Mais de 300 pessoas continuam presas na Venezuela por razões políticas, depois de na semana passada outros 50 presos políticos terem sido libertadados após serem indultados pelo Presidente, Nicolás Maduro, disse esta segunda-feira a organização não-governamental Foro Penal Venezuelano (FPV).
Temos 333 pessoas presas, ainda se mantém um número muito alto de presos políticos, o número mais elevado na América [latina]. Sabemos disso porque temos informação, por exemplo, de Cuba, de Nicarágua e de qualquer outro país”, disse o diretor do FPV.
Alfredo Romero explicou, durante uma conferência de imprensa virtual em Caracas, “apenas se beneficiaram 13%” dos 110 presos indultados recentemente por Nicolás Maduro.
“A realidade dos indultos é que seis [presos] já estavam em liberdade plena, 24 estavam fora da prisão, mas tinham processos em curso, 26 estavam sob investigação, mas não estavam detidos. Um era um preso comum e 53 eram presos políticos”, enumerou.
Alfredo Romero precisou que nesse grupo de 26 presos detidos que estavam sob investigação, estão deputados no exílio e sob asilo em embaixadas na Venezuela.
“Não há militares que tenham sido libertados”, frisou, explicando desconhecer quais os fatores tidos em consideração pelo regime para os indultos.
Por outro lado, Gonzalo Himiob, vice-presidente do FPV, sustentou que “todo o passo para a liberdade é um passo” e que “é positiva” qualquer medida que, do ponto de vista político, “tenha libertado pessoas que estavam injustamente detidas ou perseguidas” mas salientou que “isso não muda o panorama, a existência da repressão como mecanismo de controlo da cidadania, de controlo político”.
Na conferência de imprensa esteve presente Antónia Turbay, uma advogada de 67 anos que foi indultada depois de ter sido detida a 27 de junho de 2019 por funcionários do SEBIN (serviços de informação), que efetuaram uma rusga à sua residência.
Explicou que há mais de um ano um tribunal emitiu uma ordem para que fosse libertada, mas que “ninguém a executou”. Referiu ainda que o seu delito foi ser vizinha de Iván Simonovis, um comissário que escapou da sua casa onde cumpria prisão domiciliária e agora está nos EUA.
“Foi muito duro para mim estar presa. Entrei [na cadeia] estando sã, sem tomar nenhum medicamento e agora sou hipertensa, tenho varizes e problemas de visão”, disse. Além disso, está afetada psicologicamente pela prisão e afirma que a claridade do dia a deixa estonteada.
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, indultou, a 31 de agosto, 110 deputados opositores e presos políticos, entre eles politólogo luso-venezuelano Vasco da Costa, que se encontrava detido desde abril de 2018.
Filho de um antigo vice-cônsul de Portugal em Caracas, Vasco da Costa, de 61 anos, foi detido na sua casa em abril de 2018 por agentes do SEBIN (serviços secretos da Venezuela), acusado de promover a abstenção nas eleições presidenciais de maio de 2018.
Vasco da Costa já tinha estado detido entre julho de 2014 e outubro de 2017.