As imagens da invasão do Capitólio, que correram mundo esta quarta-feira, estão a fazer as delícias dos regimes que, de uma forma ou de outra, são vistos como concorrentes dos EUA. Numa declaração transmitida pela televisão, o líder do Irão disse que os incidentes são fruto da “democracia ocidental frágil” e na China um tabloide detido pelo estado chinês fala numa “bonita paisagem”, comparando a manifestação aos protestos em Hong Kong. A Rússia e a Venezuela também reagiram.
“O que vimos acontecer, na noite de ontem, nos EUA mostra, acima de tudo, quão frágil e vulnerável a democracia ocidental é – é um falhanço”, afirmou Hassan Rouhani, o mais vocal e assumido inimigo geopolítico dos EUA.
Já na China, através do Twitter, o jornal Global Times foi menos direto – preferindo uma abordagem sarcástica e apontando para o que a publicação considera ser um cenário irónico. “A líder da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi um dia referiu-se aos protestos em Hong Kong como uma ‘linda visão’ – será que também diz o mesmo acerca dos acontecimentos em Capitol Hill?”, questionava o jornal chinês (dependente do estado) justapondo imagens dos dois acontecimentos.
Mais tarde, porém, o mesmo jornal fez um novo tweet onde salienta que um porta-voz do governo chinês fez saber que é “desejo” dos responsáveis políticos chineses que os “americanos possam viver com paz, estabilidade e segurança”. Ainda assim, esse mesmo responsável salientava que as pessoas deviam “refletir” sobre a diferença de tratamento (mediático, mas não só) que foi dada aos dois acontecimentos.
In response to reports on riots in US, China hopes that Americans can enjoy peace, stability and security as soon as possible, Chinese FM spokesperson said, urging people to reflect on why some people and media in US gave different narrative on social turmoil in Hong Kong in 2019 pic.twitter.com/AZYh6Z0AAa
— Global Times (@globaltimesnews) January 7, 2021
As reações internacionais não se ficaram por aqui, porém. Também através de um órgão de comunicação estatal, o RT, na Rússia foi publicado um artigo editorial onde se sugere que os acontecimentos em Washington eram, no fundo, algo que já se adivinhava e que as autoridades norte-americanas são, elas próprias, as culpadas pelo que estava a acontecer.
“Estão a ver o que fizeram? Estamos a ver os EUA a receberem o tipo de ‘democracia’ que gostam de propagandear no exterior”. Em concreto, esse editorial acusava os EUA de terem “denunciado como ilegítimas as eleições na Bielorrússia e na Venezuela”.
Ora, da Venezuela também veio uma reação, que o regime quis transmitir como uma chapada de luva branca. O ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano, Jorge Arreaza, expressou “preocupação” com os “atos de violência” vistos em Washington – mas continuou: “neste episódio lamentável, os EUA mostram sofrer dos mesmos problemas que provocaram noutros países, através das suas políticas de agressão”.