Não é um fenómeno propriamente novo mas tornou-se mais refinado com o passar dos anos: a melhor forma de avaliar o momento de uma equipa que seja orientada por Jorge Jesus passa por tentar interpretar o tom com que aborda as questões colocadas. A resposta pode ser até a mesma num ou noutro contexto; a forma como o diz, essa, muda consoante sinta a forma dos jogadores, a abordagem ao encontro, as hipóteses de ganhar. Os resultados do Benfica mostraram um conjunto confiante e embalado por seis vitórias consecutivas. As exibições mostraram um conjunto motivado pela forma como, com mais ou menos dificuldades, conseguiu dominar os adversários. As palavras do técnico mostraram um conjunto ambicioso e apostado em reverter a deceção na Champions.

Benfica vence Standard Liège com bis de Pizzi e mantém liderança do grupo D na Liga Europa

“O Benfica tem história internacional e na Europa mas de alguns anos para cá perdeu aquela identidade que vinha mantendo. Mesmo não tendo ganho uma Champions ou uma Liga Europa, chegou aos quartos da Liga dos Campeões e foi a duas finais da Liga Europa. O Benfica anda à procura de chegar a uma final de uma dessas  competições e de poder vencer. Foi com essa ideia que o presidente me ‘sacou’ do Brasil. Mas isso é um processo evolutivo, de continuidade. Os jogadores que o clube contratou têm uma qualidade muito grande mas alguns são jogadores jovens. Temos uns com experiência mas os jovens são jogadores de seleção, casos do Everton, do Luca Waldschmidt… O Darwin não é tanto mas vai ser um titular da seleção do Uruguai. Isso vai fazer com que este Benfica de ano para ano vá ficando mais forte”, destacou Jorge Jesus antes do jogo com o Standard Liège.

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Mas nem tudo é igual em Jorge Jesus, que com o tempo foi conseguindo fazer uma gestão de plantel no plano físico que noutras temporadas não funcionou da mesma forma – e com reflexos indesejados numa fase mais avançada da época. Apesar de estar ainda a trabalhar a equipa em alguns momentos e setores em específico, nomeadamente na defesa depois dos erros provocados e bem aproveitados pelo Lech Poznan, o técnico percebe que nesta época mais atípica a densidade de encontros oficiais é “anormal” e foi por isso que, no lançamento da partida com os belgas, admitiu mudanças na equipa mas que estavam ainda dependentes daquilo que o treino daria, mantendo a mesma linha que deixara Gabriel, Luca Waldschmidt ou Pizzi de fora em relação ao onze frente ao Belenenses SAD.

“Ainda não tenho nenhuma certeza abslotuta, só hoje [ontem] vamos fazer o primeiro treino com os jogadores que defrontaram o Belenenses SAD, mas tenho uma ideia na minha cabeça. É natural que vá fazer algumas mudanças na equipa. Já disse que ia lançar o Gabriel, que não foi convocado neste último jogo. E vão entrar outros jogadores que estão mais frescos e que dão todas as garantias, que não têm jogado tanto mas têm o seu espaço. Estou certo que a equipa não terá uma oscilação de rendimento em relação aos últimos jogos que fizemos”, salientou, num encontro também especial por receber pela primeira vez desde março adeptos (quase 5.000, 7,5% da lotação).

“Todos nós que estamos ligados ao futebol queremos ter adeptos, dentro do que for possível. Vale mais poucos do que nenhuns. A motivação dos jogadores e das equipas é poderem jogar para os adeptos. Quando não há, não é a mesma coisa. Por muito que estejas focado no jogo, a tua adrenalina e a tua ansiedade quebram. É uma satisfação enorme podermos ter alguns adeptos no jogo. É um bom princípio porque num estádio onde cabem 65 mil estarem quatro ou cinco mil adeptos não vai interferir com a defesa da saúde das pessoas. Os estádios têm tudo para poder dividir as pessoas pelos vários sectores, têm várias entradas… Uma organização bem feita não põe nada em risco. Se os jogos ficam mais imprevisíveis sem adeptos? Sinto isso pela experiência que tenho do Brasil e em Portugal. Estive no clube que tem o maior número de adeptos do mundo e vim para o clube que tem o maior número de adeptos em Portugal. Estas equipas saem mais prejudicadas do que as que não têm esse poder. A falta de público tem um impacto negativo sobre os jogadores, além de ser um fator psicológico muito grande nas equipas que jogam contra nós”, destacou Jorge Jesus, que voltou também à Luz com adeptos cinco anos e meio depois.

Ficha de jogo

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Benfica-Standard Liège, 3-0

2.ª jornada do grupo D da Liga Europa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: François Letexier (França)

Benfica: Vlachodimos; Diogo Gonçalves, Otamendi, Vertonghen, Nuno Tavares; Gabriel (Weigl, 72′), Pizzi (Gonçalo Ramos, 79′); Pedrinho (Rafa, 46′), Everton Cebolinha, Waldschmidt (Taarabt, 68′) e Darwin Núñez (Seferovic, 72′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Helton Leite, Gilberto, Ferro, Jardel, Cervi e Chiquinho

Treinador: Jorge Jesus

Standard Liège: Bodart; Fai, Vanheusden (Laifis, 75′), Dussenne, Gavory; Amallah (Avenatti, 80′), Cimirot (Carcela González, 80′), Bokadi, Bastien, Carcela e Oularé (Boljevic, 70′)

Suplentes não utilizados: Gillet, Henkinet, Cop, Sylvestre, Jans, Pavlovic e Landu

Treinador: Philippe Montanier

Golos: Pizzi (49′, g.p. e 76′) e Waldschmidt (66′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Diogo Gonçalves (43′), Bordart (48′) e Fal (65′)

No primeiro jogo de Diogo Gonçalves e Nuno Tavares como titulares na presente temporada (como laterais), a que se juntou a aposta em Pedrinho e os regressos de Gabriel, Pizzi e Luca Waldschmidt, essa presença do público foi importante em alguns momentos para puxar pelo rendimento de um Benfica que sempre que acelerava conseguia criar perigo. Os protagonistas, esses, sucediam-se. As tentativas de inaugurar o marcador também. Gabriel foi o primeiro a agarrar no domínio do jogo, varrendo o corredor central para depois dar outra amplitude ao jogo pelas laterais dos encarnados, numa fase onde Pedrinho atirou rasteiro para defesa de Bodart (13′) antes de mais uma tentativa de Everton, desta vez com mais perigo e desviada pelo guarda-redes belga para canto (16′).

Depois, foi a vez de aparecer mais Pizzi. A funcionar como centro do jogo ofensivo, a arriscar os passes de rutura, também ele a tentar o golo como aconteceu num remate que saiu perto da trave de Bodart após uma boa jogada de Diogo Gonçalves pela direita (40′). O melhor da primeira parte, do início ao fim, foi Nuno Tavares. Como lateral não perdeu uma única bola colocada nas costas e não deu hipóteses aos adversários diretos que caíram naquela zona; como um falso ala, aproveitando o domínio completo do jogo e as movimentações interiores de Everton, foi ganhando por ocasiões consecutivas a linha e até tentou também a meia distância mas nenhuma dessas incursões terminou com o golo, que ficou adiado até ao intervalo de um jogo que foi sempre de sentido único.

Ao intervalo, Jorge Jesus não quis esperar mais tempo, abdicou de Pedrinho (o mais discreto entre os elementos da frente) e lançou Rafa. A velocidade do internacional português e os movimentos de rutura não demoraram a fazer estragos mas foi a grande penalidade de Bokadi sobre Luca Waldschmidt, convertida por Pizzi aos 49′, que alterou aquilo que viria a ser o segundo tempo, com os encarnados menos ansiosos na procura da vantagem a colocarem bola no chão sempre pelo mesmo circuito a passar por Gabriel e pelo internacional português até levar o perigo ao último terço, mesmo numa noite onde a dupla ofensiva não conseguiu estar tão ativa.

Em mais uma grande penalidade a meio do segundo tempo, cometida por Fai sobre Nuno Tavares, Pizzi, que já levava nessa fase mais de 100 ações em campo, agarrou na bola e deu a oportunidade a Waldschmidt de marcar o 2-0. O alemão não perdoou, aumentou a vantagem e, quando foi substituído por Taarabt pouco depois, fixou um novo registo de um golo por cada 73 minutos desde que chegou ao Benfica. Se o encontro não tinha muita história, ficou então decidido, com os belgas a terem grandes dificuldades em chegar à baliza de Vlachodimos, chamado a uma defesa mais complicada na sequência de um canto onde Vanheusden ficou perdido ao segundo poste. Ainda antes de ser substituído para uma ovação que há demasiados dias já não se ouvia na Luz, Pizzi fechou as contas com um remate em arco que desviou ainda num defesa visitante e entrou no ângulo da baliza de Bodart (76′). Mesmo sem ter feito um jogo de encher o olho, o Benfica ganhou por 3-0. E podiam ter sido mais…