No ano em que Luís Filipe Vieira entrou pela primeira vez na presidência do Sport Lisboa e Benfica, o mundo combatia uma epidemia provocada por um coronavírus semelhante ao que esta quarta-feira obrigou os sócios do clube a votar de máscara posta. Estávamos em 2003. Em dezassete anos depois, Vieira, que conquistou esta noite mais um mandato, liderou o Benfica num mundo que já teve três papas e num país que já teve oito governos.
Em 2004, Portugal foi pela primeira vez o anfitrião do Campeonato Europeu de Futebol. Foi também a primeira vez desde a assinatura do Acordo de Schengen (que determinou a livre circulação de cidadãos entre os países signatários) que Portugal fechou temporariamente as fronteiras terrestres para controlar as entradas no país. O Comité Executivo da UEFA afirmou que “nunca até à data, um campeonato europeu foi tão bem preparado e tão bem organizado”: “Difícil é encontrar pontos em que a organização não tenha estado muito bem”, elogiou Lars-Christer Olsson, director-executivo da UEFA à época.
A 13 de fevereiro 2005, morreu em Coimbra a irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, a última dos três pastorinhos de Fátima. Juntamente com Santa Jacinta e São Francisco Marto, afirmou ter assistido a uma série de aparições de Virgem Maria no lugar da Cova da Iria, em Fátima. De acordo com os relatos da Igreja Católica, terá sido a única dos três pastorinhos a conseguir comunicar por fala com a Virgem, tornando-se, por isso, a porta-voz do Segredo de Fátima. Lúcia foi a única dos pastorinhos que viveu até à idade adulta: Francisco e Jacinta morreram de gripe pneumónica.
Em 2006, o governo de José Sócrates apresenta o Simplex, abreviação para “Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa”, que tinha como objetivo “combater a burocracia, modernizar a administração pública, facilitar a vida das pessoas e dar às empresas a rapidez de que elas necessitam”. O programa anulou a necessidade da renovação anual de matricula dos alunos nos ensinos básico e secundário, criou o Portal das Finanças e o Portal dos Cidadãos, permitiu a leitura online do Diário da República e possibilitou os pedidos de reformas no site da Segurança Social. Catorze anos depois, chegaria o programa Simplex 20-21.
A 11 de fevereiro de 2007, a realização do aborto foi despenalizada em Portugal. O país foi chamado às urnas pela terceira vez para a realização de um referendo, duas das quais precisamente sobre este tema. Questionados sobre se “concordam com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado”, 59,25% dos eleitores disseram que sim. A 17 de abril é publicada a Lei nº 16/2007, que estabelece a “exclusão da ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez”.
Em 2008, o Banco Português de Negócios foi nacionalizado após o envolvimento em crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influências. Em fevereiro, Abdool Karim Vakil, presidente interino, levantou dúvidas sobre a gestão do banco que, nesse mesmo mês, foi investigado no âmbito da Operação Furacão. Em junho, Miguel Cadilhe, antigo ministro das Finanças, é escolhido para a presidência e denuncia vários crimes financeiros alegadamente cometidos por altos cargos. Cavaco Silva (que era Presidente da República à época), Dias Loureiro e Duarte Lima vêm-se envolvidos no caso.
A 2 de julho de 2009, Manuel Pinho, ministro da Economia demitiu-se após ter feito um gesto peculiar em pleno Parlamento. Durante o debate sobre o Estado da Nação, o ministro dirigiu-se a Bernardino Soares e, imitando dois chifres com os dedos, gritou-lhe: “Estás tramado”. O momento ocorreu quando Francisco Louçã e José Sócrates discutiam sobre os trabalhadores das Minas de Aljustrel. Paralelamente, Bernardino Soares lembrava a Manuel Pinho que o ministro tinha ido até àquela cidade para entregar um cheque de 5 mil euros a um clube de futebol local. O ministro reuniu com o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, e com o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, logo depois do debate.
A 8 de janeiro 2010, é aprovado em Portugal o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Assembleia da República aprovou assim o casamento entre homossexuais com 126 votos a favor, 97 contra e 7 abstenções. Após ter sido aprovada na especialidade, aprovada pelo Tribunal Constitucional e promulgada pelo Presidente da República, a lei entrou em vigor a 5 de junho daquele ano. Portugal tornou-se o oitavo país do mundo a aceitar casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo, mas só dali a seis anos aceitaria também a adoção de crianças dos casais homossexuais.
A 6 de abril 2011, o primeiro-ministro José Sócrates anunciou aos portugueses que iria pedir assistência financeira externa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), abrindo as portas a um longo período de austeridade em Portugal. Menos de um mês depois, o líder governamental, ao lado do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, comunica que se havia chegado a um acordo com troika. Poucos dias depois, o Eurogrupo aprovou o programa de assistência financeira ao país. Era a terceira vez que o FMI intervinha em Portugal — primeira foi em 1977 e a segunda em 1983.
A 15 de setembro 2012, realizou-se a maior onda de manifestações desde o 1º de Maio de 1974 em Portugal. Uma iniciativa implementada nas redes sociais por 30 pessoas resultou em protestos por todo o país que levaram um milhão de pessoas contra as medidas de austeridade impostas pelo governo após a entrada da troika, metade das quais em Lisboa. As manifestações foram batizadas de “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!” e partiu de um manifesto que dizia: ” Depois de mais um ano de austeridade sob intervenção externa, as nossas perspetivas, as perspetivas da maioria das pessoas que vivem em Portugal, são cada vez piores. A austeridade que nos impõem e que nos destrói a dignidade e a vida não funciona e destrói a democracia”.
A 2 de julho de 2013, o papa Bento XVI renunciou ao cargo que ocupa à frente da Igreja Católica desde abril de 2005: “Cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino”. Foi o primeiro papa a abdicar do posto desde Gregório XII, em 1415. A 28 de fevereiro de 2013, dia em que Bento XVI deixou oficialmente o cargo, começou a busca por um substituto. A 13 de março, foi escolhido o atual papa: Francisco, o terceiro líder da Igreja desde que Vieira chegou à presidência do Benfica (ainda com João Paulo II no cargo).
A 22 de novembro 2014, José Sócrates tornou-se o primeiro ex-primeiro-ministro português a ser detido no âmbito de um interrogatório judicial. Sócrates, um benfiquista, foi detido numa sexta-feira à noite no Aeroporto de Lisboa, à chegada de Paris, por suspeitas de crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção. A detenção ocorreu um dia antes de António Costa, o atual primeiro-ministro, ser eleito secretário-geral do Partido Socialista, depois de ter vencido as eleições primárias para candidato a primeiro-ministro. José Sócrates veio a ser libertado em outubro de 2015.
Em 2015, Portugal registou o mais curto governo nas quatro décadas de história da democracia constitucional no país. O XX Governo Constitucional de Portugal ganhou com maioria relativa as eleições legislativas de 4 de outubro de 2015 com a coligação Portugal à Frente, entre o PSD de Passos Coelho e o CDS de Paulo Portas. No entanto, devido a uma moção de rejeição, foi demitido do Parlamento onze dias depois de tomar posse e exonerado após 16 dias. A 26 de novembro de 2015, Portugal passa a ser liderado pela XXI Governo Constitucional de Portugal, liderado pelo PS de António Costa na sequência de um acordo com Bloco de Esquerda, PCP, PEV e PAN — a geringonça.
A 10 de julho 2016, a seleção portuguesa de futebol conquistou pela primeira vez o Campeonato Europeu de Futebol. Portugal defrontou a seleção francesa no Stade de France, em Paris, na final do Euro 2016. Depois de Cristiano Ronaldo ter saído lesionado nos primeiros momentos da partida, Portugal veio a vencer com um golo de Éder aos 109 minutos de jogo. Pepe foi considerado o melhor futebolista em campo. No dia seguinte, milhares de adeptos portugueses juntaram-se em Lisboa para receber a seleção vencedora. Éder celebrou com uma frase que ficou para a história: “Hoje é feriado, c…!”.
A 27 de junho de 2017, os Paióis Nacionais de Tancos foram assaltados e centenas de materiais de guerra do Exército Português desapareceram. O embaraço para as forças armadas portugueses adensou-se ainda mais quando se apurou que a Polícia Judiciária Militar tinha encenado a recuperação de parte deste material com os próprios assaltantes. O caso levou à demissão de José Azeredo Lopes, o então ministro da Defesa; e do General Rovisco Duarte, Chefe do Estado-Maior do Exército. Está neste momento em fase de julgamento com 23 arguidos — nove por causa do furto em si e os restantes (incluindo Azeredo Lopes) pela encenação.
A 12 de maio 2018, Portugal recebe pela primeira vez o Festival Eurovisão da Canção. A organização do concurso coube a Portugal depois de, um ano antes, Salvador Sobral ter levado o país à vitória com “Amar pelos Dois”, que conquistou a maior pontuação da história do festival. Na edição de 2018, no entanto, o país ficou longe da glória do ano anterior: “O Jardim”, de Cláudia Pascoal e Isaura, ficou em antepenúltimo lugar — acima apenas de “Tu Canción”, de Espanha, e de “Storm”, do Reino Unido.
Em 2019, foi declarada pela primeira vez em Portugal a situação de crise energética por causa da greve por tempo indeterminado dos motoristas de matérias perigosas, que exigiam melhores salários, mais proteção contratual e melhores condições de trabalho. O governo estabeleceu serviços mínimos para assegurar o funcionamento do país mas, perante o incumprimento, aprovou a requisição civil dos grevistas. A 18 de abril, dia em que greve terminou, a percentagem já era de 80%. Os aeroportos de Lisboa e de Faro foram obrigados a recorrer às reservas de emergência e vários transportes públicos foram suprimidos.
A 18 de março de 2020, Portugal entrou em estado de emergência pela primeira vez na atual Constituição. O país esteve durante dez dias sob estado de sítio por causa da tentativa de golpe a 25 de novembro de 1975. No ano seguinte, dois artigos da Constituição Portuguesa previam a existência de dois estados de exceção: emergência e sítio, que podiam ser decretados pelo Presidente da República com o apoio da Assembleia da República. Nunca tinha sido necessária até à entrada do novo coronavírus em Portugal.
Com mais quatro anos de mandato pela frente, Luís Filipe Vieira ainda viverá muita história como presidente do Benfica:
Em 2021, espera-se que fique disponível uma vacina que permita evitar as infeções pelo novo coronavírus, que já provocou quase 45 milhões de infetados no mundo e vitimizou perto de 1,2 milhões deles no mundo. Há várias candidatas, mas a mais entusiasmante é a que está a ser desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. A Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) confirmou que Portugal vai receber 6,9 milhões destas vacinas. O primeiro lote, com 690 mil vacinas, deve chegar já em dezembro.
Em 2022, a rainha Isabel II vai celebrar o jubileu de platina pelos 70 anos no trono britânico — algo que nenhum outro monarca do Reino Unido conquistou no passado. Em toda a história do mundo, apenas há registo de 15 monarcas que tenham passado por tal marco, mas nenhum deles é mulher. Por essa altura, Isabel II estará a dois meses de celebrar 96 anos.
Em 2023, as amostras recolhidas no asteroide Bennu pela NASA a 20 de outubro vão chegar à Terra, cumprindo a primeira vez que a agência espacial norte-americana consegue trazer para casa algumas gramas de pó asteroidal. A bordo estão respostas para perguntas tão complexas como a história do Sistema Solar, a origem da vida na Terra ou o futuro da mineração de asteroides.
Em 2024, quando o Benfica estiver a passar novamente por eleições e Luís Filipe Vieira a sair da presidência em definitivo, o programa Artemis, um produto da parceria entre a NASA, outras agências espaciais pelo mundo e uma série de empresas privadas, estará a colocar a humanidade na Lua pela primeira vez desde os anos 70 — desta vez com uma astronauta do sexo feminino na tripulação. A viagem custará 35 mil milhões de dólares, um valor que ainda terá de ser aprovado pelo Congresso norte-americano, mas que serve de investimento a um projeto ainda maior: uma missão tripulada a Marte.