Não era propriamente a Assembleia Geral mais normal, não tinha propriamente em votação o tema que deverá marcar os próximos meses (a reforma estatutária, com a tentativa de inclusão do sistema de i-voting para todos os tipos de sufrágio) mas prometia funcionar como sinal para o atual estado do universo verde e branco entre uma época de desilusão no futebol, um mercado que não foi convincente e uma instabilidade quase crónica no plano institucional que andou apenas adormecida nos últimos meses. Ainda antes dos resultados, e perante todas as regras sanitárias que levaram a que a discussão do Relatório e Contas de 2019/20 e do Orçamento de 2020/21 ficasse circunscrita ao envio de questões por email que seriam depois respondidas, o ato ficou marcado por algumas agressões no exterior do recinto, que não se ficaram pelo caso já conhecido.

No final, os 3.115 associados que passaram este sábado por Alvalade reprovaram os dois pontos em causa, chumbando por 69,19% o Relatório e Contas e por 67,22% o Orçamento. “O Conselho Diretivo do Sporting manifesta a sua gratidão aos 3.115 sócios do clube que, num contexto pandémico, vieram exercer o seu direito de voto. Em face da reprovação, pelos sócios, do Relatório e Contas do exercício transato e do Orçamento exercício 2020/2021, esclarecemos que voltaremos, oportunamente, a submeter os documentos à Assembleia Geral de sócios”, comentou a Direção verde e branca após serem conhecidos os resultados.

“Com efeito, a aprovação dos referidos documentos é importante na gestão orçamental diária e na relação com terceiros, nomeadamente com as entidades financiadoras e com o Estado. Como até aqui, tudo faremos para que não existam consequências mais nefastas para o Clube neste período por si só já tão difícil. Estamos confiantes e determinados que, apesar de todas as dificuldades, iremos conseguir; o Relatório e Contas 2019/2020 não sofrerá, naturalmente, qualquer alteração; ponderaremos introduzir alterações no Orçamento, ajustando-o à realidade entretanto já conhecida desde o início do exercício”, acrescentou a missiva.

De recordar que, na vigência do atual Conselho Diretivo, o elenco liderado por Frederico Varandas teve apenas uma votação mais expressiva entre todas as aprovações que tinha conseguido (sempre falando de clube, não de SAD): o Orçamento de 2018/19 passou com 56% entre os 553 votantes e 3.021 votos em dezembro de 2018 – com a curiosidade de ter aprovado com 82% o Relatório e Contas de 2017/18 ainda referente a Bruno de Carvalho; o Relatório e Contas de 2018/19 foi ratificado em outubro de 2019 com 52,95% dos 1.352 sócios e 7.431 votos – com essa nuance de ter havido mais associados contra do que a favor, imperando o peso da antiguidade; e o Orçamento de 2019/20, aprovado por 69% no final de junho de 2019 (com 60% dos sócios a favor).

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Antes, de acordo com informações recolhidas pelo Observador, Rui Franco, terá sido abordado por três indivíduos após exercer o direito de voto quando se preparava para abandonar o local, tendo identificado um dos elementos em causa. Em declarações ao jornal O Jogo, Rui Franco fez a associação entre os agressores e a claque Juventude Leonina mas o Observador sabe que a razão que levou à abordagem que viria a transformar-se em agressões esteve relacionada com comentários nas redes sociais e na blogosfera verde e branca, onde o associado se mostra ativo há vários anos. Ainda assim, existem versões contraditórias que argumentam que foi Rui Franco o primeiro a agredir um dos elementos em causa. De referir também que houve pelo menos mais dois momentos de tensão esta tarde em Alvalade, um deles com um elemento que, não pertencendo aos órgãos sociais, é próximo da cúpula dirigente – e também aqui estão em causa quezílias nascidas nas redes sociais.

O Observador confirmou que a Polícia de Segurança Pública fez a identificação dos quatro envolvidos no episódio com Rui Franco, que irá apresentar queixa pelo sucedido já munido do relatório entregue na unidade hospitalar a que se deslocou com um pequeno golpe junto à zona do sobrolho esquerdo e um hematoma na face. De recordar que recentemente Luís Filipe Menezes, comentador afeto ao Sporting e antigo presidente da Câmara Municipal de Gaia, apresentou queixa contra Rui Franco e Manuel Reinhardt por comentários no Facebook. “Agora foi um senhor Rui Franco a chamar-me de corrupto e ainda tem o desplante de me pedir explicações sobre a minha atividade pública, em que nunca fui arguido nem por uma multa de trânsito (…) Em paralelo, o senhor Franco enviou a sua nojenta prosa para os sites de múltiplas organizações do Sporting. Como se as bases do SCP ainda ouvissem as eructações desse caviar requentado! É assim que gente desta laia entende a vida em sociedade e é assim que se movem em instituições como o Sporting”, escreveu o antigo autarca.

“Fui agredido, vou agora para o hospital. Fui agredido por três indivíduos associados à Juve Leo. Reconheci um, que se chama Luís Pires e chamam-lhe Colmeia. Vou apresentar queixa a seguir na esquadra da PSP, quando sair do hospital. Defendi-me como pude. Fui atleta no clube e sou apoiante desta Direção. Identificaram-me, rodearam-me e fui agredido. Disseram coisas como ‘Não sais daqui vivo'”, disse Rui Franco.

Também nos arredores do Estádio José Alvalade registaram-se pequenos incidentes entre adeptos do Sporting que passaram pela Assembleia Geral para exercer o seu direito de voto e acabaram por se concentrarem enquanto se aguardavam os resultados finais (a votação encerrou às 20h). A situação foi rapidamente sanada.

Texto corrigido com a informação incorreta que tinha sido avançada pelo Record que Rui Franco era associado do Sporting há 35 anos, algo que o Observador confirmou não corresponder à verdade