol (mas com ovos) ou futebol, ou então num tag-team de agarrar caudas alheias, conseguem ser incríveis e frustrantes em igual medida. E depois há a final mais comum, Hex-A-Gone, em que o objetivo é ser o último a aguentar na queda por várias plataformas verticais, numa experiência de tensão pura na perseguição da ambicionada vitória — conseguimos uma, uma mísera vez, mas que não vamos deixar de a gabar com orgulho.
É um conceito equiparável a concursos como Takeshi’s Castle ou Wipeout, que se adapta muito bem a estas pequenas doses rápidas de adrenalina, tudo embrulhado numa direção de arte muito bem conseguida. As nossas personagens-cápsula são altamente costumizáveis, sendo esse o objetivo de adquirir a moeda do jogo e das suas microtransações. Tudo neste pequeno mundo está cheio de cor e sons fofinhos a condizer. A música é ótima, embora em sessões um pouco maiores se torne algo repetitiva. A simplicidade dos movimentos à nossa disposição, feita de três botões, no fundo, saltar, mergulhar e agarrar, com os analógicos para movimento, e está feita a festa.
A crítica que podemos apontar a este “Fall Guys”, além da sua ocasional repetição sonora, nem é particularmente justa. Com níveis tão curtos, é fácil chegar rapidamente a um ponto em que já vimos mais ou menos tudo o que há para ver. Mas a aceitação que o título teve no seu lançamento — que inclusivamente levou a vários problemas de servidores num jogo que não tem qualquer tipo de modo offline — certamente levará a uma série de updates que trarão mais conteúdo num futuro que se espera próximo e risonho.
Numa altura em que muitos jogos nos pedem compromissos de muitas e muitas horas, “Fall Guys” não pede mais do que 15 minutos e isto é se formos bons — que, enfim, nem sempre somos. É uma experiência que raramente acaba sem um “só mais um joguinho e já vamos”. Especialmente quando chegamos a alguma das fases finais e ficamos para aí em segundo, que neste tipo de jogos é sempre o maior primeiro dos últimos. É tenso, mas nunca deixa de ser divertido, e isso daqui para a frente, resolvidas as questões de servidores e com mais níveis, só poderá melhor. Tudo altamente recomendável.
Título: “Fall Guys: Ultimate Knockout”
Data de lançamento: 4 de agosto de 2020
Desenvolvimento: Mediatonic
Plataformas: Steam, PlayStation 4