Cientistas identificaram um tipo de células imunitárias nos pulmões que melhoram as defesas contra o vírus da gripe, uma descoberta que poderá potenciar o desenvolvimento de vacinas de longa duração contra vírus com mutações rápidas, foi divulgado esta sexta-feira.

Investigadores da Universidade da Basileia, na Suíça, onde o trabalho foi realizado com ratos, admitem que estas células podem desempenhar um papel idêntico contra uma reinfeção por outros agentes patogénicos que causam doenças respiratórias.

A Covid-19, que se tornou uma pandemia, é uma doença respiratória provocada por um novo coronavírus, o SARS-CoV-2. Desde que apareceu, os cientistas identificaram no SARS-CoV-2 várias mutações, a maioria sem consequências, mas algumas podem fazer com que o vírus se torne resistente e seja mais contagioso. Em outubro e novembro foram descobertas duas variantes do SARS-CoV-2, uma na África do Sul e outra no Reino Unido, respetivamente, que apresentam uma mutação (alteração genética fruto da replicação do vírus aparentemente mais transmissível.

Na experiência feita com ratos, cujos resultados foram publicados esta sexta-feira na revista da especialidade Science Immunology, os investigadores da Universidade da Basileia verificaram nos tecidos do pulmão que um grupo de células imunitárias auxiliares (células T auxiliares) melhora a resposta à reinfeção por uma estirpe diferente do vírus da gripe, o que, em seu entender, pode perspetivar o desenvolvimento de uma vacina contra a gripe mais duradoura.

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O vírus da gripe muda constantemente e, por isso, a vacina é diferente cada ano.

No caso da Covid-19, a questão de quanto tempo dura a imunidade contra o SARS-CoV-2 – seja a adquirida artificialmente através de uma vacina, seja a obtida naturalmente depois de uma infeção primária – continua em aberto. A memória imunológica – na qual interagem células imunitárias, anticorpos e substâncias de sinalização – é o que permite ao corpo lutar contra agentes patogénicos (vírus, bactérias, parasitas…) conhecidos de forma rápida e eficiente.

No estudo publicado esta sexta-feira, e citado em comunicado pela Universidade da Basileia, os seus autores descrevem dois tipos de células T auxiliares nos tecidos pulmonares. Um deles liberta substâncias sinalizadoras em caso de reinfeção para capacitar outras células imunitárias de “armas” mais mortíferas no combate a um patógeno. O outro tipo, anteriormente considerado ausente dos pulmões, auxilia as células imunitárias produtoras de anticorpos (células B). A presença deste tipo de células auxiliares na proximidade das células B levou a uma resposta imunitária mais eficiente contra uma variante do vírus da gripe, asseveram os autores do estudo.

Para David Schreiner, coautor do artigo e investigador no Departamento de Biomedicina da Universidade da Basileia, “estas células T auxiliares podem ser um ponto de partida interessante para vacinas contra a gripe de longa duração”, podendo ser possível, por exemplo, reforçar as vacinas com agentes que promovam a formação destas células imunitárias auxiliares, que migram para tecidos de órgãos como os pulmões.