Nunca como agora foi tão premente refletir sobre o mundo em que vivemos, engendrar novos futuros, exorcizar os medos. Os mais pragmáticos talvez já queiram pôr as mãos na massa, os sonhadores porventura precisam de carregar baterias no reino da fantasia. Mas para todos, o livro pode ser, em tempos de distanciamento, a fonte dos melhores encontros e das mais inesquecíveis e intemporais histórias. Especialmente nesta época que está prestes a chegar, afinal, podemos celebrar o Natal na melhor das companhias.
Temos sugestões para o pai cinéfilo, o tio intelectual ou aquela prima que adora suspense.
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O INTELECTUAL
A Cultura Moderna, Roger Scruton, Edições 70
É o tio que domina o vocabulário mais esdrúxulo e não perde uma oportunidade de exercitá-lo, porventura num entusiasmo proporcional ao número de taças de vinho. Se está bem disposto fica-se pelas laudas ao pudim e panegíricos sentidos aos parentes mais afins. Mas o que o preenche mesmo é a possibilidade de dissertar sobre o enquadramento filosófico de Wagner ou a epistemologia arqueogenealógica de Michel Foulcault. É mais que certo que irá apreciar esta obra polémica de Roger Scruton, um dos mais importantes filósofos britânicos da atualidade (falecido este ano), que aqui ataca ferozmente o pós-modernismo e critica a cultura pop massificada apontando o dedo a fenómenos como os Nirvana, Oasis ou The Prodigy. A alta cultura, sentencia, é o substituto da fé num mundo descrente a que o iluminismo deu lugar. Está feito o ponto alto do Natal. Pelo menos até vir o pudim…
O ARTISTA
Ler Imagens – Em que pensamos quando olhamos para a arte, Alberto Manguel, Edições 70
Estaria Kazimir Malevich a fazer pouco dos espetadores quando criou o célebre quadro Branco sobre branco? O que vem a ser a arte – por natureza inútil dizia Óscar Wilde – talvez interesse pouco aos criativos que assim se expressam porque não podem ser de outra maneira. Mas seja a irmã que pinta, o primo que faz banda desenhada ou a sobrinha que quer ser criadora de moda, é certo que irão gostar das provocações de Alberto Manguel neste livro ilustrado com dezenas de obras de arte. O ensaísta argentino é autor de vários best-sellers internacionais, como o Dicionário de Lugares Imaginários e Uma História da Curiosidade e, curiosamente, foi leitor de Jorge Luís Borges entre 1964 e 1968.
O CINÉFILO
A Propósito de Nada, Woody Allen, Edições 70
Para o irmão que trata a Cinemateca por tu ou simplesmente é um fã inveterado de Woody Allen, este livro de memórias assinado pelo cineasta norte-americano, está à altura dos seus filmes: é hilariante, sincero e cheio de perspetivas surpreendentes. Os bastidores da indústria, as polémicas sobre as suas relações amorosas e as suspeitas de abuso sexual também não ficam de fora. É tão fácil de ler que a prima que adora biografias também irá gostar de certeza.
O INCONFORMADO
Boa Economia para Tempos Difíceis – As melhores respostas para os maiores problemas, Esther Duflo, Abhijit V. Banerjee, Actual
O mundo está cheio de problemas para resolver e há sempre um parente que faz questão de não deixar ninguém esquecer-se disso, mesmo correndo o risco de criar problemas na harmonia familiar. Este é o livro perfeito para todos os amigos ativistas que militam em causas cívicas reais ou para os revolucionários de sofá que exigem mudanças no Planeta à hora de jantar. Escrito pelos economistas premiados com o Nobel, Abhijit V. Banerjee e Esther Duflo, afasta-se dos discursos polarizados, sempre de evitar à mesa, e aponta as soluções mais eficazes para aliviar a pobreza, sair da crise climática ou lidar com a emigração.
O EMPREENDEDOR
Hit Makers – A ciência da popularidade na era da distração, Derek Thompson, Actual
A tia blogger tem de ler, o sobrinho que cria apps para smartphone também. É para o o marido que quer criar uma start up e para a mulher que já tem a loja online. Todos os que querem perceber melhor o mundo atual, mas sobretudo se dependem dos likes, cliques e da compra de produtos e serviços para subsistir, precisam de saber que a mais valiosa moeda do século XXI é a atenção dos outros e que ter qualidade está longe de garantir o sucesso. A psicologia por trás do que gostamos é bem mais complexa do que aparenta neste mundo saturado de informação, diz Derek Thompson. O editor da revista Atlantic revela aqui as dinâmicas económicas do mercado que molda as nossas vidas. Conhecê-las pode fazer toda a diferença.
O ESCLARECIDO
A Verdade Frágil – O que a pós-verdade faz ao nosso mundo comum, Myriam Revault d’Allonnes.
É difícil falhar o alvo com o tema das fake news. Se alguém anda a dormir tem aqui uma oportunidade para sair do nevoeiro rumo a uma vida mais esclarecida. Pela mão da filósofa Myriam Revault d’Allonnes ficamos a perceber o problema das democracias expostas permanentemente à tentação do relativismo e à transformação dos «factos» em opiniões, por contraposição aos sistemas totalitários, em que a ideologia de poder fabrica um mundo inteiramente fictício. Para dar a jornalistas, políticos, leitores de jornais e todos os consumidores de notícias.
O ORGANIZADO
O Dinheiro ou a Vida – 9 passos para transformar a sua relação com o dinheiro e atingir a independência financeira, Vicki Robin e Joe Dominguez, Actual
As finanças pessoais estão na ordem do dia, e a época difícil que vivemos só veio dar razão aos conselhos do avô Jaime sobre a importância de poupar e ter uma reserva de emergência. Mas há quem ponha a fasquia mais alta. O livro de Vicki Robin e Joe Dominguez está na origem do movimento FIRE (Financial Independence, Retire Early) que junta adeptos de um estilo de vida frugal que se focam em poupar muito e investir de forma inteligente com o objetivo de se reformarem mais cedo, idealmente até aos 40. Nesta «bíblia» do movimento, explicam-se os nove passos que lhe permitem saber quanto precisa de juntar para ter a vida que deseja e manter-se motivado até o conseguir. Para dar a todos menos ao avô Jaime (porque gostamos dele).
O AMANTE DE SUSPENSE
As Sete Mortes de Evelyn Hardcastle, Stuart Turton, Minotauro
Uma obra de estreia aclamada pelos amantes do género é a escolha perfeita para oferecer aquela amiga fã de policiais que já leu tudo. E rápido, antes que ela compre. O livro foi traduzido em 28 línguas e já vendeu mais de 200 mil exemplares no Reino Unido. É um misto de Agatha Christie e Black Mirror dizem os críticos. Se ela já leu, ofereça ao avô Jaime.
Agora que já sabe o que pode oferecer a cada membro da família neste Natal, só não pode esquecer de escolher o seu. Afinal o ler é mesmo o melhor presente.