Desde o dia 29 de outubro que se tem verificado um aumento do número de casos por legionella na região norte. Até ao momento, há um total de 9 mortes e 97 casos confirmados, dos quais 72 são associáveis em cluster, na zona litoral da área geográfica do Agrupamento de Centros de Saúde Póvoa de Varzim/Vila do Conde e da Unidade Local de Saúde de Matosinhos.
A origem do surto ainda está por apurar, mas a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte acredita que a dispersão geográfica dos casos “é compatível com uma eventual fonte ambiental sujeita aos efeitos das alterações climáticas da depressão Bárbara, que se verificou em território nacional durante o período de incubação dos referidos casos”.
Em comunicado, a ARS do Norte adianta que as autoridades de saúde locais encontram-se a desenvolver a investigação epidemiológica e ambiental, de acordo com as normas e orientações da Direção-Geral da Saúde, estando “atentas à evolução da situação e tomarão as medidas adicionais que se revelem necessárias ao controlo da situação”. “Decorrente dessa investigação e como medida cautelar, a Autoridade de Saúde da ULS de Matosinhos, procedeu à suspensão do funcionamento das torres de refrigeração de duas indústrias, localizadas no concelho de Matosinhos.”
Até esta terça-feira, o Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde contava com seis doentes internados e dois óbitos registados, o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, tem 12 internados e 7 óbitos notificados e o Centro Hospitalar Universitário de São João mantém seis pessoas internadas e sem qualquer óbito a lamentar.
A doença dos legionários, uma pneumonia provocada pela bactéria legionella pneumophila, caracteriza-se pelo aparecimento de sintomas como febre, mal-estar geral, dores de cabeça, dores musculares, tosse não produtiva e diarreia. A doença atinge, com mais frequência, adultos/pessoas idosas, habitualmente fumadores, doentes cujo sistema imunitário esteja debilitado e portadores de doenças crónicas (diabetes, doenças pulmonares, doenças renais ou neoplásicas).
A ARS do Norte aproveita para esclarecer no mesmo documento que a pneumonia provocada por legionella pode ser grave, podendo a morte ocorrer em 5-14% dos doentes. A infeção transmite-se por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água (aerossóis) ou, mais raramente, por aspiração de água contaminada com a bactéria. Este microrganismo vive, habitualmente, na água, em ambientes aquáticos naturais, como rios e lagos, podendo contaminar sistemas de água criados pelo Homem, como redes prediais de abastecimento, sistemas de refrigeração, entre outros.
“A doença dos legionários pode ocorrer como casos isolados ou na forma de surtos, sendo mais frequente entre o final do verão e o outono”, conclui.
Esta quarta-feira, em comunicado, a Câmara Municipal de Matosinhos afirma estar “em contacto permanente com a Administração Regional de Saúde e com a Unidade de Saúde Pública de Matosinhos e a aguardar desenvolvimentos”.
“Ontem mesmo fomos informados pela ARS de que existiriam já duas torres de refrigeração identificadas como sendo os focos deste surto e que essas estruturas estariam encerradas. Independentemente do concelho onde se situem estas instalações, o importante é que o foco tenha sido identificado e que esta situação possa, em breve, ser ultrapassada“, acrescenta a autarquia, revelando ter disponíveis “todos os meios necessários para atuar, caso estes sejam solicitados pelas entidades de saúde responsáveis pela gestão do caso”.
A fábrica de conservas Ramirez, em Lavra, Matosinhos, é uma das duas fábricas onde a autoridade de saúde ordenou suspender a estrutura de refrigeração das máquinas. Ao Observador, a empresa confirmou que no final do mês de outubro fez análises de rotina, já previstas, que tiveram resultados negativos, “tal como todo o histórico desde 2015, ano do início de laboração da fábrica”.
“Após a visita da delegação de Saúde, a Ramirez fez, sem intervenção prévia de limpeza, duas novas análises. Uma por meios próprios, outra através de empresa especializada. Ambas foram feitas em laboratórios acreditados distintos. Os resultados foram ambos negativos”, acrescenta a marca na mesma nota.
Artigo atualizado esta quinta-feira, pelas 14h30, com a resposta da fábrica Ramirez.