A intensidade colocada nos treinos, o facto de começar mais cedo e com plantel definido a mais de 90%, e todos os resultados conseguidos ao longo da pré-temporada contra equipas da Primeira (4-0 ao Belenenses SAD, 5-1 frente ao Farense) e da Segunda Liga (Estoril e Benfica B, ambos 4-0) faziam antever um Benfica de Jorge Jesus já com uma versão rolo compressor, capaz de condicionar o jogo adversário e de ir criando várias oportunidades junto da baliza adversária. O primeiro teste aberto ao público foi em parte assim: uma equipa mais vertical, a acelerar mais do meio-campo para a frente, inclinada para o ataque. No entanto, ainda há muito trabalho para fazer porque uma equipa não vive apenas dessas ações e, em alguns períodos, ficou até partida para benefício do Bournemouth.

Apesar de estar no Championship, o conjunto inglês tem futebol de Premier League e alguns jogadores sobretudo no setor ofensivo com grande qualidade. E foi assim que conseguiu empatar logo depois do 1-0 de Taarabt, que teve uma oportunidade flagrante para fazer o 2-2 depois do golo de Everton Cebolinha e que ameaçou o empate por mais do que uma ocasião na segunda parte. O Benfica venceu por 2-1 na Luz no regresso de Jorge Jesus ao banco dos encarnados mais de 1.900 dias depois e deixou boas indicações para uma época que começará em termos oficiais com a terceira pré-eliminatória da Champions a 15 ou 16 de setembro. Aliás, nas ações ofensivas, percebe-se que a ideia está lá, ao contrário do que se foi passando em vários lances dos ingleses em transição ou ataque organizado que colocou algumas debilidades da linha defensiva em termos coletivos.

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O ONZE INICIAL (4x2x3x1). Vlachodimos; André Almeida (Gilberto, 71′), Rúben Dias, Vertonghen (Ferro, 79′), Nuno Tavares (Chiquinho, 79′); Weigl (Florentino Luís, 68′), Taarabt (Gabriel, 68′); Everton Cebolinha (Diogo Gonçalves, 67′), Pizzi (Waldschmidt, 46′), Rafa (Cervi, 67′) e Seferovic (Carlos Vinícius, 46′). Golos: Taarabt (13′), Danjuma (17′) e Everton Cebolinha (21′)

O MELHOR. A dinâmica com e sem bola que o corredor central teve juntando Adel Taarabt na posição 8 e Pizzi como falso número 10/segundo avançado, deixando as alas para Rafa (que fez mais encontros nos últimos tempos na frente a apoiar o número 9 do que a jogar por fora). À exceção da primeira época na Luz, em 2009/10, em que Javi García era o pivô defensivo do meio-campo, Aimar jogava como 10 e havia dois avançados na frente (Saviola e Cardozo), Jorge Jesus nunca abdicou de um 8 e conferiu a esse papel uma especial importância para o equilíbrio e para as dinâmicas do coletivo (exemplos: Witsel ou Enzo Pérez). Taarabt cumpriu. Mais do que cumprir, conseguiu destacar-se. Pelo golo de fora da área após recuperação ainda no último terço contrário, pelas segundas bolas que foi ganhando e pelas várias ações ofensivas que iniciou, o marroquino foi dos melhores em campo.

O PIOR. Em contrapartida, A posição 6 tem especial importância na ideia de jogo de Jorge Jesus, não só para fazer movimentos de compensação numa das laterais nas transições mas também pela forma como tem de “colar” linhas para evitar o jogo nas suas costas e as segundas bolas. Não se pode dizer que Weigl tenha feito um mau jogo mas esse é um dos pontos que merecerá mais atenção por parte do técnico dos encarnados, na medida em que o estilo do internacional alemão não encaixam nesse perfil para segurar o resto da equipa e terá de adaptar essas características às necessidades do coletivo no corredor central até pelo balanceamento ofensivo que as águias terão por definição, como se viu sobretudo na primeira parte deste primeiro particular aberto ao público.

O JOKER. Everton Cebolinha, tal como Gilberto, tinha um handicap em relação aos restantes reforços: a falta de cultura tática de quem pode ser um craque mas nunca viveu na realidade europeias. O próprio Jorge Jesus, ainda antes de sair pela primeira vez de Portugal em 2018, tinha essa mesma ideia e era por isso que, quando recrutava no mercado brasileiro, demorava mais algum tempo a afinar os jogadores como queria dentro da ideia pretendida em campo. Pode ser ainda assim mas o antigo avançado do Grémio mostrou que conseguiu queimar várias etapas no processo de adaptação, o que se percebeu sobretudo na forma como soube ajudar nos processos defensivos e teve a capacidade de jogar rápido e sem prender bola na frente. O golo “anulado” (já tinha sido marcada falta antes perto do limite da área) e o lance que resultou no 2-1 foram apenas as faces mais visíveis de um jogo completo.

A CURIOSIDADE. Jorge Jesus optou por incluir apenas dois reforços no onze inicial, à partida jogadores que irão marcar presença na equipa mais vezes utilizada ao longo da temporada: Vertonghen e Everton Cebolinha. E entre os jogadores que faziam parte do plantel da última época, houve apenas um que não fez a segunda volta como opção habitual entre os titulares que entrou no primeiro onze do novo treinador: Rafa.