Consegue imaginar, durante um jogo de futebol, basquetebol ou qualquer outra modalidade coletiva, um diretor técnico assumiu o que quer, como quer e onde quer de uma equipa de forma detalhada? Como pretende marcar, onde vai colocar os seus jogadores, qual é a tática para ser melhor? Provavelmente, não. E esse é dos elementos mais diferenciadores do ciclismo, neste caso a Volta a Portugal edição especial: aos microfones da reportagem da RTP, que como sempre transmite a prova, os diretores explicam sem problema o que pretendem da corrida, quem querem lançar para a vitória e o que correu bem ou mal até esse momento. Também por isso, e logo aí, percebeu-se que esta terceira etapa entre Felgueiras e Viseu dificilmente iria trazer grandes alterações.
Na ressaca da subida à Senhora da Graça e na antecâmara da ida para a Serra da Estrela com chegada na Torre, os 171,9 quilómetros desta quarta-feira não foram apenas uma etapa de transição, tiveram momentos capazes de partir o pelotão em alguns períodos com subidas e meteram muita tática pelo meio. No entanto, cedo se viu que teria uma chegada capaz de premiar um dos fugitivos mais capazes ou ao sprint, sem que isso representasse um dia de descanso para um conjunto de corredores em alta voltagem com três metas a subir logo nas quatro etapas iniciais. E os potenciais vencedores estavam definidos, não metendo pelo meio nenhum dos candidatos ao triunfo final numa corrida que é agora comandada por Amaro Antunes, camisola amarela depois de 600 metros de luxo na Senhora da Graça onde deixou para trás Frederico Figueiredo e chegou à liderança.
Depois de primeiras tentativas de fuga anuladas pelo pelotão, Luís Gomes (Kelly-Simoldes Oliveirense) e Ángel Madrazo (Burgos) conseguiram sair tendo em vista a meta volante em Marco de Canaveses antes de haver mais uma tentativa de fuga com seis corredores, desta feita Sergio Martín, Ion Irisarri (Caja Rural), Bruno Silva (LA Alumínios-LA Sport) e Joaquim Silva (Miranda-Mortágua) além de Gomes e Madrazo, a que se juntaram pouco depois Sérgio Paulinho (Efapel) e David Rodrigues (Rádio Popular-Boavista). O grupo agora de oito elementos chegou a ter mais de dois minutos de avanço na passagem pela meta volante de Resende. Em Lamego o pelotão conseguiu neutralizar a fuga antes da subida para Bigorne que começou a quebrar vários grupos.
Luís Gomes brilha ganha na Santa Luzia, Veloso mantém a amarela mas o herói da etapa foi outro
Oier Lazkano (Caja Rural) conseguiu depois sair sozinho, chegando a ter uma vantagem superior a dois minutos do grupo perseguidor constituído por Willem Smit, Juan Felipe Osorio (Burgos), Daniel SIlva (Rádio Popular-Boavista), Rafael Lourenço e Fábio Costa (Kelly-Simoldes Oliveirense). A pouco mais de 20 quilómetros, o pelotão conseguiu neutralizar também este grupo e começou a acelerar o ritmo para ir “buscar” Lazkano e proporcionar a aguardada chegada ao sprint, sendo que em vários momentos as principais equipas foram tentando perceber umas pelas outras quem deveria agarrar na frente do pelotão para marcar pelo ritmo.
???? Oier Lazkano le da el triunfo al @CajaRural_RGA en la tercera etapa de la @VoltaPortugal
???? Completó los últimos 40 km en solitario#voltaPortugal pic.twitter.com/p9ptDNPijE
— La Guia del Ciclismo (@GuiadeCiclismo) September 30, 2020
A nove quilómetros da meta, a vantagem do jovem espanhol de 20 anos estava com 1.10 minutos de avanço na fase a descer do percurso, tendo um grupo intermédio perseguidor a puxar pelo ritmo e a W52 a tentar responder aos ataques da Efapel, a tentar lançar Jóni Brandão para ganhar alguns segundos aos principais adversários no top 10. Essas movimentações acabaram por colocar o pelotão colado ao grupo perseguidor (e com Sam Kerr, líder da juventude, a ter novo problema que lhe causou a perda de mais tempo), obrigando o basco a não facilitar na frente. “O melhor desconhecido entre os ciclistas espanhóis”, como escrevia a Marca sobre Oier Lazkano pelas impressões que deixou na última concentração da seleção, deu tudo para conservar a vantagem e conseguiu mesmo aquela que foi a primeira vitória de sempre numa etapa na sua (curta) carreira.
Em termos de geral individual, houve apenas uma alteração no top 10 com Kerr a deixar o décimo lugar que é agora ocupado por Ricardo Vilela (Burgos). De resto, Amaro Antunes (W52 FC Porto) mantém a amarela com 13 segundos de avanço para Frederico Figueiredo, seguidos de Gustavo Veloso, também dos dragões. João Benta (Rádio Popular Boavista, 1.17), Jóni Brandão (Efapel, 1.20), Daniel Freitas (Miranda-Mortágua, 1.25), Vicente de Mateos (Louletano, 1.25), João Rodrigues (w52 FC Porto, 1.29) e Alejandro Marque (Tavira, 1.38) mantêm a diferença para o camisola amarela antes da subida à Torre desta quinta-feira.