Foi campeã júnior em Wimbledon em 2018, conquistou a seguir a medalha de ouro em pares nos Jogos da Juventude mas nunca tinha ganho qualquer torneio do WTA. O máximo que conseguira até 2020, ano em que chegou à quarta ronda do Open da Austrália, tinha sido uma quarta ronda em Roland Garros em 2019. E nos torneios que não do Grand Slam alcançou apenas uma final, no Open de Lugano, onde perdeu com Polona Hercog. Iga Swiatek, de 19 anos, tinha como melhor registo do ranking a 48.ª posição em fevereiro mas foi a grande surpresa no quadro feminino de Roland Garros ao chegar a uma improvável final frente a Sofia Kenin, americana que podia repetir o feito de Angelique Kerber e tornar-se a primeira jogadora desde 2016 a ganhar mais do que um Grand Slam. No entanto, a tarefa previa-se tudo menos fácil. E a meia-final de pares foi prova disso.

Mesmo qualificada para a primeira final de um Major, a polaca, que vai escalar posições no ranking pelo menos até ao top 20, não deixou de mostrar a sua frustração pela derrota nas meias, fazendo dupla com a americana Nicole Melichar, frente à chilena Alexa Guarachi e à americana Desirae Krawczyk. Ou seja, naquela que já era de longe a sua melhor semana no circuito, Swiatek queria mais. E isso, a par dos triunfos que registou na caminhada até ao encontro decisivo onde ganhou Simona Halep (romena que caiu por claros 6-1 e 6-2), eram o principal aviso para a sexta jogadora do ranking WTA que, depois do Open da Austrália, ganhou ainda o torneio de Lyon.

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“Acho genuinamente que a Iga Swiatek pode ser a tal. Não via antes uma jogadora tão completa em termos técnicos em todas as pancadas. Não via uma jogadora tão jovem e tão completa a nível de construção de pontos. O jogo dela faz-me lembrar Djokovic. Se não bates bem na bola, então a bola vai sair curta e o adversário vai ferir-te. Ela é muito natural, sem arriscar muito porque coloca muito spin também. Mesmo a bater com muita potência, tem sempre uma margem. Ainda tem pontos para melhorar mas mostra uma variedade de jogo incrível. Penso que estamos perante uma jogadora que vai ganhar Grand Slams e múltiplas vezes”, considerou Mats Wilander, antigo campeão e agora comentador do Eurosport, numa análise com muitos elogios à polaca.

Na final feminina mais jovem desde 2008 num Grand Slam, Swiatek não deu hipóteses e conquistou o seu primeiro grande título em Roland Garros (que tinha ganho enquanto júnior em pares) em apenas dois sets por 6-4 e 6-1, tornando-se a primeira polaca a ir a ganhar um Major depois de Agnieszka Radwanska ter ficado pela final de Wimbledon em 2012 e mostrando que chegou para ficar. Porque Iga é mesmo assim: não gosta de treinar, aprendeu muito pela PlayStation mas tem uma competitividade como poucas com apenas 19 anos, sendo a mais nova a vencer em França desde Monica Seles em 1992 antes de subir as bancadas para ir abraçar o pai Tomasz, um antigo remador olímpico. Inspirações? Muitas e variadas: Rafael Nadal, música rock entre AC/DC, Red Hot Chili Peppers, Pink Floyd, Pearl Jam ou Coldplay, a série Mad Men, livros históricos como “A Catedral do Mar” de Ildefonso Falcones e… gatos. Outra curiosidade: leva sempre consigo uma psicóloga para todos os torneios.

A polaca teve uma entrada fortíssima no encontro, ganhando de forma simples o primeiro jogo de serviço, fazendo logo o break à americana e confirmando de seguida essa vantagem de 3-0. No entanto, Kenin mostrou que não fica atrás de Swiatek em termos de competitividade e conseguiu também um break de seguida, igualando o primeiro set a três aproveitando um maior número de erros diretos da polaca que segurou o seu serviço no 4-3 e colocou tudo na estaca zero depois do bom arranque. E o set dificilmente poderia terminar de forma mais atípica: Swiatek lá conseguiu confirmou o break após várias oportunidades anuladas, Kenin evitou um set point e fez o break para o 5-4 mas a polaca respondeu da mesma forma, fechada com novo contra break. Os erros não forçados estavam divididos (15-13) mas era o número de winners que ajudava a explicar a diferença (13-6).

Sofia Kenin teria de mostrar outros argumentos para mudar a história da partida e até começou da melhor forma com um break mas mais uma vez Swiatek anulou essa desvantagem inicial e segurou de seguida o seu serviço para passar para a frente por 2-1 antes de uma paragem para assistência médica pedida pela americana que jogou todo o torneio com uma proteção na coxa esquerda e que teve mesmo de ir ao balneário receber tratamento. Foi nessa paragem que apareceu uma estatística que explicava o que se passava no jogo: se a polaca desceu de 78% para 56% o número de jogo de serviço ganhos, a americana caiu de 74% para 33%. E era aqui que estava a decisão, com a polaca a manter a pressão sobre Kenin e a fechar o segundo e último parcial com 6-1, tornando-se em paralelo a primeira jogadora desde Justine Henin, em 2007, a conquistar o torneio sem perder qualquer set.