A presidente da Câmara Municipal de Matosinhos solicitou esclarecimentos à Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e às duas empresas que têm neste momento as suas torres de refrigeração encerradas preventivamente por suspeita de serem o foco do surto de legionella que há três semanas tem afetado alguns concelhos do Grande Porto, nomeadamente Matosinhos, Póvoa de Varzim e Vila do Conde.

Apesar de continuar a aguardar a confirmação oficial, que chegará com o resultado das análises às bactérias encontradas naquelas estruturas, Luísa Salgueiro entende que “é tempo de sossegar as populações que habitam nas freguesias onde se encontram instaladas as torres e na sua proximidade”, uma vez que, considera, “é muito penalizador, principalmente num momento de pandemia como aquele em que vivemos, as pessoas estarem perante esta incerteza”.

A autarca socialista pede, assim, à ARS que “informe as populações sobre os cuidados a ter durante este período e que indique quais as medidas preventivas que foram tomadas e de que forma estas mitigam o risco de infeção e do aparecimento de novos casos”.

Ao Observador, a ARS do Norte adiantou que “irá, naturalmente, responder” ao pedido de esclarecimento por parte da câmara de Matosinhos e revelou que nas últimas 24 horas o número de infetados de legionella na região manteve-se, assim como o número de óbitos. Até ao momento, registaram-se 85 casos e 9 óbitos na região, quatro pessoas continuam internadas no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, 10 no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e três no Hospital de S. João, no Porto.

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O Observador contactou o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, responsável pelo estudo das análises às àguas, que remeteu para as autoridades de saúde locais e regionais – ARS do Norte ou DGS – a “eventual divulgação dos resultados”.

Legionella. Torres de refrigeração de duas fábricas ficam suspensas em Matosinhos. Há 97 casos e 9 mortos

O município de Matosinhos solicitou ainda às duas empresas em causa — Ramirez e LongaVida– os últimos relatórios de manutenção dos equipamentos, assim como informação sobre a utilização intensiva dos equipamentos e o seu horário recente. “Pediu ainda informação sobre que medidas foram tomadas para garantir que estão repostas as condições que eliminam as causas de risco para a saúde pública”, lê-se no mesmo documento.

Em comunicado, a fábrica de conservas Ramirez, situada em Lavra, demarcou-se do surto de legionella no concelho. “Após a visita do delegado de saúde, sem prévia intervenção na torre de arrefecimento, duas análises, em dois laboratórios acreditados e independentes, a MicroChen e Biogerm. Ambos com resultados negativos, atestando a ausência de legionella pneumophila na nossa instalação.”

A empresa revela ainda que esta tarde foi contactada pela ARS do Norte. “Contactou-nos para comunicar e confirmar o que já sabíamos: as análises realizadas à nossa torre de arrefecimento deram resultados negativos, o que iliba a Ramirez de qualquer relação ao surto de legionella. Esta nossa torre de arrefecimento é um benefício ambiental, que permite poupar enormes quantidades de água e energia.”

Segundo a marca, este episódio “espelhou falsas suspeições” e colocou “em causa” o seu “bom nome e o prestígio”. “O que não beneficia ninguém é espalhar falsas suspeições, de falsas e condenáveis origens, pondo em causa o bom nome e prestígio de quem tem o bom hábito de ter as portas abertas ao escrutínio oficial, social e público há 167 anos.”

A ARS do Norte confirmou, em comunicado, que “na sequência do conhecimento do resultado cultural da colheita efetuada para pesquisa de Legionella pneumophila numa torre de arrefecimento da empresa Ramirez, a Autoridade de Saúde da Unidade Local de Saúde de Matosinhos autorizou o funcionamento da referida torre, que já tinha sido submetida, entretanto, a diversos processos de higienização e purga, tendo ainda sido instalado um dispositivo de desinfeção automático”.

Surto de ‘legionella’ no Grande Porto já afetou 85 pessoas. LongaVida desligou torres de refrigeração

A empresa de produtos lácteos LongaVida, também situada em Matosinhos, adiantou ter desligado as suas torres de refrigeração “a título preventivo”. “Cumprindo as indicações da autoridade de saúde e na sua presença, a título preventivo, a LongaVida desligou de imediato as suas torres de refrigeração”, avançou, em comunicado esta quinta-feira.

A LongaVida garante efetuar “todos os controles exigidos por lei às suas torres de refrigeração”, estando a acompanhar de perto o surto em colaboração com as autoridades que se encontram a realizar inspeções nesta área geográfica. Ao Observador, a empresa afirma que “até ao momento não recebeu qualquer informação quanto ao resultado das recolhas realizadas pelas entidades públicas no Centro de Distribuição em Perafita, em Matosinhos”.

A origem do surto de legionella ainda não foi descoberta, mas a ARS do Norte divulgou, na terça-feira, que, “como medida cautelar, a Autoridade de Saúde de Matosinhos procedeu à suspensão do funcionamento das torres de refrigeração de duas indústrias, localizadas no concelho de Matosinhos”, embora sem especificar quais. Sem uma explicação concreta para a dispersão geográfica do surto, a ARS do Norte avançou que a mesma “é compatível com uma eventual fonte ambiental sujeita aos efeitos das alterações climáticas da depressão Bárbara”.

Na semana passada, o Ministério Público anunciou a abertura de um inquérito para investigar as causas do surto.