Têm sido dias para arrumar a casa em Old Trafford. Diogo Dalot seguiu para o AC Milan, Andreas Pereira foi emprestado à Lazio, Alex Telles está perto de ser confirmado, Cavani também parece estar na rota da equipa de Solskjaer e Pogba continua a tentar convencer Dembélé a deixar Barcelona e rumar a Inglaterra. Pelo meio, era preciso jogar futebol: e o Manchester United não dava ideias de se esquecer desse pormenor.

Nos últimos três jogos, entre Taça da Liga e Premier League, os red devils tinham conquistado três vitórias, marcado nove golos e sofrido apenas dois. Ainda assim, as exibições não têm sido extraordinárias e a equipa está longe de confirmar todas as expectativas que deixou no final da época passada — quando Bruno Fernandes estava num pico de forma admirável, quando Martial e Greenwood andavam com o golo no pé e quando Rashford parecia conseguir fazer tudo o que queria nos terrenos adversários. Atualmente, nada disso se verifica: Bruno Fernandes está algo abaixo do nível a que habituou o futebol europeu, Martial e Greenwood têm tido muita pólvora seca e até Rashford só consegue ser brilhante a espaços. E este domingo, o Manchester United tinha o maior desafio desde o início da temporada.

Contra o Tottenham de José Mourinho, em Old Trafford, Solskjaer decidia tirar Lindelof do onze — o central sueco tem sido um dos grandes responsáveis pelos erros defensivos da equipa neste início da temporada e parece estar ainda esgotado e sem ritmo — e lançar Bailly ao lado de Maguire. De resto, o habitual: Matic e Pogba numa zona mais recuada do meio-campo, Bruno como um falso ’10’ nas costas de Martial e Greenwood e Rashford mais descaídos nas alas. Do outro lado, estava então um Tottenham onde as principais notícias, para lá das contratações, têm estado relacionadas com o selecionador inglês e com Harry Kane.

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Na semana em que os spurs anunciaram o empréstimo de Carlos Vinícius por parte do Benfica, José Mourinho aproveitou uma conferência de imprensa para pedir a Gareth Southgate, selecionador inglês, para não colocar Harry Kane a jogar nos três compromissos de Inglaterra nos próximos dias, contra o País de Gales, a Bélgica e a Dinamarca. Referindo-se a Southgate como “Gary”, uma versão amigável do nome do selecionador, o treinador português revelou alguma preocupação com a gestão de esforço do avançado. E Southgate respondeu, com o mesmo toque de humor, garantindo que a gestão do jogador terá de ser um equilíbrio entre clube e seleção.

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“O José esteve bem, não esteve? Esteve em boa forma. Eu ouvi-o. Ele não me vai ligar mas vai pôr-se em cima do estádio do Tottenham e avisar-nos, isso foi bom. Claro que não vamos pôr os jogadores de início em três jogos. Temos de ser responsáveis. A época como um todo é um enorme desafio para clubes e seleções, por isso temos de trabalhar em conjunto. E tudo o que o José precisa é de assegurar que em abril e maio… Ele tem de tomar conta do Harry Kane por nós porque vai haver 55 milhões de pessoas a contar com isso, por isso é óbvio que funciona para os dois lados”, explicou o selecionador, referindo depois, ironicamente, que fica “desapontado” por não ser um dos amigos de Mourinho.

Um Tottenham que, este domingo, já tinha o reforço Reguilón no onze inicial e contava com Aurier na direita da defesa, em detrimento de Matt Doherty. Alderweireld, Winks e Lucas Moura também começavam no banco, substituídos por Sánchez, Ndombele e Lamela — e Bale, segundo Mourinho, estreia-se depois da pausa para os compromissos das seleções. Depois de confirmada a presença na fase de grupos da Liga Europa com a goleada em Londres perante o Maccabi Haifa, os spurs visitavam o Manchester United e procuravam chegar à terceira vitória consecutiva para todas as competições.

Numa primeira parte alucinante, Sánchez fez grande penalidade sobre Martial logo nos segundos iniciais e Bruno Fernandes, com um penálti certeiro (2′), colocou o Manchester United a vencer logo no arranque. O Tottenham, porém, só precisou de outros dois minutos para igualar o marcador: numa grande atrapalhação entre Maguire, Bailly e Shaw na grande área, Lamela conseguiu desarmar o lateral esquerdo inglês e assistir Ndombele, que só precisou de encostar (4′). Logo de seguida, e num oportunismo assinalável de Harry Kane, o avançado sofreu uma falta já no meio-campo do United, bateu o livre de forma supersónica e lançou Son na profundidade, com o sul-coreano a rematar à saída de De Gea (7′).

Sete minutos, três golos, uma reviravolta: mas a história do primeiro tempo estava ainda longe de acabar. Já perto da meia-hora, na preparação de um pontapé de canto a favorecer o Tottenham, o árbitro da partida entendeu que Martial agrediu Lamela e expulsou o avançado francês — num lance onde o cartão vermelho parece exagerado e onde, na verdade, é o argentino o primeiro a empurrar Martial. O Manchester United ficou reduzido a dez elementos e sofreu o terceiro golo um minuto depois, com Kane a aproveitar mais um erro da defesa adversária para combinar com Son e aumentar a vantagem (31′). Até ao intervalo, Son ainda bisou, com um desvio ao primeiro poste depois de um cruzamento rasteiro de Aurier na direita (37′), e a goleada que o Tottenham ia aplicando em Old Trafford parecia já impossível de ultrapassar para a equipa de Solskjaer.

Manchester United v Tottenham Hotspur - Premier League

Há 30 anos que o Manchester United não sofria quatro golos na primeira parte de um jogo

O Manchester United voltava para a segunda parte depois de ter sofrido quatro golos na primeira, algo que não acontecia desde 1989/90, e o Tottenham voltava depois de ter marcado quatro golos em Old Trafford, algo que não acontecia desde 1972. Solskjaer tirou Bruno Fernandes e Matic ao intervalo, para lançar McTominay e Fred e tentar segurar o meio-campo, mas a passividade defensiva da equipa e os erros do setor mais recuado tornavam quase impossível começar sequer uma tarefa que já era hercúlea. Mourinho colocou Lucas Moura no lugar de Lamela e passados cerca de cinco minutos do segundo tempo o Tottenham já tinha marcado novamente: Moura combinou com Højbjerg, o dinamarquês lançou Aurier na direita e o lateral rematou rasteiro para bater De Gea pela quinta vez (51′).

Até ao fim, Mourinho lançou Dele Alli e Ben Davies e Solskjaer colocou Van de Beek em campo e o Tottenham ainda chegou ao sexto golo com uma grande penalidade convertida por Harry Kane (79′). O resultado ficou fechado nos 1-6 e os spurs nunca tinham marcado tantos golos em Old Trafford, o Manchester United não sofria quatro golos na primeira parte há 30 anos e Mourinho tornou-se o primeiro treinador da história da Premier League a marcar tantos golos a uma equipa que já orientou anteriormente. Pelo meio, o Tottenham conquistou três pontos; a equipa de Solskjaer voltou a desiludir, confirmou as fracas sensações que tinha deixado nos jogos anteriores e vai precisar de aproveitar da melhor maneira a pausa internacional para espairecer e voltar a desenhar os objetivos para a temporada.